segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Para pensar e sentir

 Uma realidade próxima de cada um de nós é o corpo em que nos constituímos. Com ele, espírito forma uma unidade indissociável. Sentir a integração entre mente e corpo, numa harmonia possível, corresponde à realidade da vida humana terrena. Os significados que atribuímos ao nosso corpo, pelo que ele é para nós, no seu todo e em suas partes, devem ser positivos, colocando-nos para cima, energizando-nos e animando-nos.

O sentido de “eu”: (meu/nosso) é atribuído a cada membro de nosso corpo. Olhemos para nossas mãos, sintamos como nelas nos encontramos e nos reconhecemos. Concentremo-nos tranquilamente, com o nosso pensamento, e procuremos perceber a sintonia que elas possuem com o nosso ser total: corporal e mental. Como devem ser nossos pensamentos e sentimentos para que associem nossas mãos a ideias positivas e não só estranhas aos nossos entendimentos.

De nossas mãos, passemos a atentar para outras partes que constituem nosso corpo: braços; pernas; barriga; peito/pulmões/coração; pés; ombros; cabeça; costas; pescoço; boca/olhos/nariz/orelhas; genitais; etc...

Quanto mais coragem tivermos para reconhecer-nos em nossas consonâncias e dissonâncias entre nosso “eu” e as formas e funcionamentos de cada uma de nossas partes, melhor será a integração conosco mesmo. É o “eu” que estabelece o sentido da união entre as partes e o todo. Somos esse conjunto existencial. As ações de todas e de cada de nossas partes são atribuíveis ao nosso “eu” inteiro. É através de nosso corpo que nos relacionamos com os corpos e almas dos outros.

É pela consciência que nos dimensionamos na integridade de nosso ser corporal e espiritual. Possuímo-nos, integramo-nos em nossa identidade/personalidade, permitindo-nos assim que estabeleçamos trocas, dando-nos de nós mesmos aos outros e recebendo dos outros aquilo que deles ou delas podemos agregar em nós - sem nos confundir-nos. Distinguindo-nos pelo que efetivamente somos e temos e pelo que os outros, efetivamente têm e são.

Postado por José Morelli 

"Para quem vier!"

 As pessoas costumam dizer que “a festa é para quem vier!”- No caso presente, não se tratava exatamente de uma festa, mas sim de uma palestra realizada no último domingo, dia 17 de setembro, às 15h00, como fora divulgado através deste jornal: “Palestra sobre AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) - a ser proferida pelo Dr. Marcelo Serpieri, doutor em medicina pela USP.

O palestrante mostrou com clareza que, até o momento, a maneira mais eficaz de combater a AIDS é a informação. Por isso, sua palestra consistiu de informações e explicações de todos aqueles dados que, desde 1982, vinham sendo coletados pelos cientistas e pesquisadores do mundo todo.

Embora se tratasse de um assunto complexo, a exposição foi feita de maneira acessível para que, tanto os adultos como os adolescentes e jovens presentes, pudessem acompanhar e entender.

Saber e reconhecer onde e como se encontram os perigos de contaminação e como evita-los ou contorna-los gera segurança. A ignorância, o medo e a insegurança não ajudam. Os números estatísticos mostram que a AIDS é um flagelo deste nosso tempo, assim como outros, que assolaram o mundo em épocas passadas: a febre amarela; a varíola; a gripe espanhola.

Resumidamente, a palestra permitiu aos participantes conhecerem melhor sobre: a natureza da doença; o vírus transmissor – o HIV ; os grupos de risco; os testes para diagnóstico; as fases de evolução da doença; o tempo para manifestação da síndrome; as infecções oportunistas; os riscos de contágio; os meios de preveni-los.

Houve oportunidade para perguntas. Através destas, o tema ficou mais adaptado aos participantes. Aspectos do interesse deles surgiram e puderam ser discutidos e aprofundados. Sem desconhecer o caráter realístico duro do assunto, a opinião geral foi de terem gostado da forma como se deu a palestra. Foi um ato de coragem olhar e encarar o tema, que tanta influência traz para os relacionamentos interpessoais.

O surgimento da AIDS não deve impedir os relacionamentos íntimos entre as pessoas, fazendo com que passem a ser vistos como ameaças de morte iminente. Os valores positivos e construtivos – a “festa” de as pessoas se proporcionarem prazer, sem culpa, deve prevalecer  em nossos pensamentos e sentimentos.  (Ano de 1986).

Postado por José Morelli

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Nossa Senhora da Penha de França: expressividade da Fé

 Diferentemente das localidades em que se encontram igrejas de Nossa Senhora da Penha, seja no Rio de Janeiro seja na cidade de Vitória, no Espírito Santo, cujas topografias se caracterizam como cumes de montanhas, a da cidade de São Paulo se encontra a meia encosta da colina, como costumava dizer o eminente historiador penhense, de saudosa memória, Dr. Sylvio Bomtempi. A fim de deixar um registro, de próprio punho, sobre a Penha dos primeiros anos do século passado, o Padre António Benedito de Camargo, vigário da paróquia por longos 55 anos, consignou no Livro do Tombo, em 25 de agosto de 1905, o seguinte:

“edificada sobre um alto, num descampado inteiramente plano, onde sopram todos os ventos, que fazem trazer a população isente de moléstias. É esta procurada continuamente por convalescentes, espécie de sanatório onde têm eles saído sãos, robustos, cheios de vida. É raro, por isso, aparecer entre os habitantes daqui moléstias de caráter grave”.

Dada a posição em que se encontrava e se encontra o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, voltado para o centro da cidade,  o arcebispo de São Paulo, à época, Dom Duarte Leopoldo e Silva, insistia junto aos padres redentoristas de que o lugar onde seria construído o novo santuário (hoje basílica) deveria permitir que o mesmo fosse visível à cidade e que, deste, a cidade pudesse ser vista e protegida pelo olhar atento de Nossa Senhora. 

Para melhor aquilatar o tipo de experiência dos que vinham para as antigas festas da Penha, vale recordar a descrição da festa em 1918, contada no romance “Menino Felipe – Primeira Viagem”, de Afonso Schmidt:

“Os trens partiam superlotados da Estação Norte. Pela estrada de rodagem da Penha, formavam-se cortejos de carroças cobertas de ramos verdes, enfeitadas de bandeirolas de papel de seda. Quando chegavam à subida do santuário, os romeiros deixavam os veículos à porta das vendas (próximo à passagem do Aricanduva), botavam um feixe de capim diante dos burros e galgavam a ladeira, à pé, conduzindo grossas velas de cera... A estação encontrava-se a meio quilometro de distância, num corte praticado na colina, à chegada de cada trem, era uma algazarra. Roceiros vendiam canas, batata doce assada, cuias de garapa e tigelinhas de quentão. Depois, os grupos se punham a caminho da igreja. Ouviam-se queixas de violão, risadas finas de bandolins. Os romeiros caminhavam devagar, colhendo flores dos arbustos que pendiam dos barrancos. Havia gente que parava para contar caso. Ou para tirar o calçado, que lhe espremia os pés. Quando chegamos ao largo da igreja foi um deslumbramento”...

 Tais experiências, relacionadas aos lugares altos, aparecem inúmeras vezes tanto no Antigo como no Novo Testamento da Bíblia de maneira sempre muito significativa. Já no primeiro livro, capítulo 8º do Gênesis, referindo-se à história de Noé e de sua arca, o autor sagrado escreve o seguinte:

“E no sétimo mês, no décimo sétimo dia do mês, a arca pousou sobre as montanhas de Ararat. As águas continuaram a baixar até o décimo mês e, no primeiro dia do décimo mês apareceram os cumes dos montes”. (Gen. 8:4-5)

Nesse mesmo livro encontra-se o relato sobre a Torre de Babel, no qual conta que Javé confundiu as línguas dos que a construíam, a fim de não chegarem a concretizar o ambicioso intento. Em resposta, Javé desce e aplica um castigo àquele povo, a fim de que este entendesse que não deveria fechar-se em si mesmo; mas manter-se aberto a outros povos:

 “Vamos construir uma torre cujo cimo atinja os céus! Tornemo-nos famosos e não nos dispersemos pela terra toda... (em resposta, Javé diz) Eia, pois! Desçamos lá mesmo e confundamos-lhes a língua, para que ninguém mais compreenda a fala do outro!“ (Gen. 11: 4 e 7). Babel significa confusão.

Outra passagem atribuída ao patriarca Abraão, mostra como Deus jogou duro com ele. Tendo-lhe prometido que teria uma descendência maior do que as areias do mar, pede-lhe que ofereça em sacrifício seu filho único. Com o intuito de prova-lo, Deus o chama:

“Abraão! Abraão!”. “Eis-me aqui, respondeu-lhe. E Deus continuou: “Toma teu filho, teu único filho, que tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá e lá oferecê-lo-ás em holocausto sobre um dos montes que te indicarei” (Gen. 22:1-2)

Abraão fez tudo como lhe foi pedido; porém, quando estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar o filho, o Anjo do Senhor lhe apareceu e disse:

“Não levantes tua mão contra o menino e não faças mal algum! Agora sei que verdadeiramente temes a Deus, pois não me recusaste teu filho, teu filho único” (Gen. 22: 12)

No livro do Êxodo, Moisés vive a experiência de encontro com Deus desta vez no alto do monte Horeb:

“Moisés apascentava as ovelhas de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Tendo conduzido o rebanho para o outro lado do deserto, chegou à montanha de Deus, o Horeb... Então, no meio da sarça, Deus o chamou: “Moisés! Moisés!” E ele respondeu:  “Aqui estou!” Não te aproximes daqui. Tira as tuas sandálias, porque o lugar em que estás é uma terra santa” (Êxodo 3: 4e5).

Foi ainda nesse mesmo lugar que Deus revelou a Moisés qual o seu nome:

“Mas se eles perguntarem o seu nome? Que é que vou responder-lhes?”. Deus disse a Moisés: “Eu Sou Aquele que Sou” (Javé).  (Êxodo 3:13-14)

Em outro momento, no monte Sinai, Deus entregou a Moisés as duas tábuas da lei, na qual haviam sido gravados os dez mandamentos:

“Moisés subiu para ir ter com Deus. Do alto da montanha, Javé o chamou dizendo: “Assim falarás à casa de Jacó: ... E agora se ouvirdes com atenção a minha voz, e observardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade exclusiva, escolhida dentre todos os povos; pois toda a terra é minha. E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” (Êxodo 19: 3-4e5).

Tendo sido informada, pelo Anjo, que sua prima Isabel se encontrava no sexto mês de gravidez, Maria apressou-se para ir ao seu encontro. O evangelista São Lucas assim escreve:

“Maria se dirigiu a toda pressa para a região montanhosa, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seio dela e ficou cheia do Espírito Santo. Então, exclamou em voz alta: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu seio! De onde me vem a felicidade de que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”  (Lucas 1: 39 a 43).

No sentido de preparar seus discípulos, para os acontecimentos que iriam se abater sobre Jesus, sua paixão e morte de cruz, Ele transfigurou-se diante deles no alto do monte Tabor. Assim descreve o evangelista Mateus como isto aconteceu:

“Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou a um lugar à parte sobre um alto monte. Transfigurou-se diante deles: seu rosto brilhava como o sol e sua roupa tornou-se branca como a luz. Então lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com ele. Pedro interveio, dizendo a Jesus: “Senhor, como é bom estarmos aqui! Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os envolveu, enquanto dela saía uma voz que dizia: “Este é meu Filho bem amado no qual encontro toda minha satisfação. Ouvi-o”. (Mateus 17: 1-5)

Da mesma forma como Moisés recebeu, no monte Sinai, as tábuas da lei gravadas com os dez mandamentos, Jesus também sobe a um monte, para dali promulgar as bem-aventuranças, que se constituem como aprimoramento da lei mosaica:

“Jesus subiu ao monte. Quando sentou, seus discípulos chegaram para perto dele. Tomou a palavra e ensinava-os assim: “Felizes os pobres em espírito, porque a eles pertence o reino dos céus. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os mansos e humildes, porque herdarão a terra da promessa. Felizes os famintos e sedentos da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque serão tratados com misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os promotores da paz. Porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque a eles pertence o reino dos céus...” (Mateus 5:1-11).

Condenado à morte de cruz, Jesus levou-a sobre os ombros até o monte Calvário. Do alto de sua cruz, Ele nos deixou como herança Maria, sua própria Mãe:

“Perto da cruz de Jesus, estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena. E Jesus, vendo sua mãe e perto dela o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho!” Em seguida, disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe!” E desde aquela hora o discípulo a recebeu aos seus cuidados”. (João 19: 25-27).

De maneira semelhante à experiência de fé, vivenciada pelos romeiros que subiam a ladeira da Penha, rumo ao antigo santuário, caminhando “devagar, colhendo flores dos arbustos que pendiam dos barrancos”, como foi descrito acima no livro de Afonso Schmidt; nos dias atuais, também, experiência parecida pode ser vivenciada pelos componentes dos grupos que vêm participar das visitas monitoradas à Penha. Ao subirem as escadas que levam ao alto da torre da Basílica, outros tipos de flores podem ir colhendo dos arbustos, até chegarem ao amplo terraço, localizado no mesmo andar onde se encontram os cinco sinos que compõem o carrilhão. Desse lugar visualizam a cidade se descortinando, no horizonte: “um deslumbramento”.

Postado por José Morelli