Quem viveu aqueles tempos de repressão, em que o regime militar impunha censura aos meios de comunicação, lembra dos censores: aqueles que analisavam notícias de jornal, entrevistas, matérias literárias, letras de músicas, textos de teatro, filmes e outros julgando-os se podiam ou não ser divulgados ao público. Eles impunham restrições de fora. Tinham leis que lhes garantiam esse poder. Se não fossem obedecidos, podiam contar com a força policial, a fim de recolher publicações e prender autores e responsáveis. Comportavam-se como uma espécie de consciência da sociedade. Através deles, o governo protegia seu próprio poder, inibindo a criação de idéias, que pudessem ameaçá-lo de qualquer forma.
Desde crianças,
fomos ensinados a distinguir o certo do errado. Nossos pais nos censuravam
quando íamos fazer algo que pudesse nos prejudicar ou contrariasse o que
queriam. Diziam: “não faça isso...!”, “não responda dessa maneira...!”, “faça
do jeito que estou falando...!”. Fomos criando normas dentro de nossas mentes.
Podemos chamar de censores a essas vozes, em nós introjetadas, e que costumam
vir à tona, toda vez que surge alguma suspeita de que vamos fazer o que não
devemos.
A existência e
presença desses censores internos não é negativa. Através das repressões que
eles exercem muitos males são evitados, principalmente na infância e na
adolescência. Com o passar dos anos, as normas impostas necessitam de serem
reavaliadas e modificadas. Os acontecimentos e experiências fazem ampliar o
entendimento de tudo o que se pode ou não se pode fazer. Os julgamentos ganham
novas dimensões, chegando a pontos mais distantes.
No entanto, uma
é nossa capacidade racional, outra é nossa capacidade emocional. Toda vez que
nos encontramos inseguros, tendemos a regredir. Nossa emoção acaba falando mais
alto do que nossa razão. Voltamos a nos impressionar com o som das vozes de
nossos censores internos. Ficamos reféns deles. Somos dominados por eles. Uma
palavra, um olhar, já é capaz de tirar nosso sentido de estabilidade emocional.
Deixamos de pensar com nossa própria mente e convicções. Somos dominados por
nossos censores como uma criança indefesa.
Por alguma razão
que não sabemos bem qual seja, transferimos para algumas pessoas aqueles mesmos
poderes que tinham nossos pais sobre nós. A presença dessas pessoas, seus
olhares e palavras, fazem desencadear em nós sentimentos fortes, que nos
dominam e dificultam que assumamos nossa vida, apoiados em nossos próprios
pensamentos e valores. Não vivemos a plenitude de nossa condição adulta, com
mais versatilidade para nos posicionarmos frente aos problemas do dia a dia.
Postado por José Morelli
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