sábado, 28 de dezembro de 2019

Dialética entre os opostos

Trata-se de uma conversa, de um diálogo ou confronto entre posições contrárias. Na hipótese de que a vida no planeta tenha se desenvolvido a partir da evolução das espécies, o chamado “homo erectus” se constituiu como elo de passagem da condição irracional para a condição racional dos seres humanos. Sua posição ereta (altiva) permitiu-lhe ver o mundo na horizontal, podendo vislumbrar tanto o para cima (do céu) como o para baixo (da terra). A mente humana passou, então, a estabelecer conceitos (ideias) comparando-as entre si.

Chamamos de sinônimos aqueles conceitos similares ou semelhantes e de antônimos aqueles que são diferentes ou contrários: Deus/diabo; bem/mal; tudo/nada; céu/inferno; vida/morte; saúde/doença; dentro/fora; direita/esquerda; paz/guerra; dia/noite; bonito/feio; alto/baixo; forte/fraco; calor/frio; claro/escuro; mole/duro; verdadeiro/falso; justo/injusto; impunidade/justiça; recompensa/castigo; branco/preto; norte/sul; leste/oeste; rico/pobre; matéria/espírito; corrupção/idoneidade; cheio/vazio; pesado/leve; mais/menos; perto/longe; sim/não; visível/invisível; agressor/vítima; homem/mulher; alegria/tristeza; silêncio/barulho; educado/deseducado; sábio/ignorante; fiel/infiel; rápido/devagar; fome/saciedade; atenção/distração; avançado/retrógrado; otimista/pessimista; sensível/insensível; moral/imoral; etc... .

Em se tratando das cores, estas se constituem a partir da decomposição da luz sobre as superfícies. As cores primárias se desdobram nas secundárias, passando de uma nuance para a outra, da forma como as encontramos nos catálogos de vendas nas lojas de tintas. Os opostos são os extremos de um lado e de outro. A realidade é bem mais do que simplesmente o que identificamos como opostos. Nossa vida oscila entre o mais e o menos e de todas as variações em que a realidade pode ser fracionada. Existe até um provérbio que diz que a virtude se encontra no meio termo, isto é: no equilíbrio.  A filosofia oriental ensina que dentro de um extremo se encontra o outro e vice-versa (yin e yang).

No dia a dia de todos nós, oscilamos. Precisamos de tudo: dos dias e das noites, do trabalho e do descanso, do mais e do menos. Vivemos em um mundo em que as ideias são vendidas ou compradas, roubadas ou compartilhadas graciosamente. Cabe a cada um de nós administrá-las, colocando-as ao próprio serviço e/ou ao serviço daqueles que, conosco, compartilham nossa contemporaneidade perto ou longe de onde, fisicamente, nos encontrarmos.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Quem usa cuida

Mais um provérbio expressão de nossa língua portuguesa. Em frase sonora e curta, através dos significados de cada palavra, é transmitida a mensagem: cuidado com aquilo que você “usa” (pensa, costuma falar, escreve, gesticula, reclama), a probabilidade de que você não só “use”, mas também “cuide” (isto é: sinta-se atraído, reprima-se na mesma vontade e até pratique) é grande e significativa! A sabedoria popular construiu provérbios sintetizando através de anos e anos de “janela”, aquilo que observou do comportamento das pessoas. Merece respeito a ideia expressa no “quem usa cuida”, como em muitos outros ditos populares.

A observação científica, encontrada em livros de autores, que pesquisaram ou coletaram pesquisas de outros sobre o comportamento humano, confirma que a hipótese expressa no provérbio citado não só não é absurda, como até possui fundamentação em importantes teorias da personalidade.

Existem maneiras diferentes de “cuidar”: uns cuidam pelo sim, outros cuidam pelo não; uns pela aprovação, outros pela desaprovação. Os primeiros proclamam explícita e implicitamente, por palavras ou ações, os valores positivos, as razões e justificativas do que dizem e fazem. Os segundos negam esses valores, afirmando que eles são negativos ou destrutivos. Lutam contra eles como baluartes na defesa do bem sobre o mal.

A insistência em falar de alguma coisa, sentindo-se muito incomodado com ela, denuncia o compromisso, a ligação de dependência, mesmo que seja por causa da percepção de impotência, de incapacidade de superá-la. Fica a sensação de estar sendo dominado ou correndo o risco de ser dominado, escravizado a qualquer momento. Daí a necessidade de “usar”, que não deixa de ser uma forma também de “cuidar”. Outros ditos populares alertam: “os extremos se tocam” e “quando a esmola é muita, o santo desconfia”. A ciência nasce da vida. A sabedoria não se confunde totalmente com a ciência. Ambas não se excluem, mas se completam para que as pessoas (eu, você) se busquem e se encontrem reconhecendo-se em suas maneiras de ser, de agir e de sentir (sem disfarces ou subterfúgios).

Postado por José Morelli

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Universo infantil

Do pensador e poeta libanês Khalil Gibran, nos foi transmitida a seguinte frase a respeito de pais e filhos: “Tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados”. Assim como o poema em seu conjunto, esta expressiva frase é, também, bastante rica como mensagem inspiradora. Independentemente da inclinação com que a flecha sai do arco, ainda assim sua trajetória encontra fatores que a podem modificar no caminho que percorre, bem como no alvo que atinge.

O universo infantil, disponibilizado às crianças de hoje, principalmente, vem agregando cada vez mais novidades, oferecidas pelas tecnologias de comunicação e outras. Nossos filhos e filhas, netos e netas partem de plataformas de lançamentos bem diferentes daquelas das quais fomos impulsionados, desde os nossos primórdios. Um mínimo de processamento de tantos dados se torna necessário para que a mente e o sentimento/emoção gozem de alguma harmonia entre si, facilitando-lhes o desenvolvimento.

Nesse contexto é que a psicoterapia infantil encontra seu papel auxiliar junto à sociedade e às famílias. Dentro do universo da criança, ela se constitui como um espaço privilegiado de encontro desta consigo mesma e com as representações, disponibilizadas no ambiente lúdico em que o/a psicoterapeuta a acompanha em todas as suas ações e reações.

A palavra “universo” diz respeito ao contexto amplo, amplíssimo, representativo da maior abrangência na qual todos nos inserimos e nos movimentamos, direta ou indiretamente. Advindas das mais distantes e, principalmente, das mais próximas, as barreiras ao desenvolvimento da criança surgem a partir dos contextos: familiar, escolar e do meio social.

Se adultos travam frente a tantos obstáculos, por que razão crianças também não travariam diante de situações que se lhes apresentem como ameaçadoras e castradoras?... A atenção dada à criança pelo psicólogo/a, no ambiente terapêutico, se constitui como oportunidade ímpar de novos entendimentos e sensações, que ampliam a capacidade de assimilação da realidade, da parte daquelas crianças que estão necessitando de ajuda.

Postado por José Morelli