terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Acumuladores compulsivos

Em dois momentos da vida podemos ter a sensação de que detemos poder em nossas mãos, relativamente ao que fazemos com o dinheiro: o primeiro é quando o ganhamos, com nosso trabalho e o segundo é quando adquirimos bens de natureza material, ao ponto de o fazermos de maneira descompromissada, compulsiva, incontida.

O fato é de que não é difícil acontecer de nos tornarmos vítimas de nossas próprias compulsões; isto é, de nossos impulsos incontrolados de comprar, gerados por uma sensação interna de carência afetiva, da qual não conseguimos nos libertar facilmente, o que nos leva a acumularmos sempre e cada vez mais, irrefreavelmente.

Se a compulsão é de comprar a fim de podermos dizer, a nós mesmos e aos outros, que o bem adquirido é nosso, propriedade nossa, isto já pode ser suficiente para que este deixe de ser reconhecido na importância que, antes de comprado, parecia ter. Assim, ao chegarmos em nossa casa, ele é simplesmente colocado num armário qualquer e ali esquecido.

Se a compulsão é de acumular bens, estes vão sendo comprados um a um ocupando os espaços de que necessitam. Primeiro, ocupam os interiores dos guarda-roupas, depois as partes superiores deles. Com o passar do tempo, vão ocupando também as mesas, em cima e em baixo, as cadeiras e, por fim, o chão. Entulhados, eles passam a impedir a locomoção nas passagens de um cômodo para o outro.  

Excessos acontecem relativamente aos bens materiais, à comida, à bebida. Estas e outras compulsões têm em comum algum comprometimento neurótico, uma exacerbação do sistema nervoso. Conceitos, sentimentos e sensações, fantasias exercem domínio sobre nossas vidas. Confundimo-nos quanto à imagem de nós mesmos com que nos construímos em nosso imaginário, embaralhando-nos pelo que somos e/ou pelo que temos.

Postado por José Morelli