quinta-feira, 19 de agosto de 2021

LIVRE-ARBÍTRIO

 A ideia de livre-arbítrio tem seus fundamentos na própria natureza humana. Por sua racionalidade, os seres humanos, possuem conhecimento e consciência de si mesmos e das realidades que os envolvem. Possuem, ainda, a capacidade de escolher e decidir sobre o que devem ou não fazer. Por fim, conseguem ser criativos, inovando na busca de seus caminhos.

Já com os animais irracionais, isso parece não ocorrer, pelo menos, com a mesma frequência e intensidade. Suas vidas são regidas pelo instinto. As abelhas, por exemplo, ao construírem suas colmeias, com tanta perfeição, agem como se fossem programadas, a partir de um condicionamento, imposto por sua própria natureza a milhões de anos. Com as plantas, observa-se o mesmo. Desenvolvem-se regidas por leis, que as mantém sempre da mesma espécie. Alguns minerais, também, são formados por uma força de atração, que reúne seus fragmentos, dando-lhes formas peculiares.

Embora o livre-arbítrio dos seres humanos seja um consenso no mundo inteiro, garantido formalmente pelas constituições da maior parte dos países, o grau de liberdade de cada pessoa é relativo e não absoluto. Uma série de condicionantes incidem sobre cada uma delas, interferindo em suas decisões, podendo limitar sensivelmente o sentido de sua autonomia e liberdade.

A capacidade de discernimento das pessoas nem sempre lhes proporciona uma clarividência absoluta, propiciando-lhe que não tenha dúvidas, quanto ao que escolhe fazer. As possibilidades que lhes são oferecidas, grande parte das vezes, não incluem, exatamente, aquilo que gostariam de escolher. O que ocorre, com mais frequência é que, não podendo eleger o ótimo, resta-lhes, que se contentem em escolher o bom. E se, ainda, não lhes é possível o bom, que saibam aceitar, de boa vontade, o regular. Só dessa forma que o ótimo não se tornará inimigo do bom e que o bom não se tornará inimigo do regular. 

Buscar reconhecer-se no próprio direito ao livre-arbítrio, dimensionando-o em seu alcance e em seus limites é um caminho de amadurecimento para todo ser humano, consciente desta sua dignidade.

Postado por José Morelli

 

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Manifesto e Latente

 Manifesto é aquilo que projetamos, de nós, para fora. Latente é o que, de nós, procuramos esconder aos outros, impedindo que apareça. Tanto o manifesto, como o latente faz parte de nossa maneira de ser completa. São como faces de uma mesma moeda.

Se quisermos ser bons e honestos, o que permite orientarmos nossa vida através desses preceitos é o sentido que trazemos do que não é bom e honesto, para nós, e do que não o é. Tentamos fugir de tudo o que tem características de maldade e de desonestidade. Na forma de ideias, estão, em nosso pensamento, o bem e o mal. Em nosso sentimento, essas ideias que, por qualquer movimento mais brusco, podem trincar e mesmo quebrar-se.

Na medida em que fortalecemos o pensamento, aprofundando o sentido das coisas e encaramos os próprios sentimentos, reconhecendo-os na força e na fragilidade que lhes são próprios, desmascaramos e desvendamos a ambivalência que existe em nós.

Policial e bandido se complementam em suas funções. Ao primeiro cabe agir de forma a inibir e coibir a ação do bandido, considerada como um mal para a sociedade. O bandido procura ludibriar o policial o quanto lhe é possível. O que é manifesto em um está latente no outro e vice-versa. O bom policial, no seu outro lado no seu latente, tem que ser tanto ou mais esperto na malandragem, na arte da maldade, do que o bandido, para poder superá-lo.

Muitas vezes, o incômodo que sentimos por certos defeitos em outras pessoas, se deve, justamente, a esse tipo de semelhança. No latente, esses defeitos nos ameaçam, nos dão medo. A forte ligação emocional de repulsa e o nosso inconformismo fazem com que nos incomodemos tanto: Somos demais parecidos com aqueles ou aquelas com quem não queremos nos assemelhar.  

Postado por José Morelli