domingo, 24 de abril de 2022

Sentido de pertencimento

O Sentido de pertencimento é o resultado da junção entre a razão e a emoção/constatação existencialmente experimentada/provada/degustada/saboreada por quem se entende membro de uma coletividade. Trata-se da crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos. Trocando em miúdo, podemos dizer que é a sensação de que pertencemos ao Mundo, ao Brasil, à Penha e de que o Mundo, o Brasil e a Penha nos pertencem. Consequentemente, símbolos desses lugares passam a expressar nossos valores, medos e aspirações. Características culturais e raciais que nos são comuns destacam-se por conta desta nossa consciência. Acreditamos, então, que não só podemos interferir na rotina e nos rumos desses lugares como temos o dever cívico e ético de fazê-lo.

Neste ano, nosso país estará comemorando 200 anos de sua independência. Sete de setembro faz parte do simbólico do Brasil - livre da submissão de colonialismos, regozijo para todos que possuem a consciência plena de pertencimento a este chão sobre o qual nossos pés se apoiam e se movimentam.  Ainda no mês de setembro, no dia oito, o bairro da Penha de França estará comemorando mais um ano de sua existência histórica.

O sentido de pertencimento é salutar em seus efeitos. Ele possui uma força em si mesmo. Quem dele compartilha sente-se mais seguro e forte, trazendo na própria consciência e na vibração das emoções as condições necessárias a uma vida humana com mais personalidade, com mais identidade. Os ícones que melhor representam a história e os valores compartilhados pelos cidadãos e cidadãs penhenses de nascimento e de coração, de todas as idades, servem-lhes como referências em seus juízos e entendimentos.

Com a participação da sociedade civil, através de suas instituições, estarão sendo organizados eventos comemorativos sejam de lazer ou de cunho cultural, instando a comunidade em seu todo para que desenvolva um maior sentido de pertencimento ao bairro. Está mais do que na hora da Penha voltar a receber, da parte de cada um de nós, um olhar benevolente e interessado, um olhar amoroso e de reconhecimento pelo lugar que nos acolhe e nos serve de impulso aos nossos projetos e realizações.   

Postado por José Morelli

 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Lógica do copo cheio

 Basta uma pequena distração, não percebendo que o copo já se encontra esgotado em sua capacidade, e a água transborda, derramando-se e perdendo-se para fora dele. É assim que acontece quando o copo está até as bordas e insistimos em jogar ainda mais água sobre ele. O peso com que a água cai sobre o copo também modifica a dinâmica de comportamento da água. A tendência é de que a água nova expulse a que já se encontrava no copo, substituindo-a gradativamente, independente da qualidade que tenha.

Esta é a lógica a que me refiro. A pergunta que não pode calar, no entanto, é a seguinte: O que temos nós a ver com isso? Basta um pouco de inteligência e o problema de não insistir, em situações semelhantes a essa, poderá ser contornado!

A evidência quanto à condição do copo é mais fácil de ser percebida. Porém, quanto às pessoas, se estas se sentem e se julgam já completas (à semelhança de um copo cheio) no que estão a fim de acolher, vindo dos outros, isso já exige alguma sutileza a mais para que possamos perceber, mesmo que não seja tão fácil disfarçar uma indiferença, principalmente, quando se trata de alguém que sabe esconder a presunção de se julgar autossuficiente. As melhores ideias podem ser desvalorizadas como se nada valessem.

Quanto mais fechada em si mesma, a pessoa presunçosa não consegue abrir-se aos outros. O contrário também pode acontecer e acontece: a pessoa insegura, que não tem a menor confiança em si mesma, pode deixar os conteúdos que lhe são próprios serem jogados para fora e perderem-se, substituindo-os por qualquer bobagem que lhe ofereçam.

Para que isso não aconteça é preciso cuidado de ambos os lados: de quem recebe e de quem oferece. Tentar enfiar goela abaixo, no outro, aquilo que entendemos ser bom para nós, provavelmente, vai encontrar resistência da parte de quem se percebe assim desconsiderado em sua dignidade pessoal.

Postado por José Morelli

sábado, 9 de abril de 2022

“É muita areia pra meu caminhão!”

O que é que se esconde por detrás dessa expressão tão usual entre nós brasileiros?... – Escondem-se, pelo menos, dois conceitos: o que é simbolizado pela areia e o que é simbolizado pelo caminhão. O primeiro deles é acompanhado do qualificativo muita. E o segundo é antecedido do pronome possessivo meu. O sujeito da frase, portanto, é a pessoa que a pronuncia, considerando-se a partir de seu próprio juízo como insuficiente ou incapaz. A frase, raríssimas vezes, é utilizada em sentido literal.

Muita areia pode se referir a uma pessoa muito bonita, muito sedutora, muito rica, muito prendada, muito inteligente, de condição social mais elevada, etc. etc. Pode também se referir a um bom emprego, a uma situação entendida como inacessível tendo em vista a exigência de qualidades que demanda para ser almejada.  

Acontece também dessa frase ser afirmada, com ênfase, por outra pessoa: “Você não se enxerga, não está vendo que é muuuita areia pra seu caminhãozinho?”... Nesse caso, a responsabilidade é de quem faz a afirmação. Se este é movido por boa intenção, sua advertência pode servir como um alerta, no sentido de proteger a quem viaja acreditando em um sonho impossível e irrealizável.

É claro que ambas as frases podem ser expressas levando em conta razões objetivas. No entanto, estas também podem ser expressas levando em conta ideias puramente subjetivas, sem fundamentos na realidade das pessoas e dos fatos. Quem pode saber, exatamente, o pensamento que se encontra na cabeça de cada pessoa?... Enganos homéricos acontecem principalmente em questões de relacionamentos pessoais. Diferenças, muitas vezes, não são vistas e entendidas como motivo de inviabilizar relacionamentos. Ao contrário, estas podem servir como motivação positiva para envolvimentos com ricas possibilidades de complementação. Não é raro acontecer de que opostos se atraiam, construindo excelentes resultados. 

Postado por José Morelli

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Dialogar com a natureza

 Sem deixarmos de nos entender, a nós seres humanos, como fazendo parte da natureza em seu conjunto, nosso diálogo com o ambiente que nos cerca se dá constantemente, ininterruptamente, desde o momento em que cada um de nós começou a existir.

Dialogar é trocar mensagens, é estabelecer relacionamentos que acarretam modificações nos interlocutores. Dialogar é olhar para uma árvore florida e receber dela a imagem de suas formas e cores. Dialogar é pisar o chão com os pés e ter, a partir dele, o apoio para impulso de direcioná-los para a direção que quisermos. Dialogar é trocar com o calor, com o frio, com a chuva e com o ar úmido ou seco. Dialogar é fazer-nos entender e entender, chegando a denominadores comuns.

A natureza em sua imensidão é de todos e para todos. O diálogo é individual e coletivo. É uma tarefa que necessita de múltiplos e bem intencionados olhares. A água, os recursos hídricos que abastecem (ou deveriam abastecer) os reservatórios das cidades, em seu diálogo indispensável, fala e ouve com as populações e seus governantes. Dialogar com a água é entendê-la em suas abrangências e em suas particularidades.

Desde às 5:20 horas do dia de hoje (23 de setembro), a estação da primavera aportou em nosso hemisfério sul. A força da natureza ainda tem encontrado meios de se manifestar, mostrando-se mediante algumas de suas mais lindas expressões. É com flores de múltiplas cores e formas que a natureza nos convida a estabelecermos com ela um construtivo diálogo.

Um ensinamento oriental diz o seguinte: “Deus sempre perdoa, os homens às vezes e a natureza nunca”. O abuso no uso das tecnologias anda desviando os olhares daquilo que é mais fundamental e necessário. Quantos tropicões a fixação nos celulares já provocaram em tantos e tantas?... Que eles possam servir como alertas para que nosso diálogo com a natureza se construa sem que a partir dele precisemos amargar perdas irreversíveis.  

Postado por José Morelli