sábado, 12 de janeiro de 2019

Mediato & Imediato

A palavra “mediato” vem de meio: instrumento que é utilizado para se atingir um determinado objetivo. O martelo se constitui como meio para se conseguir pregar o prego. Já a palavra “imediato”, que tem a mesma raiz, significa sem mediação ou sem intermediação: “Gosto de mim no outro ou gosto do outro em mim?” “Preciso do gostar do outro para poder gostar de mim?” “O amor que sinto por aquilo que não reconheço como meu passa antes pelo amor que sinto àquilo que não reconheço como sendo de minha pessoa?... Quanto ao ódio, pode se dar o mesmo processo descrito acima. Acontece, muitas vezes, de ser mais fácil de se odiar, no outro, aquilo que desagrada em si do que odiar, em si, aquilo que se desagrada no outro.
A título de exemplo, lembro o personagem Bira, da novela “Senhora do Destino”, exibida pela rede globo por, pelo menos umas três vezes. Interpretado pelo ator Luiz Henrique Nogueira, que se revela fascinado pela beleza feminina. A ele foi entregue a responsabilidade de organizar o visual da Escola de Samba de “Vila da Pedra”, para que a mesma pudesse “arrebentar” em sua apresentação na avenida. Faz uso de sua sensibilidade refinada para o que é bonito a fim de poder encantar à plateia. Trata com o maior carinho “Nalvinha”, personagem de Lindalva Ferreira Silva, interpretada pela atriz Carolina Dieckmann. Chama-a em certos momentos de “meu bebê”. Projeta-se em sua beleza. Trata-a como gostaria de ser tratado pelos outros, com a mesma admiração com que a admira.
Quanto ao seu parceiro sexual, não o trata da mesma forma. Submete-o com autoritarismo, carregando-o de um lado para o outro como se fosse um cachorrinho. Dele apenas faz uso. A Nalva, como costuma intimamente chama-la, é um espelho para ele. Nela, ele se idolatra. A representação deste personagem faz lembram o mito de Narciso.
O todo pode ser visto na parte e a parte pode ser vista no todo. Todo e parte formam um conjunto completo. As distinções, porém, são sempre muito necessárias. “Quem não distingue, confunde e quem confunde erra”. A base do próprio amor para consigo garante a autenticidade deste amor para com o próximo. Razão e emoção precisam se equilibrar minimamente. Perde quem se deixe guiar apenas pela razão e perde, também, quem se deixa guiar apenas pela emoção.
Mediato e imediato são dois conceitos importantes. A mente é como um olho interno. Através da tomada de consciência é que cada pessoa consegue dimensionar a própria existência em sua total abrangência. A partir das próprias atenções internas e externas é que consegue atingir o equilíbrio nas escolhas que faz, bem como a ordem com que estas se processam.

Postado por José Morelli