segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Teoria e prática

 O poço formado pelas águas do Pirutinga, um ribeirão que descia através de grandes e escorregadias pedras desde os altos da Serra da Mantiqueira, era uma espécie de piscina natural com algumas poucas partes mais rasas, sobre pedras, e outras que não davam pé, principalmente àqueles de menor estatura. A água, mesmo nos dias mais quentes, era sempre bastante gelada. De acordo com um costume instituido, era nesse poço que os alunos mais antigos jogavam os recém-chegados com o intuito de “facilitar-lhes” a aprendizagem de nadar. Não havia alternativa: ou se aprendia ou se aprendia. A maioria dava conta do recado, não precisando de nenhum socorro dos mais velhos. O aprendizado se dava na prática. Depois do susto, o desespero era sucedido por movimentos mais controlados que permitiam o direcionamento até as margens ou partes mais rasas do poço.

Para medir o aprendizado das fórmulas matemáticas, explicadas pelo professor em sala de aula, este dá como lição de casa alguns problemas que, para serem solucionados, exigem a aplicação daquelas mesmas fórmulas. Neste caso, o aprendizado é construido a partir de fora, devendo se consolidar sobre uma condição básica de maturidade intelectual e emocional, já presente dentro do aluno.

Toda construção teórica tem como fundamento alguma prática. As teorias se constituem como caminhos que levam à consecução de algum objetivo. A ação concreta dá elementos para que as teorias se reformulem constantemente. A vida se assemelha a um imenso laboratório, onde se realizam experimentos constantes, que permitem o vislumbre de novos e diferentes caminhos ou teorias.

Teoria e prática se completam. Ambas têm seu próprio papel a cumprir. No próprio viver, ninguém pode ser apenas teórico ou apenas prático. A mente elabora, mesmo que intuitivamente ou de forma inconsciente, algum planejamento às ações que pretende concretizar. Qualquer prática pode ser observada por diversos ângulos de visão. Quem se encontra dentro de um problema, permanece exposto ao mesmo como que no meio de um redemoinho. Das trocas com alguém que se encontra de fora, é possível associar à própria capacidade uma nova base de segurança, adquirir um novo aprendizado, edificar uma nova estrutura, um crescimento que se dá a partir das interações entre teorias e práticas, entre indivíduos que, generosamente, trocam entre si suas melhores intenções e capacidades.   

Postado por José Morelli 

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