quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Aparelho digestivo

 Boca, laringe, esôfago, estômago e intestino são órgãos do aparelho digestivo. O processo de digestão dos alimentos se dá pela passagem destes, através de cada um dos órgãos mencionados. Ao entrar pela boca, os alimentos são o que são: arroz; feijão; carne; verdura; fruta; doce; salgado... Depois de digeridos, eles se transformam em nutrientes: vitaminas e proteínas que revigoram e dão força e energia às células de nosso corpo. A vida que antes estava nos alimentos passa a estar em nós. Por conta de todo esse processo é que, desde que nascemos, fomos nos desenvolvendo fisicamente... Nossos ossos foram crescendo, nossos músculos se fortalecendo e chegamos ao porte físico em que nos encontramos hoje. A boa digestão aproveita o melhor do que está nos alimentos e dispensa o que não serve.

Digerir é transformar, assimilar. Esse mesmo verbo é também utilizado para se referir aos pensamentos e ideias. Estes e estas devem passar por um processo mais ou menos parecido com o que se dá com os alimentos, na digestão. Nossa mente precisa fazer um trabalho de confrontar as ideias e os pensamentos novos com outros, já presentes desde longo tempo, e considerados bons e certos, antes de aceitar e assimilar os novos, incorporando-os em nossos juízos e avaliações. Barreiras de todos os tipos se interpõem a eles, colocando-os à prova. Só depois desse processo é que eles passam a adquirir mais força, transformando-se em convicções.

Somos também, muitas vezes, obrigados a digerir certos acontecimentos que nos são impostos pela vida. Uns de mais fácil assimilação, outros cuja aceitação exige grande esforço e boa de vontade. Fatos que nos são como que enfiados goela abaixo, obrigando-nos a engoli-los. Ficamos indignados, revoltados até!... Só o tempo e, depois de várias vezes o termos ruminado, ruminado, à semelhança dos camelos, é que conseguimos fazer com que se tornem melhor digeríveis, possibilitando que sejam incorporados à nossa visão de realidade.

Nossa mente pode ser subdividida em partes. O processo mental de assimilação não é tão simples como poderíamos talvez imaginar. Apegamo-nos a muitas coisas intelectual e emocionalmente. O processo de convencimento da totalidade de nosso ser é profundo e exige tempo para se realizar de forma completa.

Postado por José Morelli

domingo, 5 de setembro de 2021

Reis e rainhas de Festa do Rosário da Penha

Que lá do céu vem descendo uma coroa.

                                                                                 Ela vem do Reino da Glória.

                                                                                          Vamo pegá cum jeito, meu irmão,

                                                                                      essa coroa é de Nossa Senhora.”

Quando da visita da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário do bairro Alto de Pinheiros, de Belo Horizonte - MG, em junho de 2009, quando da missa celebrada pelo Padre Henúbio, antes que ele desse início à oração eucarística, o comandante do Moçambique pediu aos reis que entregassem suas coroas para que fossem colocadas sobre o altar. Terminada a missa, as coroas voltaram a ocupar as cabeças do rei e da rainha.

A simbologia desses gestos demonstra a profundidade do entendimento que a religiosidade popular possui da eucaristia: Jesus Crucificado, tendo em sua cabeça uma coroa de espinhos, por sua morte, entregou-se como Cordeiro Imolado pela redenção de toda a humanidade, elevando-nos a todos e a todas à dignidade de reis e de rainhas, de filhos e de filhas de Deus. Assim como no Calvário, Maria também é presente em toda eucaristia.

Em outro verso, cantado pelos grupos de Moçambique e de Congado, o comandante diz: “Sinhô rei escuta eu vou falar. Dá um passo à frente e vamo caminhar... Pegar a coroa que está no altar”.

No dia de nosso batismo, quando fomos ungidos com o óleo do crisma (o mesmo com que eram ungidos os reis do povo de Israel), o oficiante rezou sobre nós a seguinte oração: “Pelo batismo, Deus todo-poderoso libertou-vos do pecado e vos fez renascer pela água e pelo Espírito Santo. Vós fazeis agora parte do seu povo. Que Ele vos consagre com o óleo santo para que, como membros de Cristo, sacerdote, profeta e rei, continueis no seu povo até a vida eterna”. Participamos da missão de Jesus como sacerdotes, profetas e reis.

Nas páginas 118 e 119 do livro de “Assentamentos da Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França – 1755 a 1780” além dos nomes dos afiliados constam registros dos anos de 1806, 1808 e 1809, onde estão relacionados os irmãos e irmãs que foram eleitos para dirigirem a Irmandade naqueles anos: do rei e da rainha; do juiz e da juíza; dos irmãos que compunham a mesa; do alferes da bandeira e do capitão do mastro”, de acordo com o que vem registrado no livro de minha autoria “Penha de França – Expressões do Rosário”, à página 22.

De acordo com o resumo histórico, contido na lápide existente na Igreja do Rosário da Penha, os irmãos e irmãs da Irmandade nos legaram como testemunho, a Solidariedade no Sofrimento. Em linguagem própria dos escravizados da época, a sabedoria de vida é expressa no seguinte verso: “Sinhá rainha sua casa cheira, cheira cravo e rosa e flor de laranjeira. Me dá a mão que te passo na pinguela. A pinguela é de imbaúba pó ter caruncho nela”. Desde que nos ajudemos mutuamente, mantemo-nos unidos como contas de um mesmo rosário.