domingo, 31 de janeiro de 2021

Como funcionam os sentimentos?...

 Bem ou mal comparando, podemos dizer que os sentimentos funcionam como o clima. Os sentimentos são um clima interior. As condições do tempo nos atingem de fora pra dentro, provocando, facilitando ou dificultando nossas ações. Se é frio ou calor, se o ar é úmido ou seco, se a pressão da atmosfera é alta ou baixa variam nossas sensações físicas. Os sentimentos de alegria, de tristeza, de angústia, de ansiedade, de ciúmes, de inveja, de raiva ou qualquer outro, da mesma forma, influenciam em nosso ânimo e em nossas ações, podendo provoca-las, impedi-las, facilitá-las ou dificultá-las em sua execução.

Podemos, também, comparar os sentimentos com o pano de fundo de um palco: as figuras, as cores, a intensidade das luzes representam o ambiente em que se desenvolvem as cenas. As tonalidades das cores, simbolicamente, representam as emoções que devem ser provocadas na plateia. A montagem de um teatro, de uma coreografia, de um show, exige arte na escolha das cores no cenário e da iluminação, capazes de suscitar emoções de acordo com o sentido da música, da ação ou do texto. Funcionam como agentes externos, capazes de mobilizar sentimentos.

Os acontecimentos do dia a dia são estímulos desencadeadores de emoções. Eles podem ser ações, palavras, sons, perfumes, sabores, etc. Desde que cheguem à nossa mente, instantaneamente, buscamos significados para eles, encaixando-os de acordo com alguma lógica de entendimento. Nessa busca, relacionamos esses acontecimentos a outros, antigos ou recentes, guardados em nossa memória. A fantasia faz associações e imagina coisas, até aparentemente disparatadas. Como resultado de todos esses processos mentais surgem os sentimentos.

Situações vividas e que não temos como conscientes, também podem servir a esses processos mentais, tornando mais difícil a compreensão da origem e fonte de onde emanou o sentimento. É por isso que não entendemos como fatos em si mesmos insignificantes, podem provocar emoções tão fortes e tão incômodas, que nos impactam tanto.  

Podemos ter apenas certo domínio dos processos que regem o funcionamento das emoções em nós. Não será possível termos um domínio total e isso nem seria bom. Perderíamos a espontaneidade e tudo se tornaria frio e calculado, sem riscos, mas também sem nenhuma vibração e/ou adrenalina. 

Postado por José Morelli 

 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Com que tintas?...

Essa deveria ser uma pergunta que todos nós, tranquilamente, deveríamos fazer ao vermos imagens de indígenas brasileiros, com seus rostos e corpos sofisticadamente pintados. Certamente, eles não nasceram assim, tão coloridos, como se apresentam em fotografias e em filmagens que despertaram e despertam a atenção de muitos, seja aqui no continente americano seja em terras de além mar. Os europeus dos tempos pós-descobertas, tinham imensa curiosidade de saber a respeito da vida vivida pelos silvícolas brasileiros, bem como de seus costumes e tradições.

O conhecimento das tintas pelos indígenas remonta a tempos imemoriais. Ao contrário do que se ouve dizer, a arte indígena não pode ser vista como pouco elaborada. A partir da observação da natureza, esses povos primitivos representam formas geométricas que, pela variação de tamanho, manifestam ritmo e equilíbrio, sendo que cada tribo tem o seu próprio estilo.  Quanto à fabricação das tintas, utilizando-se de sementes de plantas, tais como as do urucum, as do jenipapo e as do urucuzeiro, esses povos produzem uma tinta natural que não prejudica a própria pele, como acontece nas tintas fabricadas com agentes químicos industrializados. 

As pinturas corporais são apenas um dos elementos constitutivos da cultura indígena. Há uma sabedoria, apreendida em séculos de convívio harmônico com a natureza, que engloba um conjunto valioso de saberes, que muito pode contribuir na busca de caminhos a serem trilhados pela humanidade, em todos os tempos.

Quando o indivíduo é bem resolvido em sua própria identidade, ele é capaz de se confrontar com outras identidades sem grandes problemas. Se a diversidade não for vista e sentida de maneira positiva, ela não poderá ser compartilhada em suas riquezas e, consequentemente, restará apenas o fechamento de cada povo em si mesmo e em seu próprio egoísmo e em seu próprio egocentrismo. A humanidade se distanciará de seu mais fundamental desenvolvimento.

Postado por José Morelli

 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

"Bem-estar"

 Estar e perceber-se bem. Sentir-se confortável, sem incômodos que impeçam a própria vida de ser reconhecida como estando satisfeita em seus desejos. Fazer o que deve ser feito de maneira fluida, prazerosa. Dar-se o descanso sem se fazer cobranças de não parar de produzir nenhum instante. Dormir um sono leve e reconfortante. Permitir-se sonhar sonhos bons e agradáveis. Levantar de manhã cedo, podendo sentir o frescor do dia que nasce. Estes e outros “bem-estares” merecem ser desejáveis? Constituem-se como um direito legítimo e mesmo necessário à vida de qualquer pessoa ou seriam eles um privilégio concedido apenas a alguns poucos eleitos da sorte?

A resposta a estas perguntas se encontra na própria natureza humana que, por sua contingência material, embora represente oportunidade, não deixa de impor limites a suas possibilidades. A matéria, constituindo-se também como tempo e espaço, é a base sobre a qual se sustenta qualquer realização humana. Na maior parte das pessoas, felizmente, parece existir certo equilíbrio entre as situações que geram sensações de bem-estar e mal-estar. Em outras, em número menor, se observa o predomínio de situações e de sensações de bem-estar. Por fim, há um terceiro grupo de pessoas não tão numeroso, em que predominam sensações incômodas de mal-estar.

É voz comum que, por sua utilização, o cachimbo deixa torta a boca de quem dele faz uso constante. Assim também o predomínio de situações e de sensações de mal-estar tende a tornar crônica essa sensação.  O mesmo se pode dizer a respeito daqueles em que predominam sensações positivas de bem-estar, sensações estas que podem levar a dificuldades de aceitação da realidade em seus aspectos mais difíceis de serem enfrentados.

Seja qual for a qualificação das situações e das sensações, prazerosa ou dolorosa, importa sobremaneira que cada um aprenda a lidar com as próprias percepções temperando-as com objetividade em seus juízos e compreensões. Os juízos que delas são feitos pela mente de cada indivíduo podem ou não ajudar na forma de administrá-las. A capacidade emocional de suportá-las se desenvolve na medida em que são feitas constatações, que ajudam no dimensionamento mais aprofundado da realidade em seu todo.

Postado por José Morelli

 

  

 

 

domingo, 3 de janeiro de 2021

Casa & Terreno

Inúmeros são os testemunhos de que a casa, situada no número 80 da Rua Dr. João Ribeiro, esquina com Major Ângelo Zanchi, foi a primeira no histórico bairro da Penha de França construída em alvenaria. Nela morou Dona Catarina de Albuquerque. Sua localização ocupa o chamado Centro Histórico da Penha. Anos atrás, em uma entrevista dada a este jornal, Dona Catarina, já com idade muito avançada, testemunhou ter participado de uma recepção ao Imperador Dom Pedro II, juntamente com sua esposa, a Imperatriz Teresa Cristina, tendo, ela e outras meninas, jogado pétalas de rosas sobre o casal, no interior da Igreja de Nossa Senhora da Penha.

No quintal desta mesma casa havia uma nascente de água potável. Em um passado não tão recente, algumas pessoas fizeram um teste para verificar se a água que por ali passava e passa era a mesma que também jorra no Clube Esportivo da Penha. Jogaram um corante dentro do poço e foram ver se a água colorida chegaria àquela nascente. A experiência não comprovou a hipótese presumida.

Hoje, as condições de preservação do imóvel se encontram precaríssimas. O quintal, embora tenha sido todo recoberto com um piso de cimento, nem para estacionamento vem sendo utilizado.

Nos folhetos promocionais que divulgam vendas de apartamentos em prédios, na Penha, é comum encontrar o apelo da historicidade do bairro. É um glamour a mais a tradição de tantos anos com tantos acontecimentos relevantes, garantia de que a vida aqui vai continuar sendo tão generosa aos seus futuros moradores como o foi para as gerações passadas.

A fim de que não se fique apenas no discurso, vale propor que sejam feitas ações concretas no sentido de recuperar esses e outros bens históricos que ainda restam no bairro. A retirada do piso e o replantio do verde no quintal acima referido, faria com que a nascente voltasse a prover as pessoas com seu precioso líquido, um exemplo eloquente de cuidado pela natureza e de amor às futuras gerações.

Postado por José Morelli