domingo, 7 de janeiro de 2024

Expectativas de um investimento

À semelhança de um investimento, no qual você destina parte de sua renda, aplicando-a em algum título bancário na expectativa de que o mesmo lhe possa garantir algum ganho real, assim também o investimento em um tratamento psicológico não pode ser desacompanhado de expectativas de algumas vantagens a serem conquistadas.

Diretamente, o ganho não precisa ser no financeiro. Muito embora o investimento em psicoterapia tenha um custo X ou Y, o retorno desse custo se dá mais em função de outros tipos de investimento, quais sejam: a vontade de se ajudar existencialmente; o empenho efetivo de empenhar o melhor de si mesmo, das próprias energias vitais; a dedicação do próprio tempo; o esforço em abrir-se sem medo de encarar as próprias verdades; a coragem de se confrontar com o que encontrar a respeito de si mesmo, seja no que entende como positivo (qualidade) como no que entende como negativo (defeito).

As expectativas possíveis decorrentes desse investimento, a curto, médio e longo prazos podem ser inimagináveis. Trata-se de um retorno pessoal, único e intransferível, dependendo do que você é capaz de se apropriar de suas verdades e dinamizá-las com coragem e sabedoria.

Quanto ao retorno em termos financeiros, não que não possa ocorrer; porém, ele é relativo. Não que ele não tenha sua importância, sem dúvida. Mas, provavelmente, ele não será o principal a ser considerado. O investimento em vida merece, principalmente, retorno em qualidade de vida, pelo que ela é em sua essência e não neste ou naquele aspecto apenas acidental de existir humano.

No entanto, não se pode separar essas áreas como se entre elas não existissem interligações. Daí, que , voltando aos aspecto da sabedoria, esta reconhece uma hierarquia de valores na qual alguns bens ocupam posições mais acima e outros posições mais abaixo.

Postado por José Morelli

Exigências neuróticas

 Todos sabem que, muitas vezes, diversas atividades esportivas são incentivadas através de competições. E é próprio das competições que tanto um como outro dos competidores podem ou não alcançar à vitória. Essa emulação dá a essas atividades um caráter mais intenso; porém lúdico, isto é, de brincadeira, de divertimento e de lazer. O ganhar e o perder fazem parte essencial da regra desse tipo de jogo.

No entanto, há quem faça do esporte, principalmente naquele em que participa o time de sua predileção, uma verdadeira guerra de vida ou de morte. Não consegue dominar a intensidade da própria emoção. Seu sistema nervoso só é capaz de aceitar como resultado a vitória. A rigidez com que se predispõe seu aparato nervoso domina-lhe o pensamento e o sentimento. O indivíduo se torna refém de uma grande dificuldade, que é a de separar e distinguir o que é real do que é fruto de sua imaginação/imposição.

Seria extremamente injusto pensar que exigências neuróticas sejam somente relacionadas aos esportes. Existe uma infinidade de outras exigências que se relacionam com a vida pessoal de cada indivíduo, na vida familiar, profissional e mesmo religiosa. A impossibilidade de se ter certa autonomia e liberdade de ação são imprescindíveis para que escolhas possam ser feitas, levando-se em conta as circunstâncias do momento.

Tem quem possui a exigência neurótica de se isolar da própria família e de ir morar na rua. Tem aquele que não consegue manter-se em nenhum emprego. Tem ainda aquele que se julga merecedor do que precisa para viver sem que tenha que fazer nada em troca do que recebe. Outros exemplos exemplos são os daqueles que se julgam incapazes de varrer um chão, de lavar uma louça ou de manifestar um gesto de amizade ou de carinho a quem quer que seja.

Exigências neuróticas são predisposições do organismo, uma espécie de vício enraizado. O deixar de atendê-las provoca um mal estar, um vazio interior, uma inquietação incômoda. O reconhecimento da existência de tiranias do próprio aparato mental/emocional e físico já é um primeiro passo, no sentido de dar à própria vida uma nova direção, na qual a intensidade desses problemas possa ser diminuída.  

Postado por José Morelli

  

 

Evoluir

Uma idéia puxa outra. Talvez influenciado pelo fato deste ano comemorar o bicentenário de nascimento de Charles Darwin, considerado o pai do evolucionismo e a mídia ter comentado tanto sobre o assunto, é que acabei escolhendo o tema “evoluir” para desenvolver a coluna desta semana.

Trata-se de uma idéia simpática, entusiasmante e que vai na mão certa do que a sociedade precisa para condicionar positivamente indivíduos e coletividades. Quem não quer pegar o “trem” da vida e seguir dentro dele? e que este, de preferência, seja o mais veloz de todos, podendo chegar a lugares novos e interessantes de se ver e de se conhecer. A idéia de evolução combina com a de continuidade, de permanência como um todo e de gradativa superação dos limites.

A evolução biológica acontece impulsionada por uma insistente energia; porém, tendo que vencer constantes obstáculos. Indivíduos e sociedades conseguem ampliar suas capacidades a custo de grandes esforços. Respondendo às necessidades que emergem das circunstâncias do dia a dia, buscam meios para atendê-las e resolvê-las. As pessoas, em sua individualidade, experimentam a própria evolução no tempo e no espaço, percorrendo as várias fases da vida, podendo amadurecer física, mental e espiritualmente. Desta forma, tornam-se aptas a cumprirem seus papéis sociais, assumindo responsabilidades mútuas.

Cada novo momento serve como recomeço de novas buscas. O processo evolutivo não para. Dele também fazem parte além do trabalho sério, o sono, o descanso, a diversão, o lazer. Do ponto em que cada um se encontra, todos podem evoluir em algum sentido. Da somatória dos avanços de cada um, a sociedade evolui junto. Dessa evolução também fazem parte as chamadas crises. Por maiores dificuldades com que estas se apresentem, ainda assim não é conveniente que sejam interpretadas como barreiras intransponíveis. Pelo contrário, se as crises forem entendidas como oportunidades de redirecionamento do sentido evolutivo, elas ajudarão a humanidade para que se aprimore em sua missão, deixando de ser vista como predadora, mas promotora de vida em todos os níveis.

Postado por José Morelli

"Estopim curto"

 

         Existem pessoas que se comportam sempre e com quem quer que seja como se tivessem pavio ou estopim curto. Há outras que só agem assim de vez em quando, dependendo do estado emocional que momentaneamente trazem dentro de si mesmas. É o pavio que leva o fogo  até ao explosivo e o faz detonar. Se este for muito curto, o fogo chega rapidamente à bomba sem que haja tempo suficiente para se poder proteger de sua explosão.

Responder dessa forma imediata e intempestiva diante de uma simples palavra ou gesto é consequência de uma disposição preexistente. Pessoas que se posturam, que se posicionam como necessitadas de estarem armadas até os dentes, são aquelas que sempre esperam pelo pior, que não têm tranqüilidade quanto à própria capacidade de lidar com acontecimentos e situações novas. Trazem em si mesmas a sensação de dúvida, desconfiam de que têm dívidas a pagar e temem ser expostas a constrangimentos em qualquer instante. Tudo o que lhes vem na cabeça e no peito sentem como ameaça à sua integridade física ou psicológica. Vivem as situações que lhes surgem de maneira dramática ou mesmo trágica, daí a necessidade de se defenderem como que tendo que trazer sempre muitas pedras nas mãos.

Aqueles que só eventualmente respondem explosivamente, dependendo do estado emocional, não se caracterizam como neuróticos. Trazem, em si mesmos, sensações de sobrecargas. Acham que já fizeram muito e, se tiverem que fazer ainda mais, estarão sendo lesados. Não se sentem com obrigações, mas apenas com direitos. Isto é o que acontece com frequência nos relacionamentos entre pais e filhos e quando a educação não foi assimilada num sentido de equilíbrio.

Todos construímos conceitos em nossas mentes. Construímos conceitos quanto a quem e como somos e quanto aos outros: quem e como estes são ou se comportam. Dependendo do que uma determinada pessoa já nos fez, pelas provas que deu de sua inidoneidade, o conceito que construímos a respeito dela pode ser o de uma pessoa que não nos merece confiança. Consequentemente, criamos frente a ela uma predisposição negativa, que nos faz ficarmos sempre com o pé atrás, prevenidos contra algum mal  que nos venha a fazer. Se, diante de situações que nos assustam, conseguimos contar até 10, antes de tomarmos alguma atitude, isso prova que nosso pavio não é tão curto a ponto de fazer-nos explodir como bombas inoportunamente e inconsequentemente.   

Postado por José Morelli

            

  

Estímulo - resposta

O estímulo é o toque, a resposta é a sensação que sentimos ao sermos tocados. Existem estímulos de natureza visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil. Os estímulos que nos atingem, através dos órgãos dos sentidos, na verdade, produzem uma sequência de respostas, conduzindo suas mensagens até o cérebro e fazendo-as retornar, nos sentidos de interiorização e de exteriorização.

Quando nossas narinas aspiram o cheiro agradável de alguma comida apetitosa, a resposta natural é a das glândulas salivares salivarem em nossa boca. A maneira como cada indivíduo responde a um mesmo estímulo não precisa ser exatamente igual. Não temos desenvolvidas nossas sensibilidades de maneira uniforme. Nossa mente processa os estímulos, dando-lhes significados, de acordo com referenciais próprios, chegando a conclusões diferenciadas e até imprevisíveis. Um mesmo fato pode nos agradar, enquanto desagrada a outros, dependendo de variáveis como de tempo, lugar, circunstância em que ocorre. Cada um de nós tem sua própria história de vida. Por influência desta história, adquirimos uma experiência pessoal que nos leva a processar os estímulos de maneira única, original.

Um cristal possui várias faces. Da forma como o feixe de luz atinge cada uma dessas faces, seu reflexo se dirige para direções diferentes, cada um com seu colorido próprio. Podemos nos comparar a um desses cristais. Como eles, enquanto nos movimentamos, somos atingidos por inúmeros estímulos, emitindo respostas. Através de nossas respostas, mostramos quem somos, como somos e como nos encontramos.

Diariamente, somos treinados por estímulos dos mais diversos tipos. Quando uma criança joga vídeo-game, por exemplo, é bombardeada por estímulos visuais e auditivos que a permitem desenvolver uma maior acuidade em suas percepções, tornando-se mais ágil em acionar o controle com as mãos. Na vida, nos deparamos com muitas situações que, à semelhança dos estímulos dos jogos de vídeo-game, podem nos permitir que desenvolvamos habilidades de respostas mais adequadas e precisas. Fazendo uso de esquemas de estimulação, as crianças com deficiência mental ou dificuldades psico-motoras são treinadas para conseguirem mais autonomia e progresso em seus aprendizados.  

Postado por José Morelli

"Estamos em 2012"

 Sabemos muito bem que a contagem dos anos se baseia em consensos. Mesmo existindo outros calendários, alguns mais antigos do que o nosso, tais como o judaico e o chinês; para efeito de que haja uma unidade na contagem do tempo em transações comerciais e de outros compromissos entre os diversos povos e nações, ficou estabelecido que o calendário cristão serviria a esse fim em todo o mundo. A existência de outros calendários permite que não nos esqueçamos de que a humanidade possui uma história muito mais antiga e variada.

Estamos em 2012. Momento presente em que temos a oportunidade de estarmos fisicamente vivos. Somos com o presente e ele é conosco. Momento único possível de estarmos acontecendo no aqui/agora. Agora que é marcado, segundo a segundo, pelo tic-tac do relógio. Minutos, horas, dias, semanas e meses irão subdividir nosso tempo presente nos próximos 365 dias.

Somos conscientes de que estamos existindo. Somos conscientes de que não somos sozinhos. Coisas e pessoas existem conosco. Envolvemo-nos em nossos relacionamentos com coisas e com pessoas. Responsabilizamo-nos pelo que escolhemos ou deixamos de escolher. Podemos entender a vida que nos está sendo dada como um presente (precioso).

Nossa consciência nos permite entendimentos. Entendimentos que podem ser agrupados por semelhanças e por diferenças. Temos uma mente que pode ser comparada a um farol em alto mar. Com ela, discernimos o que vemos à nossa frente. Mesmo quando temos os nossos olhos fechados, nossa mente é capaz de ruminar o que já foi visto, reprocessando conceitos e informações quantas vezes julgar necessário.

O mais e o menos são conotações que ajudam nos entendimentos. O para cima e o para baixo. O começo e o fim. O bom e o mal. Animamo-nos ou desanimamo-nos dependendo das conotações que relacionamos aos fatos, aos acontecimentos da vida. Enrolamo-nos ou desenrolamo-nos, dependendo da maneira como nos sentimos emocionalmente. Preparamo-nos com a própria vida.

Nossa vida pode nos servir como matéria prima à nossa construção como gente. Se aprendermos com o que a vida nos dá a chance de vivermos, desenvolvemo-nos e nos preparamos para desafios ainda maiores. Crescemos física e moralmente.

Estamos em 2012. Que ele se constitua como oportunidade de Vida (com V maiúsculo) para mim, para você e para todos os que, conosco, compartilham este nosso mesmo tempo presente.

Postado por José Morelli

"Estação Ciência"

Fica bem pertinho da Estação Lapa da CPTM. Quem a visita faz uma viagem no tempo e no espaço. Ali se encontram algumas das principais respostas às perguntas, formuladas pela curiosidade científica dos seres humanos, no sentido de desvendar alguns dos mistérios da vida. Logo na entrada, a pergunta é a de como tudo começou. Um painel enorme responde mostrando desde a primeira explosão do “big-bang” passando pelos outros períodos até o atual em que se dá a presença do homem. Nesse primeiro salão ainda podem ser vistas: pequenas e grandes mostras indicativas de vida vegetal e animal no planeta; um experimento que mostra como se formam os furacões; uma maquete onde se encontram miniaturas de medidores atmosféricos; aparelhos que produzem eletricidade e permitem o manuseio e a observação de como funcionam, uma outra maquete que mostra o caminho percorrido para a produção hidrelétrica no estado de São Paulo, na qual a interatividade permite o acionamento de botões que ajudam na identificação de nomes e lugares.

Na sala que vem logo em seguida, a brincadeira se dá com os espelhos. A maneira de ver-se pode depender do tipo de lente que se tem à frente. Dependendo de seu formato ou disposição, a imagem refletida é vista alargada na horizontal, encompridada na vertical, deformada em algumas de suas partes ou ainda multiplicada várias vezes. A incidência da luz também faz modificar o que se vê e o que não se vê. Segredos tecnológicos capazes de produzir efeitos especiais que iludem facilmente a visão das imagens.

Depois vem o espaço da matemática. A realidade fragmentada em números: nas artes, da pintura especialmente; proporcionalidades e desproporcionacionalidades; massas e forças de gravidade relativa, formas geométricas e cálculos de suas medidas. Nada que não exija um olhar bem atento, para que se possa penetrar no segredo de fórmulas tão obscuras para quem só tem afinidade com as chamadas ciências humanas.

Em outro espaço, as perguntas respondidas são a respeito do planeta Terra, da formação dos continentes, das várias camadas subterrâneas, das placas tectônicas, dos terremotos, maremotos e tsunamis. Em uma sala especial os visitantes podem experimentar os efeitos de um terremoto de 5 graus na escala Richter.

Subindo ao piso superior, o corpo humano é desvendado em suas partes externas e internas. O sentido do olfato é aí contemplado com um privilegiado espaço. Mais à frente são encontrados: o viveiro de cobras; aquários com diversas espécies de peixes e outras curiosidades existentes sob águas oceânicas e fluviais; etc; etc; etc.

Nas impressões e reações experimentadas em cada nova surpresa e descoberta a percepção do contato imediato com as próprias capacidades mentais, acompanhadas de emoções e processadas em suas compreensões; por fim, para que não venham a se perder, arquivadas em compartimentos da memória.

Postado por José Morelli

 

Estabelecer limites

 Nos relacionamentos, precisamos reconhecer nossos limites com relação ao outro e saber demonstrar claramente ao outro os limites que tem, relativamente a nós. De pessoas mais velhas, é comum ouvirmos que, quando eram crianças, um simples olhar do pai já era suficiente para entenderem o que ele estava querendo. O estabelecimento de limites se dava muitas vezes por meio de atitudes simples, porém convincentes, não deixando dúvidas quanto a seu sentido.

Quando somos sinceros, seguros quanto ao que pensamos e fazemos, temos mais chances de sermos respeitados pelo outro ao impormos nossos limites. Se somos incoerentes tendo duas leis, uma para nós e outra para o outro, as chances de sermos respeitados tenderá a ser menor. Nossa imposição de limites soará como falsa e injusta.

Os limites são uma contingência de nossa natureza humana. Não somos ilimitados em nossas capacidades e condições. Todos nós, por mais poderosos que possamos ser, esbarramos constantemente em restrições de todos os tipos. A simples escolha de um objetivo exclui, muitas vezes, a possibilidade de realização de outros.

Nosso reconhecimento e aceitação dos limites de nossa condição humana, ao contrário de se constituírem como uma fraqueza de nossa parte, podem ser o sinal indicativo de nosso senso de realismo e de objetividade. Reconhecendo a realidade, não construímos nossa vida apoiados em ilusões, mas sobre fundamentos de verdades.

Na família, no trabalho, na escola, nas amizades, no esporte, podemos desafiar-nos a fim de ampliar nossas capacidades. Não podemos, porém, perder de vista até onde podemos chegar, aceitando-nos e respeitando-nos em nossos limites. A ingestão de bebidas alcoólicas, consumidas além do limite, tira das pessoas suas condições de noção dos limites, podendo causar sérios inconvenientes.

Desde os primeiros anos de vida, as crianças devem ir aprendendo a respeitar os limites que a natureza e as condições da vida impõem a todos indistintamente. Esse aprendizado é necessário para o equilíbrio e desenvolvimento futuro de cada uma delas. Os pais, ao imporem limites aos filhos não faltam com o amor que lhes devem, muito pelo contrário. O amor bem ordenado é aquele que reconhece a realidade tal como ela é, incluindo os limites que lhes são próprios. Estabelecendo limites, os pais transmitem aos filhos a dimensão correta da realidade.

Postado por José Morelli

Espinha dorsal

          O “Homo erectus” caracteriza o estágio evolutivo em que o macaco vai deixando de ser macaco, adquirindo condições de se tornar um humano. A postura ereta, dos seres humanos, condiz com suas capacidades de racionalidade e consciência.

A espinha dorsal ou coluna vertebral, do homem, dá suporte à sua posição altiva. Quando esta encontra-se com saúde perfeita, suas capacidades de movimento permitem muita flexibilidade. Porém, se ocorrer qualquer acidente com ela, podem surgir problemas, tais como: fraturas, dores, inchaços, paralisação dos movimentos,... O risco de danos físicos na espinha é real e, dependendo da gravidade do impacto ou do mal-jeito, as conseqüências podem ser graves.

Além das dificuldades, provocadas por acidentes físicos, a coluna pode sofrer, também, pela ação de “acidentes psicológicos”. São situações que se configuram como potencialmente capazes de abalar o sentido de retidão da pessoa, de sua firmeza e crença em suas capacidades, de sua racionalidade e inteligência, de sua consciência pessoal, de sua dignidade e valor. Situações que impedem-lhe o reconhecimento de sua possibilidade de olhar sobranceiramente para si próprio e para o mundo, dando-lhe condições de se reconhecer,  verdadeiramente, um ser humano ereto.

Um povo, também, tem sua espinha dorsal. A consciência de sua dignidade  e valor é que o faz sentir-se em pé. Investimentos públicos em escolas, hospitais, lazer e esporte para a população, faz com que as pessoas  se sintam valorizadas social e individualmente. Tratar o povo com descaso é enfraquecê-lo, é o mesmo que quebrá-lo em sua espinha dorsal.

O jovem, a criança, precisam  ser formados mediante valorização de sua dignidade. Para isso, é preciso que sejam tratados com uma mistura de crença, incentivo, estímulo, não poupando-os de que enfrentem pequenos e grandes desafios, que lhes permitam experimentarem do quanto são capazes.

Quanto às dores e males na coluna  é conveniente verificar se não estão sendo causadas por algum fator emocional: algum fato que fere a dignidade da pessoa, destruindo seu sentido de retidão e de inteireza.

 Postado por José Morelli

 

Especializações

Decorrentes de um processo natural de aprimoramento dos estudos e das pesquisas, as especializações ampliam os campos de atuação dos profissionais das diversas áreas do conhecimento humano. No passado, as ciências ainda contavam com meios limitados para se expandirem em seus aprofundamentos. Com as novas descobertas tecnológicas a serviço das ciências, estas ganharam dimensões muito mais amplas. Os conhecimentos referentes a cada parte do corpo humano, por exemplo, se tornaram tão vastos, que alguns anos de especialização não são capazes de possibilitar que estes sejam plenamente conhecidos e assimilados pelos profissionais interessados em adquiri-los.

As especializações ajudam na criação de novas frentes de trabalhos. Muitas atividades que, há alguns anos atrás, eram exercidas de forma não profissional, hoje se constituem como trabalhos especializados. Investir nos estudos exige tempo e custo financeiro. A qualidade de vida das pessoas, hoje, exige atenções especiais a inúmeras necessidades. Esse é um dos motivos que vem pesando no custo da medicina institucionalizada. Esse mesmo fator tem levado à busca de medicinas alternativas e até mesmo de especializações em áreas afins. 

Quem não tem cão, caça com gato” assim diz o ditado popular. Na verdade, mesmo que o gato não deixe de ser também um exímio caçador, ainda assim não se trata de um especialista como o cão da raça perdigueiro, na arte de caçar outros bichos que possam interessar ao homem-caçador. Como é bom poder contar com a prestação de algum serviço por parte de quem o conheça em profundidade, principalmente, quando este seja em benefício da própria pessoa, da saúde de seu corpo e/ou de sua mente.

A sociedade evolui e se aprimora. O mercado de trabalho acompanha essa evolução e esse aprimoramento. O estudo fundamental deve dar a base ética e moral para as futuras especializações. Estas podem servir à construção da vida ou à sua destruição. Quando o ser humano se frustra em sua expectativa de construir, abre-se para outra forma de auto-realização. Seu instinto de sobrevivência, o faz voltar-se para objetivos destrutivos, desde que estes o permitam manter-se pelo menos vegetativamente vivo. A partir deste entendimento, é preciso que os sistemas sociais e econômicos foquem suas atenções em abrir sempre mais espaço para iniciativas que aprimorem os conhecimentos e as possibilidades destes se transformarem em profissões cada vez mais especializadas. .

Postado por José Morelli

Enfrentamento

Uma imagem que pode sugerir a idéia de enfrentamento é a dos cavaleiros medievais, revestidos de armaduras da cabeça aos pés, empunhando pesadas lanças e escudos, e que se enfrentavam até que um conseguisse derrubar e vencer o outro.

Nos caminhos da vida, nem sempre o mais indicado é “negar” a existência das dificuldades, tratando-as como se não existissem. Mais honesto e eficaz é enfrentá-las, reconhecendo-as em sua existência e verdade, olhando-as de frente e avaliando-lhes o alcance. Dificuldades pessoais, de ordem física ou psíquica, exigem que sejam reconhecidas pelo pensamento como existentes, na proporção exata de sua gravidade. Reconhecer, assumir e assimilar uma doença, uma deficiência qualquer, a perda da visão ou da audição, o envelhecimento, não é algo fácil, exigindo esforço e coragem. Passar adiante, não se detendo no que acontece, é um descaso que pode acarretar sérias conseqüências.

Nos relacionamentos com outras pessoas também acontecem situações que precisam ser enfrentadas: divergências de opiniões, choques de interesses, faltas de respeito, atos de violência, não-cumprimento de obrigações e não-reconhecimento de direitos. O silêncio diante de situações como essas é prejudicial. Mesmo que aparentemente tudo se mantenha como se nada estivesse acontecendo, o sentido de dignidade de quem assim se cala não deixará de sofrer abalos, provocando diminuição da auto-estima e da autovalorização.

Os cavaleiros se preparavam muito para se enfrentarem nos campos de provas. Revestiam-se de armaduras e empunhavam armas adequadas. Para não fugir dos enfrentamentos que a vida exige, é preciso força interior e uma personalidade que sirva de base para posicionamentos bem definidos e atitudes firmes.

Um dos objetivos da psicoterapia é justamente o de dar ao paciente condições de distinguir, dentre as dificuldades que tem ou imagina ter, as verdadeiras das falsas,  e de prepará-lo para que as enfrente com coragem e eficácia.

 Postado por José Morelli 

Emoção das cores

           As cores fazem parte da vida. Através dos olhos humanos, elas penetram na mente e dão colorido a sonhos e pensamentos. São classificadas como primárias, secundárias ou terciárias. Existem cores que, pelas reações físicas que provocam, são consideradas quentes,  frias ou neutras. O branco é a síntese das radiações do arco-íris. O preto, ausência de luz.

A maneira tão rica e diferenciada de as cores atingirem cada pessoa, tornando-se parte de sua  história individual e coletiva , permite que possam receber significados variados, despertando e promovendo múltiplas sensações e sentimentos. A ligação do azul ao céu, do verde às plantas, do marron à terra, do vermelho ao sangue e de cada uma das outras cores a objetos bem definidos e característicos, permite a vivência de emoções, com as quais podem ser relacionadas uma série de significados.

Duas variáveis devem ser consideradas, quando se deseja interpretar os sentidos que podem ser atribuídos a uma  cor, para uma pessoa em especial: os significados que, culturalmente, são atribuídos à cor pela sociedade, em que a pessoa está inserida, e os significados que a cor ganhou, associada que foi a acontecimentos vivenciados e incorporados à história de vida da própria pessoa. 

Nas diversas culturas humanas, as cores servem como expressão das relações sociais, estabelecidas entre os que delas participam, dando-lhes significados: o branco do casamento, o preto do luto, o dourado da riqueza, do poder e da pompa, o vermelho da paixão e do amor, o azul do equilíbrio e da   paz.  

A preferência pela cor de uma roupa, ao se sair de manhã cedo, para o trabalho, pode revelar o caráter ou  a afinidade, passageira ou permanente, com o significado que essa cor representa. A emoção do momento, traços da personalidade, podem estar  impressos  nas cores da roupa que escolheu para vestir.

Alguns dos significados emocionais e afetivos, relacionados às cores são: branco = simplicidade; cinza = seriedade; preto =opressão; marrom = melancolia; vermelho = excitação; alaranjado = ciúme; verde = segurança; azul = serenidade; roxo = egoísmo.

Postado por José Morelli

 

 

 

Elaborar

 Quando nos encontramos diante de algum problema, a simples presença deste nos desafia para que tomemos uma atitude, no sentido de resolvê-lo. Se contamos com as condições de superá-lo, nada mais justo do que acreditarmos em nós mesmos e apostarmos em nossa capacidade. Elaborar um problema ou uma situação pessoal conflitante é um trabalho, um fazer mais criterioso, que exige preparo e planejamento de nossa parte e da parte da tarefa que desejamos realizar.

Como primeiro passo para elaborarmos um problema que nos está incomodando, devemos reconhecer quem e como somos, quem e como desejamos continuar sendo e com quais modificações ou retificações de trajetos. Segundo, devemos identificar o problema do qual queremos nos libertar, separando-o de outros com os quais este possa se encontrar misturado e confundido. Terceiro, devemos nos avaliar como sendo maiores e mais poderosos do que nosso problema, descobrindo de quantas maneiras nós mesmos o alimentamos e lhe damos força, por alguma razão escusa pela qual ainda não conseguimos nos dar conta de sua presença em nossa subconsciência.

 Para podermos elaborar, precisamos nos predispor. Quanto maior o sofrimento que o problema nos causa, maior deve ser a provocação por ele exercida no sentido de mobilizar nossas forças para suplantá-lo. No entanto, nem sempre essa lógica funciona. Somos todos exigentes demais quanto às escolhas que nos permitimos fazer, tendo em vista a totalidade de nosso ser e a historicidade de que nos constituímos. E falando em historicidade¸ esta nos conecta com pessoas e acontecimentos que podem nos ajudar a encontrarmos nos emaranhados em que nos colocaram no passado e dos quais, de alguma forma conseguimos ou não nos desvencilhar.

Postado por José Morelli

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Duas vias

Podemos nos achegar de nós mesmos por duas vias: pela via corporal e pela via mental. Nosso corpo fala constantemente e é preciso que saibamos entender as mensagens que ele nos envia. O psicanalista e autor de vários livros Erick Fromm diz que, numa sociedade como a nossa, os indivíduos facilmente se tornam alienados de si mesmos, de seu corpo, das coisas que faz e do que deixa de fazer. Daí a necessidade de se prestar atenção ao próprio corpo, percebendo-o e sentindo-o pelo que ele mostra. Esta via é a partir de fora para dentro, do exterior para o interior.

A segunda via é no sentido inverso: da mente para o corpo, dos pensamentos e sentimentos para a percepção das sensações corporais. Neste sentido, não podemos nos esquecer de que nossa mente é mais ampla do que nos pode parecer à primeira vista, Nela estão contidos o consciente e o subconsciente, sendo que este último é comparável à base de um iceberg muitas vezes maior do que sua parte visível, fora d’água, e que corresponderia ao consciente.

É sempre muito bom vasculhar o que se passa na mente, revirá-la por todos os ângulos, descobrir os segredos nela escondidos. Sonhos, atos falhos, expressões corporais podem trazer à tona conteúdos do subconsciente. Se eles se encontram assim, escondidos, é em razão de alguma dificuldade que temos de reconhecê-los. Possivelmente, algo neles nos incomode e preferimos tratá-los como se eles não existissem. Precisamos, por isso, criar uma disposição de aceitação dessa dificuldade natural a que todos estamos expostos. Só assim a via mental nos poderá permitir o acesso a novidades quanto à realidade de nosso ser e de nosso agir.

Voltando à primeira via, a corporal, esta merece bastante atenção para que possamos ampliar o nosso auto-conhecimento. Nosso corpo age automaticamente em várias de suas funções, ao piscar, ao respirar, ao responder aos estímulos vindos de fora. Botar um pouco mais de atenção a todas essas ações pode nos revelar aspectos de nós mesmos que ainda não nos havíamos percebido existindo em nós. Desvendamo-nos a nós mesmos. Ganhamos mais conhecimentos de como nos inserimos nos contextos em que vivemos. Damo-nos conta de como somos e de como funcionamos. Por fim, mais seguros de nós mesmos, lançamo-nos para fora de nós, indo ao encontro do mundo e das outras pessoas, relacionando-nos com mais liberdade e verdade.

Postado por José Morelli

Dom Quixotismo

O que caracteriza Dom Quixote de La Mancha, personagem de quem surgiu o termo dom- quixotismo?... A figura desse fidalgo, cavaleiro andante, vem descrita na ficção criada por Miguel de Cervantes, uma das maiores obras primas da literatura espanhola e mundial. Sancho Pança era seu fiel escudeiro. Seu plano era andar pelo mundo, desfazendo injustiças, salvando donzelas e combatendo gigantes e dragões. Sua necessidade era, também, de ser admirado por alguém que lhe parecesse especial. Daí a idealização que fez de Dulcinéia del Toboso, a mais bela de todas as damas e princesas encontradas nos livros.

Ao se aproximarem de alguns moinhos de vento, Dom Quixote imaginou que estes seriam gigantes. Avançou sobre eles com o pensamento voltado para sua deusa, Dulcinéia, a qual dedicava todo seu heroísmo.  O vento ficou mais forte e lançou o cavaleiro para longe. Ele havia se aprofundado tanto em seu próprio sonho que começara a ver coisas. Logo após o choque com os moinhos, ele percebe com clareza que os gigantes eram moinhos; porém, seu instinto de defesa o fez achar que algum mago o havia hipnotizado. 

O termo dom-quixotismo não foi criado à toa. Ele tem sentido que vai bem além da história criada por Cervantes. Em maior ou menor dose, o desejo de ser herói se encontra presente em toda e qualquer pessoa, mesmo que seja bem lá no fundo do subconsciente. A admiração por parte de alguém significativo também faz parte desse desejo, nem sempre declarado. O reconhecimento dessa certa tendência já diminui o grau de loucura que o dom-quixotismo traz embutido em si.

Sempre há uma forma de passar da realidade para a irrealidade e da irrealidade para a realidade. O devaneio foi quebrado pela queda provocada pelo vento. Na dialética entre o conforto e o desconforto se pode caminhar com mais objetividade, à semelhança de um artista circense equilibrando-se sobre uma corda bamba.

Postado por José Morelli

 

 

Do que é feito um bairro?

Sua base primeira é o espaço geográfico que ele ocupa, compreendendo o solo e o subsolo. Desse espaço faz parte tudo aquilo que o mesmo contém: relevos, planícies, vales, rios, ribeirões, fontes d’água, árvores antigas e novas, casas, prédios, ruas, praças e avenidas, áreas de lazer e esporte, escolas, igrejas, hospitais, shopping center, fábricas, comércio, bancos, rede de abastecimento de água e de coleta de esgoto, todo aparato necessário ao fornecimento de luz elétrica, telefonia fixa e de celulares, torres transmissoras de rádio e de televisão, etc. etc. As nuvens, enquanto se encontram dentro dos limites que circunscrevem o bairro, também podem ser consideradas como parte dele. Se das nuvens caírem pouca ou muita chuva, esta vai incidir sobre as áreas que se encontram abaixo delas, penetrando-lhes o solo ou escoando através de seus vales e rios.

Um bairro é também feito de gente. Dos que nele nasceram e dos que para ele vieram depois de nascidos. É o que não pode faltar! As muitas espécies de animais domésticos e outros bichos, que nele perambulam, também fazem parte de sua jurisdição e patrimônio. Os passarinhos que constroem seus ninhos nos galhos das árvores e deles saem, voltando depois, trazendo alimento para seus filhotes.

Fazem parte de um bairro os diferentes sons que nele são produzidos, a intensidade com que a luz do sol ilumina o chão e os telhados das casas, a maneira como o vento sopra, levando ou trazendo a poluição, produzida por automóveis e caminhões. 

Um bairro sempre tem que ter um nome, pelo qual é reconhecido e chamado. A partir desse nome, todos aqueles que nascem no bairro recebem um qualificativo próprio. Os nascidos no bairro da Penha de França são chamados de penhenses. Normalmente, os nomes dados aos bairros possuem um histórico que os justifica. As pessoas nascidas num determinado bairro ou que nele residem possuem cabeça, tronco e membros, como os demais seres humanos do resto do mundo. Nas cabeças, essas pessoas possuem idéias: próprias ou advindas do contexto, do ambiente que as envolve. O coletivo cria uma sua representação na mente dos indivíduos. Essa representação se constitui como ponto de encontro, lugar onde cidadãos e cidadãs de um mesmo bairro se reconhecem como coletividade.

Um bairro se faz com idéias, muitas idéias. A essas idéias se associam emoções e sentimentos. Às idéias positivas a tendência é de que se associem sentimentos positivos. Às idéias negativas a tendência é de que se associem sentimentos negativos. A crença no positivo se faz a partir da vivência de acontecimentos construtivos, que acenem para a vida, para a união, para a solidariedade, para a confiança mútua. O dia a dia é vivido de forma rotineira. Os domingos, feriados e dias festivos são momentos especiais em que o bairro, a cidade e o país celebram o viver, experimentando-o e degustando-o em seu inteiro sabor.   

José Morelli   

Discernimento

Quem vota se vota a si mesmo: escolhe para que também seja escolhido (lembrado e contemplado) por aquele a quem escolheu. Todo eleitor, além de se representar a si mesmo, não deixa também de representar as crianças (já nascidas e as que em breve irão nascer) os jovens, os idosos e todos aqueles que, por algum motivo, se encontram impedidos de exercer esse mesmo direito.

Discernimento é a capacidade de escolher da melhor forma possível. Cada pessoa tem o seu próprio discernimento, sua forma única e intransferível de julgar e de escolher (eleger). As informações são fundamentais para que os julgamentos possam se basear naquilo que é e não naquilo que não é. Cada pessoa tem uma espécie de radar ao qual não deve ignorar a existência. Cada pessoa tem um sexto sentido, capaz de detectar o que não condiz com o que de melhor existe em si.

O marketing político serve à venda da imagem dos candidatos e dos partidos que os apoiam. No contexto mercadológico que caracteriza nossa sociedade hodierna, os candidatos são tratados da mesma forma como as mercadorias disponibilizadas para consumo das massas. Os mecanismos psicológicos que regem os juízos determinantes das escolhas servem às estratégias que os marqueteiros dos candidatos se utilizam para venderem as imagens deles.

Associações com estes ou aqueles, repetições tipo água mole em pedra dura tanto bate até que fura, identificações como formas simbólicas que representam classes sociais, níveis culturais e econômicos, status servem como iscas e anzóis para pescar eleitores. Estes, por sua vez, precisam se manter atentos. Devem conversar uns com os outros e não só se deixarem influenciar pelo que dizem as pequenas, médias e grandes mídias. A satisfação que devem dar é, principalmente, a si mesmos, às suas próprias consciências.  

“Ninguém pratica o mal com maior requinte de crueldade do que aquele que o faz com boa intenção”. “Lobos em peles de ovelhas”. “O brasileiro não tem memória ou não sabe votar”. Essas e outras ideias que rondam o imaginário do povo são bons instrumentos de alerta nos momentos de escolher. Vale voltar-se para si mesmo, dando-se a devida importância como cidadão ou cidadã, reconhecendo-se no pleno direito de escolher de acordo com o próprio juízo. O voto de cada um tem valor igual, nem mais nem menos.

Postado por José Morelli

Direito à ingenuidade

As crianças se assemelham aos pequenos cachos de uvas, ainda verdes, que nascem nas parreiras, protegidos por grandes folhas e resistentes galhos. Deste modo, eles conseguem ficar defendidos dos ventos e chuvas fortes, bem como de insetos e pássaros, capazes de destrui-los antes mesmo de chegarem ao pleno amadurecimento. Isto é o que vemos na natureza. De frutos amadurecidos é que são extraídas sementes, com potencial de dar origem a novas plantas e a novos frutos.

As crianças precisam e, por isso, têm o direito de se manterem ingênuas e inocentes diante de realidades, que ainda não se encontram preparadas para encará-las de frente. A vida sentida na ingenuidade é capaz de ter encantamentos importantes, que muito contribuem no fortalecimento da personalidade. Os pais e os adultos em geral precisam saber respeitar esse direito.

Porém, na medida em que as crianças vão crescendo e amadurecendo, física e intelectualmente, precisam entrar em contato com a realidade em seu todo, absorvendo-a pouco a pouco em suas consequências e em seus significados. Uma escada que precisa ser subida degrau a degrau, de preferência sem pular nenhum deles. Trata-se de um processo delicado, parecido com aquele de amparar um frágil vaso de cristal, a fim de que não se trinque com alguma batida mais forte.

Os adultos, por sua vez, já não podem se dar ao mesmo luxo desse direito à ingenuidade. Pelo contrário, homens e mulheres que gozam de saúde e maturidade precisam saber substituir a própria inocência por uma sagacidade ou malícia no enfrentamento com a realidade da vida, sem disfarces.

Num tempo como o de hoje, em que as comunicações podem ser acessadas com tanta facilidade, pais, educadores e autoridades necessitam criar sistemas de proteção ao direito à inocência. Os problemas que surgem a todo instante servem como alertas. É importante que sejam entendidos como desafios à inteligência e à criatividade daqueles que se sentem responsáveis. Os olhares inocentes das crianças sobre o mundo e sobre este nosso momento presente ainda precisam ajudar a humanidade inteira em sua trajetória rumo ao futuro.  Da soma de olhares de crianças e adultos é que as sociedades organizadas poderão conseguir o equilíbrio necessário a fim de que todos cheguem aos melhores lugares das melhores formas possíveis.

Postado por José Morelli

Dimensão de ETERNIDADE

A palavra dimensão se atém a uma categoria de pensamento humano. Ela foi construída a partir de nossa experiência concreta no tempo e no espaço, dizendo respeito à medição de tudo aquilo que é e pode ser mensurado. Já o conceito da palavra eternidade extrapola qualquer entendimento humano experimentado. Seu significado é aplicado a quem sempre existiu, não tendo tido princípio e que nunca terá fim. A eternidade; portanto, merece o qualificativo de incomensurável, isto é: de não ser mensurável por nenhum de nossos padrões de medição, quer sejam eles espaciais ou temporais.

Por conseguinte, o conceito de eternidade foge aos nossos parâmetros. Conseguimos falar dele mais pelo que ele não é do que pelo que ele é. Vivemos nossa experiência de existir. Isso sim nós sabemos o que é. Quanto aos conceitos do que seja “começo” e do que seja “fim” também fazem parte de nossa experiência existencial.  A eternidade transcende, ultrapassa o que entendemos a respeito do que seja o Existir, o Ser (com S maiúsculo). 

Convivemos com um passado (histórico e pré-histórico) que, por ser tão longínquo, se perde no tempo. Quanto ao presente, o número de interpretações a que pode ser submetido ultrapassa aos mais completos códigos de barra. A previsibilidade que podemos ter relativamente ao futuro está sempre sujeita a variáveis cujo controle nos escapa totalmente.

De Platão temos a afirmação que “O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”. Nossa vida não se apresenta como viva a não ser que manifestemos algum movimento: o de nosso coração batendo, pode servir de exemplo. Com todo respeito que merece Platão, não consigo entender que a eternidade possa ser parada, estática, sem movimento. Nosso tempo é um serelepe. Não conseguimos prendê-lo em nossas mãos nem por um segundo. O fato de estar se percebendo duvidando, deu ao filósofo Descartes o ensejo de se reconhecer pensando e, se ele estava pensando, isso era prova de que também estava existindo. A imobilidade de nosso cérebro é apenas aparente. O fluxo elétrico que transita em seu interior imprime-lhe um incrível dinamismo.

Com esse mesmo dinamismo, nossa mente humana também é capaz de, num ictus de segundo, penetrar em pequenas e grandes realidades, validando-as ou negando-as em seus valores e importância.

Postado por José Morelli

 

 

 

Diferencial

Cada pessoa tem seu jeito próprio de ser e de agir: seu diferencial. É a partir do diferencial que se pode distinguir quem é uma pessoa e quem é outra. As diferenças permitem o atendimento às múltiplas necessidades humanas: individuais e sociais. Desde o nascimento, o indivíduo apresenta características que o diferenciam de seus semelhantes. A partir dessas características, herdadas geneticamente, a história de vida de cada pessoa é construída passo a passo, levando-a a direcionamentos próprios e únicos.  

Lugares também possuem suas identidades próprias e, como tais, podem ser identificados e reconhecidos. Assim, a cidade de São Paulo, pode ser reconhecida por suas características próprias. As marcas deixadas por aqueles que a vem construindo, em seus 455 anos, podem ainda serem encontradas não só em textos escritos, como em alguns prédios antigos preservados e monumentos. Da mesma forma, os diversos bairros desta grande metrópole, também possuem características próprias que os diferenciam uns dos outros. Cada um é o que é e precisa ser reconhecido em suas identidades e importâncias. Uns são mais antigos com longa história, enquanto que outros se formaram mais recentemente, com pouca história para contar. Alguns desses bairros, mais novos, tiveram grandes áreas livres de terreno que puderam ser ocupadas por prédios e condomínios de alto, médio ou baixo padrão de qualidade, diferenciais que atendem a necessidades de muitos.  

A Penha de França é um dos bairros mais antigos de São Paulo. Sua fundação é anterior a fevereiro de 1667. São 341 anos de história. A comunidade aqui formada percorreu seu caminho histórico deixando os sinais de sua passagem através de muitas obras, densas de significados. No entanto, nos últimos anos, o centro da Penha viu serem derrubados vários desses sinais, verdadeiros patrimônios históricos: palacetes, mansões, conventos religiosos e outros, que traziam em si a história de seus antigos construtores e moradores. Hoje pouco resta de todo esse patrimônio. Dentre os remanescentes, ainda temos o prédio do antigo Seminário, na Rua Santo Afonso. Este, depois de ter servido ao Hospital Nossa Senhora da Penha, como ambulatório, hoje se encontra totalmente desocupado. A notícia desalentadora que chega, porém, é que o prédio foi vendido e seu terreno deverá ser ocupado por duas torres residenciais. O Seminário fica próximo à Basílica de Nossa Senhora da Penha e forma com ela um conjunto arquitetônico no alto da colina. O sentimento é que esse magnífico prédio poderia ainda continuar a servir a Penha e a Zona Leste, preenchendo urgentes necessidades que ainda precisam ser atendidas aqui, respeitando-se assim a dignidade dos cidadãos e da história deste lugar.    

Postado por José Morelli

Diálogo

Dialogar, trocar informações, comunicar-se, conversar. Conversamos com a vida constantemente. Ela nos fala através dos acontecimentos e nós respondemos às suas perguntas, da maneira como achamos melhor. Podemos concordar ou discordar de suas proposições ou maneiras como as coisas acontecem. Sentimo-nos, muitas vezes, acuados como num canto de parede e precisamos encontrar, em nossa cabeça e em nosso coração, alguma forma de restabelecermos nossa harmonia e integridade, conosco mesmos e com a vida que gira à nossa volta.

Se a vida nos desafia com perguntas, o que dizer então da morte? Esta nos ameaça em todos os momentos à semelhança da espada de Dâmocles, suspensa por um fio sobre nossas cabeças. Do começo ao fim da vida, convivemos com pequenas e grandes perdas, que não nos permitem mantermo-nos iludidos quanto à realidade da vida, com suas possibilidades e suas limitações, no tempo e no espaço.

Dialogamos com a vida através dos acontecimentos. O carnaval nos propõe que entreguemo-nos ao prazer de brincar, de sonhar e de fantasiar.  Podemos ou não concordar com as maneiras como essa proposta nos é apresentada, criando novas formas e propondo-as que se realizem, mesmo que seja apenas no âmbito de familiares ou amigos.

Além de termos que dialogar com as datas comemorativas, previstas no calendário, temos que conviver também com a chuva de notícias que os meios de comunicação derrubam sobre nossas cabeças. Estas nos chegam de algum jeito e atravessam nossas vidas. Nosso ser inteiro responde aos estímulos que nos atingem. Precisamos de força interior para fazer frente a tantos desafios. Só com uma personalidade bem estruturada, apoiada em valores consistentes e firmes, é que somos capazes de filtrar as informações, sem deixar-nos que estas nos desestruturem, deixando-nos abalados ou paralisados.

Se formos firmes em nossa identidade pessoal, reconhecendo-nos quem e como somos, saberemos dialogar com a vida não nos deixando derrubar facilmente por ela. Pelo contrário, conseguiremos nos fortalecer em nossos confrontos com ela, afirmando-nos em nossos pontos fortes e diminuindo a vulnerabilidade de nossos pontos fracos.

Postado por José Morelli

 

 

Desvalorizar o que tem

Este é um fenômeno psicológico que pode ser observado com relativa frequência e que não deixa de ter os seus porquês. Trata-se de uma tendência de a pessoa se sentir atraída por coisas e desejar que sejam suas; porém, depois de tê-las adquirido, perder parcial ou totalmente o interesse que antes sentia pelas mesmas. Bastou o objeto passar a ser considerado seu e este perde o encanto com que brilhava ante seus olhos. Um ingrediente de inveja se esconde no fenômeno de sempre achar que aquilo que é dos outros é melhor e mais bonito do que aquilo que lhe é próprio.

Esse mesmo fenômeno também se evidencia com relação a pessoas. Enquanto alguém é apenas desejado ou desejada não existindo ainda nenhum vínculo de pertença, o interesse de conquistá-lo (a) é total. No entanto, depois de a aproximação ter se concretizado ou firmado, aquilo que era um interesse vai se dissolvendo, podendo até mesmo se transformar em repulsa. Marido, mulher, filhos, irmãos, familiares, amigos podem perder encantos aos olhos de quem não se considera merecedor de tê-los como esposo, esposa, pai ou mãe, irmão ou irmã, parente ou amigo. Quem se julga ou se sente inferior aos outros tende a desvalorizar coisas ou pessoas com as quais possui vínculos de pertencimento.

Acreditar em si, apostar em si é o mesmo que ter consistência naquilo que faz, nas decisões que toma. É esta fé que fundamenta a valorização de si mesmo e, por decorrência, do que lhe pertence. Ter alguma coisa ou pessoa sempre implica em compromisso ou responsabilidade. Uma reciprocidade se estabelece entre aquele que tem com aquilo que é seu. Quem não tem um mínimo de capacidade de resistir à frustração e suportar o peso da responsabilidade pelas atitudes que toma, não é capaz de se sentir confortável ao se vincular com coisas ou pessoas.

O consumismo é uma forma de preencher os próprios vazios e insatisfações. Uma ansiedade que precisa encontrar um apoio que atenue a força das ondas, que desestabilizam o sentido da própria segurança/inseguranças, nas incertezas naturais da vida. 

Os casos mais intensos em que se dá esse fenômeno se configuram como neurose. Um círculo vicioso do qual os indivíduos não conseguem se libertar. Consequência lógica de uma carência de auto-estima, de falta de amor para consigo mesmo. Uma incapacidade de aceitação dos próprios limites e da necessidade de saber esperar e não querer ter tudo imediatamente. Na sabedoria do caminhoneiro, uma frase alerta para esta importante lição: “Não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho!”

Postado por José Morelli

Desligamento

A palavra desligamento é utilizada para indicar o momento em que o paciente recebe alta de sua terapia, deixando de existir a partir daí o compromisso anteriormente assumido, entre este e seu psicoterapeuta. Interrompe-se a freqüência com que o paciente ia às sessões, no lugar pré-estabelecido e nos dias e horários combinados. Desfaz-se, formalmente, o vínculo terapêutico.

Durante o período do tratamento, o esforço e a dedicação que envolveram paciente e psicoterapeuta  visavam, por um lado, combater a doença e, por outro, fazer expandir a saúde do paciente, ampliando suas capacidades de se cuidar. Nessa tarefa, cada um assumiu papéis complementares, estabelecendo-se uma dinâmica na interação entre ambos cristalizando-se um vínculo, um sentimento profundo com muitos possíveis significados.

No momento em que, de comum acordo, decidem-se pelo desligamento, inicia-se um novo processo, uma nova maneira do paciente lidar com suas dificuldades. Sem poder contar com o apoio direto do terapeuta, o paciente traz para si os dois papéis: o dele próprio e parte do que exercia o terapeuta, assumindo sua vida com mais autonomia. O desligamento pode ser entendido como uma emancipação.

Se o terapeuta avaliar que o paciente ainda não se encontra preparado para desligar-se, recomenda-lhe que  prolongue seu tratamento por mais algum tempo. Com isto, pretende que o paciente se equipe melhor para que, ao desligar-se, esteja em condições de levar adiante sua vida, desenvolvendo-se firmemente, administrando seus pontos fortes e fracos, sem  riscos desnecessários de recaídas. 

Postado por José Morelli

 

 

Depressão

 Sensação de quem se encontra deprimido, esmagado diante de certos acontecimentos desfavoráveis, impeditivos de realização pessoal. Depressão pode também significar afundamento. Nesse sentido, o bolo de cenoura, feito na semana passada, também ficou deprimido. A quantidade de fermento colocado em desacordo com o indicado na receita, fez com que, num primeiro momento, o bolo crescesse mais do que devia. Depois, diminuiu de altura, ficando com um sensível afundamento bem em seu meio. Uma expectativa frustrada sempre promove alguma sensação de depressão. Sonhar, idealizar demais é como exceder na quantidade do fermento para o bolo. O choque com a realidade pode ultrapassar as forças de suportá-la, provocando sensações de dor com variada intensidade.

A dor da depressão pode ser comparada a de uma pressão sobre a cabeça e os ombros. Além de estampar-se no rosto, envelhecendo-o, a depressão faz com que a pessoa fique com as costas curvadas, diminuindo a quantidade de ar em cada respiração. Daí que, para fazer com que o sintoma depressivo diminua de intensidade, é recomendável que o individuo faça um exercício de respiração, aspirando e expirando o ar, de forma mais profunda e compassada, aumentando a quantidade deste nos brônquios, obrigando assim as costas a se endireitarem e o peito a se alargar. Esta nova postura é incompatível com a depressão. Adotando-a, a pessoa faz com que o sintoma depressivo seja empurrado para fora. 

Nem toda depressão é negativa. Ela pode ser mesmo parte de um processo necessário em que o indivíduo, primeiro, encara a realidade sem falseá-la, sentindo-a em toda sua intensidade, e em seguida, se prepara para enfrentá-la, recuperando-se em suas melhores forças.

As razões que levam a uma depressão podem ser sem fundamento algum. Neste caso, a razão (reflexão), pode ser o meio apropriado para extirpá-la ou atenuá-la. Corrigida a ideia errônea, a respeito de si próprio e do objeto com o qual se defronta, a depressão vai se desanuviando pouco a pouco, até desfazer-se parcial ou totalmente. Nos casos em que a pessoa não consegue se livrar da depressão, contando apenas consigo mesma, é importante que busque ajuda externa, procurando um profissional competente e de confiança.

Postado por José Morelli

Dentro - Fora

Seus nomes , começando pelo menor, são: mínimo; anular; médio; indicador e polegar. Numa versão mais infantil, podem também ser chamados de: minguinho; seu-vizinho; pai-de-todos; fura bolo e mata piolho. Nossos dedos nos servem de mil maneiras. Eles são os pontos mais avançados de nossas mãos e de nossos braços. Com eles, podemos segurar e soltar a uma instantânea ordem de nosso cérebro.

A engenharia com que funcionam não consegue ser imitada pelos robôs mais perfeitos. É admirável observar os dedos dos violinistas, quando tocam seu instrumento. A sensibilidade que têm na ponta de seus dedos, a rapidez com que os movimentam, as posições que conseguem e a coordenação entre os dedos de uma e de outra mão... Estas e outras habilidades, desenvolvidas por eles são, verdadeiramente, dignas de nossa maior admiração.

Uma consulta ao dicionário mostra como a imagem dos dedos se encontra presente em textos da literatura e no linguajar popular. Nossos dedos são sugestivos de muitas ideias. Com a ação deles podemos nos identificar: escolher a dedo é o mesmo que escolher com cuidado, com dedicação; cheio de dedos é o mesmo que confuso, atrapalhado; ter dedo é o mesmo que ser hábil, fazer com jeito; meter o dedo em tudo é o mesmo que intrometer-se ; não levantar um dedo é o mesmo que não fazer esforço algum; pôr o dedo na ferida é o mesmo que mexer no ponto mais grave da questão.

Costumam dizer algumas mães com mais filhos que estes são iguais aos dedos das mão, um diferente do outro; porém, todos se completam e formam um conjunto, cada um desempenhando e cumprindo seu papel, em vista à realização dos objetivos que têm as mãos, capitaneadas pela mente, sem dúvida.

As crianças, desde bem pequenas, mexem seus dedinhos. Existem várias brincadeiras que fazem uso das mãos e dos dedinhos das crianças. Com isso, elas vão formando referências, vão se encontrando e se descobrindo em seu coró e nas coisas que estão à sua volta, iniciando a longa série de aprendizados que a vida lhes reserva, dando-lhes nomes, assim como os dos dedos de suas espertas mãozinhas: minguinho; seu-vizinho; pai-de-todos; fura bolo e mata piolho, todos de fácil entendimento em suas práticas e posicionamentos.

Postado por José Morelli

 

Dedos das mãos

Seus nomes , começando pelo menor, são: mínimo; anular; médio; indicador e polegar. Numa versão mais infantil, podem também ser chamados de: minguinho; seu-vizinho; pai-de-todos; fura bolo e mata piolho. Nossos dedos nos servem de mil maneiras. Eles são os pontos mais avançados de nossas mãos e de nossos braços. Com eles, podemos segurar e soltar a uma instantânea ordem de nosso cérebro.

A engenharia com que funcionam não consegue ser imitada pelos robôs mais perfeitos. É admirável observar os dedos dos violinistas, quando tocam seu instrumento. A sensibilidade que têm na ponta de seus dedos, a rapidez com que os movimentam, as posições que conseguem e a coordenação entre os dedos de uma e de outra mão... Estas e outras habilidades, desenvolvidas por eles são, verdadeiramente, dignas de nossa maior admiração.

Uma consulta ao dicionário mostra como a imagem dos dedos se encontra presente em textos da literatura e no linguajar popular. Nossos dedos são sugestivos de muitas ideias. Com a ação deles podemos nos identificar: escolher a dedo é o mesmo que escolher com cuidado, com dedicação; cheio de dedos é o mesmo que confuso, atrapalhado; ter dedo é o mesmo que ser hábil, fazer com jeito; meter o dedo em tudo é o mesmo que intrometer-se ; não levantar um dedo é o mesmo que não fazer esforço algum; pôr o dedo na ferida é o mesmo que mexer no ponto mais grave da questão.

Costumam dizer algumas mães com mais filhos que estes são iguais aos dedos das mão, um diferente do outro; porém, todos se completam e formam um conjunto, cada um desempenhando e cumprindo seu papel, em vista à realização dos objetivos que têm as mãos, capitaneadas pela mente, sem dúvida.

As crianças, desde bem pequenas, mexem seus dedinhos. Existem várias brincadeiras que fazem uso das mãos e dos dedinhos das crianças. Com isso, elas vão formando referências, vão se encontrando e se descobrindo em seu coró e nas coisas que estão à sua volta, iniciando a longa série de aprendizados que a vida lhes reserva, dando-lhes nomes, assim como os dos dedos de suas espertas mãozinhas: minguinho; seu-vizinho; pai-de-todos; fura bolo e mata piolho, todos de fácil entendimento em suas práticas e posicionamentos.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Cumplicidade

O conceito de cumplicidade é aplicado, em larga escala, na área da justiça criminal. Cúmplice é aquele que participa na idealização ou na consecução de uma ação criminosa, realizada por um agente que a perpetra. Alguém pode tornar-se cúmplice colaborando diretamente da ação ou facilitando que esta aconteça, por sua tolerância e/ou permissividade.

Ocorre que ações criminosas, praticadas por mais indivíduos, além de causarem os prejuízos diretos e intencionais às vítimas, não deixam de interferir negativa ou positivamente na dinâmica do relacionamento entre os próprios envolvidos, distanciando-os ou aproximando-os ao ponto de passarem a se constituir como organização criminosa.

Marido e mulher também se cor responsabilizam pelo que fazem ou deixam de fazer; por isso, tornam-se cúmplices um do outro. A mútua utilização dos desvios de caráter e das consequências práticas destes, no cotidiano do casal e da família, os leva a uma cumplicidade. Constroem seus relacionamentos estabelecendo um equilíbrio, no qual os malfeitos são tolerados e mesmo desejados, por causa das vantagens que entendem tirar destes.

A interferência negativa da cumplicidade, no relacionamento entre casais, pode variar muito, dependendo das personalidades envolvidas. Há casais em que a tolerância se dá apenas num sentido: é sempre o mesmo(a) que tolera, procura entender, engole seco, mostrando só e sempre seu lado compreensivo, capaz de tudo aguentar. Deve ser sempre flexível para aceitar o que vem do outro(a) e inflexível para o que vem de si mesmo, não modificando nunca sua maneira de responder àquilo que lhe é imposto pelo outro(a).

Quando um casal estrutura seu comportamento mútuo de uma forma muito rígida, não aceitando modificações, desenvolve um relacionamento neurótico. A ligação que um estabelece com o outro fica alicerçada não no que cada um tem de melhor, mas de pior: no ponto negativo da personalidade de cada um. Equilibram-se na corda bamba e desgastam-se com o medo que têm um do outro.

Quando marido e mulher não temem reconhecer as próprias maldades, explicitando-as através de discussões e brigas constantes, acabam, dessa forma, estruturando um relacionamento doentio. No fundo, talvez achem que é assim que se merecem, por serem mesmo maos e feios, jogando um no outro aquilo que têm dificuldade de reconhecer na própria pessoa.

Postado por José Morelli

Criatividade

É próprio de gente ter criatividade, isto é, fazer uso da capacidade humana de inovar, de transformar-se, em pensamentos e atitudes, e de transformar a realidade que está à volta. A prova de que esta capacidade existe salta aos olhos de quem a queira perceber. Basta observar a quantidade de novos aparelhos que são lançados diariamente no mercado e oferecidos aos consumidores, através da propaganda. A criatividade é um processo. De um invento se vai a outro, formando um “crescendo”, que conduz a um aprimoramento dos produtos e até mesmo a uma sofisticação destes.

A criatividade é um meio que o ser humano possui para responder aos desafios que lhe são impostos pela vida, em seu dia a dia. Diz o provérbio que “quem não tem cão caça com gato”. E vai que, numa dessas, dá certo!... Da tentativa de encontrar solução, esta chega até com melhor qualidade. Assim, abre-se um novo caminho aos indivíduos e à sociedade!

Tempos atrás, em manchete de primeira página, um grande jornal de São Paulo, trouxe de que a Zona Leste da Capital é, em toda a cidade, a que tem perdido mais empregos e salários. A conseqüência lógica disso é que existe menos dinheiro circulando por aqui. E se existe menos dinheiro, também são feitos menos negócios. Todo mundo fica como que com a corda no pescoço, no sufoco portanto. Uma situação muito difícil; porém, propícia para que as pessoas possam desenvolver sua criatividade.

Mas é preciso um mínimo de condições. Em pleno vazio, nada se pode fazer. Algum pequeno apoio é necessário que permita o início da subida, alguma mão estendida que ajude. Os jovens são os que mais precisam desse primeiro empurrãozinho. Todos precisam, na verdade!

Necessidade de uns para com os outros é o que não falta. As pessoas precisam crescer de muitas maneiras. A área de prestação de serviços é a que tem apresentado maior desenvolvimento, desde que a mão de obra humana passou a ser substituída por máquinas, por inventos tecnológicos cada vez mais eficazes. Os desafios do mundo moderno são muitos. Todos têm que aprender a viver melhor e a trocar entre si suas descobertas.

Postado por José Morelli

Criar defesas corporais e psicológicas

O organismo humano precisa de anticorpos que lhes sirvam como defesas contra gripes, viroses e outros tipos de infecções. Na medida em que um indivíduo mantém contato com o seu meio ambiente, vão sendo estabelecidas trocas entre ambos, que tendem a adequar um ao outro, dando-lhes condições de melhor interação e convivência. A criança que, desde os seus primeiros meses de vida é exageradamente protegida nos contatos com os microorganismos, que proliferam em seu meio externo, não consegue desenvolver defesas contra muitos desses intrusos que, de inimigos podem e devem se transformar em seres menos nocivos.

 

O medo exagerado de contágio que leva os pais a adotarem posições extremadas quanto à proteção da criança frente ao mais leve vento, à mínima exposição ao sol, criando-lhe aversão de mexer na terra com as mãos ou de pisar com os pés descalços no chão, essas e outras restrições impedem-na de formar, no próprio corpo, um sistema de defesas capaz de protegê-la verdadeiramente. É mediante enfrentamentos com o meio que se estabelece a dinâmica que permite a formação dos processos de desenvolvimento das defesas corporais de humanos e irracionais.

Quanto às defesas psicológicas dos seres humanos, estas também se desenvolvem a partir das interações que estes estabelecem uns com os outros, com os fenômenos naturais e com as coisas em geral, cada uma com os significados que a mente vai lhes atribuindo. Da mesma forma como acontece nas defesas corporais, toda e qualquer proteção exagerada pode ter consequências negativas. É preciso acreditar na capacidade auto-regenerativa tanto do organismo físico como da capacidade mental/emocional das pessoas, quando em suas condições normais (saudáveis) de desenvolvimento.

O contato natural com o meio ambiente permite uma assimilação gradativa das condições adversas presentes no mesmo. As capacidades humanas vão, pouco a pouco, se desenvolvendo no sentido da superação, adaptando-se física e mentalmente. A visão com que cada indivíduo se percebe e ao mundo que se encontra à sua volta não pode ser apenas negativa, geradora de medo. É importante que as experiências concretas, vivenciadas no dia a dia, permita à maior parte das pessoas que essa estruturação se construa a partir de constatações que inspirem sentido positivo à própria vida, à vida dos outros e à vida do planeta que é o habitat comum de todos nós, seres humanos.     

Postado por José Morelli   

  

Crescimento político

O Brasil vive seu momento democrático desde o restabelecimento do direito ao voto, com o fim da ditadura. De lá para cá, tem havido várias eleições e o povo tem participado de todas elas, umas com mais outras com menos envolvimento. As campanhas dos candidatos vão se modificando pouco a pouco.  É preciso que o sistema se aprimore. Na medida em que os defeitos vão aparecendo, torna-se necessário identificá-los e corrigi-los. As leis e regras estabelecidas servem para isso.

Viver tem suas dificuldades. Conviver também não é nada fácil. O Brasil convive com todos nós que aqui vivemos. Existem muitas diferenças entre nós brasileiros e não-brasileiros daqui deste nosso pedaço de chão. Cada cabeça uma sentença, um ponto de vista, um olhar e uma leitura diferentes da realidade que nos cerca. Quantos interesses divergentes... Somos muitos segmentos sociais. De algum modo, podemos dizer que ainda nos constituímos como várias “tribos”. Nem toda praia sentimos como sendo nossa. Identificamos algumas como familiares, com outras não temos nenhuma afinidade. Os políticos eleitos, principalmente do legislativo, devem representar o povo em suas diferenciações. O povo precisa saber escolher bem e cobrar fidelidade de seus representantes.

As desigualdades têm gerado antagonismos, organizações paralelas, poderes paralelos. Estas divisões enfraquecem a sociedade, desgastam, minam as forças da nação. Por isso, o combate às desigualdades é o meio mais eficaz de construirmos uma nação justa, mais próspera e feliz.

Os cenários vão se modificando a cada ano que passa. Hoje temos isso que está aí, sem tirar nem por. Percebemos que nada é assim tão simples. As relações são intrincadas. Assim como as variações climáticas dependem das influências de outros lugares, do mesmo modo a economia do país também depende de uma rede de relacionamentos que precisa ser inteligentemente e exaustivamente trabalhada.

O ato de votar é pessoal. Ele se fundamenta no valor de cada indivíduo. Cada um de nós possui sua própria consciência. A consciência é um espaço sagrado que temos que respeitar em nós. Nela julgamos cada coisa que fazemos. Ela nos diz o que é justo e o que é injusto, o que devemos ou não devemos fazer. O voto não deve visar nosso bem particular, mas o bem da coletividade em seu todo.      

Postado por José Morelli    

Costas

Experimente atiçar um gato e observe como este reage quando se sente ameaçado em sua segurança! Você vai notar que o felino fica com os pelos de seu dorso, de suas costas, todo ouriçado. Seu corpo inteiro se prepara para uma reação. A resposta pode ser a de ataque ou de fuga. As costas exercem um papel importante na hora em que muitas espécies animais se lançam sobre suas presas a fim de transformá-las em alimento. A reação ao medo mobiliza sentimentos de raiva. Quanto mais esta vai sendo armazenada nas costas maior é a necessidade de descarregá-la, através de movimentos vigorosos dos braços e do tronco. A respiração ruidosamente participa desses movimentos.

As costas representam um perigo maior, uma vez que a vigilância dos próprios olhos não consegue resguardá-las. Daí o nome de “guarda-costas” para os seguranças pessoais, que têm como ofício proteger personalidades de ataques e agressões imprevisíveis. Atacar pelas costas é entendido como sendo uma traição.Costa-larga” é aquele sobre quem são colocadas muitas incumbências e responsabilidades.   Sobrecargas são sentidas como além da conta e acabam por causar sentimentos negativos de desrespeito ou desconsideração. A consequência dessas sobrecargas pode ser a de fazer o indivíduo sucumbir debaixo de tamanho peso ou de levá-lo a uma reação de “jogar tudo para o alto”, excedendo-se no impulso de libertar-se. Quem não se respeita não dá ao outro a dimensão do próprio limite. Instado pelo mau exemplo daquele que assim procede, outras pessoas podem se sentir autorizadas e com direito de não respeitá-lo também.

As costas guardam a coluna vertebral e a caixa torácica que protegem os pulmões. As costas possuem músculos que ajudam nos movimentos dos ombros e contribuem para a boa postura. Por sua estética e pelas funções exercidas no conjunto do corpo, a mente humana associa às costas, masculinas e femininas, uma série de significados.

Quando algum problema atinge as costas, estas reclamam transmitindo mensagens de dor ao cérebro. Deste modo, essa parte do corpo consegue chamar a atenção sobre si mesma, devendo ser prontamente atendida em suas necessidades.

Postado por José Morelli

 

 

 

Coragem

Coragem de ser e de se apresentar como é e com as qualidades e os defeitos que lhes são próprios. Essa palavra, originária do latim, é formada da junção do vocábulo “cor”: o mesmo que coração (em português) ao sufixo “aticum”, utilizado para indicar a ação da palavra que o precede. Embora os conceitos se formem no cérebro, eles têm repercussão direta nos sentimentos. E como estes parece terem ressonância no peito, torna-se compreensível que a construção da palavra coragem tenha muito a ver com o peito e com o coração.

Assim, a ideia expressa no livro “O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal” - de Pierre Weil e Roland Tompakon - de que a coragem dos super-heróis é mostrada no peito inflado desses personagens da ficção, fica muito bem demonstrada a importância da relação existente entre coração e coragem. Que o diga a postura corporal dos que se encontram tomados e dominados pelo medo: encolhidos e cabisbaixos.

Na verdade, coragem não significa ausência de medo. Coragem faz contraponto ao medo da mesma forma como medo faz contraponto à coragem. Enquanto uma se instala no latente (no escondido da alma), o outro se instala no manifesto, deixando-se mostrar publicamente. Coragem e medo são como a “cara” e “coroa”: duas faces de uma mesma moeda.

Todos nos construímos no decorrer de nossas vidas. É pra isso que ela nos é dada. O olhar que temos para nós mesmos e o olhar que temos para o mundo que nos cerca não pode, simplesmente, nos derrubar ou, antes, deve nos fortalecer e dar-nos segurança quanto àquilo que nos propomos realizar.  Porém, como todo exagero deve ser evitado, coragem não pode ser confundida com temeridade, que é o mesmo que excesso de ousadia, imprudência ou irresponsabilidade.

Voltando ao foco do assunto e para fechar o texto, vale registrar que a coragem serve como reforço à autoestima e que, com a nossa autoestima reforçada, aumentam nossas condições pessoais de crença nas próprias capacidades de lucidez e de Inteligência, de amor e de afetividade bem orientadas.

Postado por José Morelli

 

 

Convicção

Convicto é aquele que é ou está convencido de alguma coisa, que considera importante. A realidade pode ser vista e entendida a partir dos mais variados pontos de vista. Quanto maior for a capacidade de visualizá-la, maiores serão os entendimentos e compreensões a seu respeito. “Timeo hominem unius libri”. A tradução desta frase latina pode ser assim: “Temo o homem que possui uma única visão da realidade”.

No contexto em que nos encontramos hoje, com tantas possibilidades de usufruir os mais variados tipos de bens de consumo, somos fortemente tentados a fechar-nos em nossa individualidade. Abrir o leque de possibilidades de leituras dos fatos e acontecimentos é sempre saudável. Na contramão desse contexto, quero agora contar a história do Clemente.

Clemente viveu na cidade de Viena, na Áustria, num tempo particularmente difícil. As lutas políticas produziam muitas guerras entre vários países da Europa. Nas ruas das cidades havia muita pobreza. Clemente se sensibilizava principalmente com as crianças desabrigadas e passando fome por todos os cantos da cidade. Fazendo o que estava no seu alcance, passou a reunir essas crianças numa casa, transformando-a num abrigo para menores. Numa noite fria, percebendo que não havia nada para dar de comer para as crianças, no dia seguinte, Clemente saiu em busca de alguma ajuda. Numa taberna, encontrou dois homens que estavam bebendo em uma mesa. Aproximou-se dos dois, pediu licença e falou da necessidade que estava vivendo naquele momento. Um dos homens, já alterado pela bebida, como resposta, escarrou e deu-lhe uma cusparada no rosto. Clemente, sem se mostrar perturbado, tirou o lenço e limpou o rosto. Depois, voltando-se para o homem, disse-lhe convicto: “Bom, meu amigo! Isto é o que você tem para me dar. Agora, eu quero saber o que você tem para oferecer para as minhas crianças que estão passando fome?”

O historiador deste fato registrou ainda que a atitude do Clemente fez mudar o pensamento e o sentimento do homem. A partir daquele dia, ele se tornou um benfeitor do abrigo, passando a ajudar as crianças no que podia.

Convicção é uma força interior, uma projeção do próprio ser, do próprio pensamento e sentimento, um investimento em algo que se acredita, em algo que se dá valor. Clemente achou que a causa das crianças tinha mais importância, naquele momento, do que qualquer desprezo que fosse dirigido à sua pessoa. Uma questão de ponto de vista apenas, mas que pode fazer muita diferença.     

Postado por José Morelli