domingo, 25 de novembro de 2018

Defesas corporais e psicológicas

O organismo humano precisa de anticorpos que lhes sirvam como defesas contra gripes, viroses e outros tipos de infecções. Na medida em que um indivíduo mantém contato com o seu meio ambiente, vão sendo estabelecidas trocas entre ambos, que tendem a adequar um ao outro, dando-lhes condições de melhor interação e convivência. A criança que, desde os seus primeiros meses de vida é exageradamente protegida nos contatos com os micro-organismos, que proliferam em seu meio externo, não consegue desenvolver defesas contra muitos desses intrusos que, de inimigos podem e devem se transformar em seres menos nocivos.

O medo exagerado de contágio que leva os pais a adotarem posições extremadas quanto à proteção da criança frente ao mais leve vento, à mínima exposição ao sol, criando-lhe aversão de mexer na terra com as mãos ou de pisar com os pés descalços no chão, essas e outras restrições impedem-na de formar, no próprio corpo, um sistema de defesas capaz de protegê-la verdadeiramente. É mediante enfrentamentos com o meio que se estabelece a dinâmica que permite a formação dos processos de desenvolvimento das defesas corporais de humanos e irracionais.

Quanto às defesas psicológicas dos seres humanos, estas também se desenvolvem a partir das interações que estes estabelecem uns com os outros, com os fenômenos naturais e com as coisas em geral, cada uma com os significados que a mente vai lhes atribuindo. Da mesma forma como acontece nas defesas corporais, toda e qualquer proteção exagerada pode ter consequências negativas. É preciso acreditar na capacidade auto-regenerativa tanto do organismo físico como da capacidade mental/emocional das pessoas, quando em suas condições normais (saudáveis) de desenvolvimento.

O contato natural com o meio ambiente permite uma assimilação gradativa das condições adversas presentes no mesmo. As capacidades humanas vão, pouco a pouco, se desenvolvendo no sentido da superação, adaptando-se física e mentalmente. A visão com que cada indivíduo se percebe e ao mundo que se encontra à sua volta não pode ser apenas negativa, geradora de medo. É importante que as experiências concretas, vivenciadas no dia a dia, permita à maior parte das pessoas que essa estruturação se construa a partir de constatações que inspirem sentido positivo à própria vida, à vida dos outros e à vida do planeta que é o habitat comum de todos nós, seres humanos.  

Postado por José Morelli      
  

sábado, 17 de novembro de 2018

Manifestações inadequadas do amor (do bem querer)

É aquele lance do não dar o braço a torcer, expondo-se na própria vulnerabilidade afetiva. Não dar demonstração da importância que o outro ou outra realmente possui no pensamento e no coração; como se as manifestações afetivo-carinhosas do amor denunciassem fraqueza ou ingenuidade e, por isso, fossem incompatíveis com a realidade dura e “sem frescuras” da vida adulta, com senso de responsabilidade frente às imperiosas necessidades da vida em sociedade.

Pouco a pouco, o dia a dia dos casais tende confrontá-los com realidades sem disfarces. No imperativo de darem respostas a essas realidades, criam sistemáticas que lhes permitam respostas eficazes às demandas das mesmas. As atenções a serem prestadas são muitas: a manutenção da casa, o trabalho de cada um, os negócios, os filhos, os parentes de um lado e de outro, a vida social... Essas e outras necessidades competem com a da atenção do casal, através do afeto mútuo, que é, sem dúvida, uma das manifestações adequadas do amor, embora não seja a única.

Quando não deixam espaço a essa dedicação, as atitudes tendem a se transformarem. Tornam-se mais frias e ríspidas, aparecem as críticas que se expressão em queixas e censuras. O egoísmo cresce e, com ele, o individualismo de um para um canto e outro para outro canto.

O medo e o amor próprio fazem com que fiquem disfarçando o tempo todo. Embora exista nos mesmos o propósito de viverem juntos até o fim da vida, vão deixando o tempo passar, tempo único e precioso que não tem retorno. Perdem-se, assim, na competição entre o amor próprio e a manifestação do amor para com o outro, sem se darem conta de que esta forma de agir é mesmo um “feitiço que se volta contra i o próprio feiticeiro”.

Não fazendo uso de manifestações de afeto positivo, o amor não cresce nem se desenvolve a contento. Medíocre e atrofiado, ele não permite correr riscos: mas, por outro lado, também, não traz nem satisfação nem alegria de viver. É a vitória do medo, com suas fugas estratégicas, sobre a coragem de assumir e assumir-se.  

Postado por José Morelli

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Projeções

Eu me projeto, tu te projetas, ele se projeta, nós nos projetamos, vós vos projetais, eles se projetam. Projetar-se é o mesmo que mostrar-se, revelar-se, exteriorizar-se ou, de acordo com a etimologia da palavra projeção, lançar-se para fora. Mostramo-nos através daquilo que dizemos ou fazemos. Através de nossos gestos e expressões faciais, manifestamos e mostramos os sentimentos que se encontram presentes em nosso íntimo. Projeções são exteriorizações. “A boca fala daquilo que o coração está cheio”, assim adverte a Bíblia Sagrada em um de seus ensinamentos.

O detector de mentiras é um equipamento utilizado pela polícia investigativa para descobrir, mediante aquelas projeções que fogem do controle do suspeito, se ele, ao responder às perguntas que lhes são feitas, está ou não mentindo. Mesmo quem mente com convicção, não consegue controlar todas as suas mínimas manifestações.

Por mais seguro que o jovem procure aparecer diante da garota por quem está apaixonado, é normal que algum pequeno deslize de seu comportamento, o denuncie de que não se encontra tão seguro e tranquilo como tenta transparecer.

Não só as ações projetam o que se passa no interior de cada pessoa, as omissões também, talvez com menos clareza e mais ambiguidade, isto é, deixando mais margem de dúvidas quanto às verdadeiras razões, que se escondem no coração. Geralmente, a contenção da comunicação, revela o lado que o indivíduo menos gosta de si e em si: sua timidez, seu orgulho e sua falta de aceitação pessoal, comprometendo-se em sua auto-estima e realização.

A repetição dos mesmos assuntos nas conversas é uma forma de projeção. Quem fala só de si mesmo ou do próprio trabalho, só de dinheiro, só de futebol ou só de religião, fecha-se nos assuntos de sua convergência. Não vê e nem ouve o mundo e os outros que estão à sua volta, reconhecendo-os e valorizando-os em suas importâncias. Com isso, impede-se de aumentar e desenvolver o alcance de suas capacidades.

Postado por José Morelli