quinta-feira, 27 de outubro de 2022

16 de junho de 1802

 (matéria escrita por ocasião da festa do rosário de 2015)

De onde vem a palavra aniversário? Antes de falar que não sabe, pense um pouco!... Se você identificou que é a junção de ani + versário, está na pista certa! De acordo com a etimologia dessa palavra, explicada no Wikipédia do Google, aniversário vem do latim anniversarius (anni = "ano" + vers = "que retorna" + arius = "data"), que significa "o que volta todos os anos" ou "o que acontece todos os anos". Quanto às posições siderais, em que o planeta Terra se alinha aos demais astros e estrelas, em suas trajetórias em torno do Sol, passados trezentos e sessenta e cinco dias, o mesmo retorna à posição em que se encontrava, completando mais um aniversário ou mais uma volta. Em seu movimento de rotação em torno de si mesma, a Terra, passado um ano, volta a se posicionar no mesmo ângulo em que se encontrava, recebendo a incidência da luz e do calor solar, o que determina a alternância das estações, em cada um dos dois hemisférios: norte e sul.

No próximo mês de junho, precisamente no dia 16, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Penha estará aniversariando: 212 anos de sua aprovação, pelo bispo da diocese de São Paulo, a pedido da Antiga Irmandade dos Homens Pretos da então Freguesia da Penha de França. De acordo com as informações constantes no Livro de Assentamentos da Irmandade, desde o ano de 1755, esta já existia na Penha. Dela participavam negros escravizados e alforriados. Certamente, a aprovação pelo bispo foi recebida com alegria. Além de seu caráter de templo religioso católico, a Igreja também tinha o direito de, junto a ela, enterrar dignamente os seus mortos. Nos dias dos festejos, as contingências astrais serão semelhantes àquelas que ocorreram há mais de dois séculos passados.   

Em sua 13ª. Edição, a Festa do Rosário vai homenagear, especialmente, aos construtores da Igreja: homens e mulheres que faziam parte da assim chamada Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França. O tema escolhido é: “Recado aos Nossos Ancestrais”. Se quisermos ser valorizados em nossa história de vida, também devemos reconhecer o valor da história vivida por nossos antepassados. Dependemos, em nosso existir, daqueles que nos antecederam e nos transmitiram a vida e o mundo por eles construído. A Igreja do Rosário é uma herança histórica, um patrimônio cultural denso de ensinamentos: em condições tão adversas, os irmãos e irmãs do Rosário nos deixaram o bom exemplo da solidariedade no sofrimento e da esperança na redenção/libertação.

Postado por José Morelli

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Destampar-se

 A primeira imagem que vem à mente é a de uma panela com tampa. Se esta se encontra com água fervente e ninguém a retira, o normal é que esta vá sendo forçada, pela pressão que vem de dentro, até que se abra e deixe sair o ar que se encontra nela comprimido.

Da mesma forma, o paciente que busca uma psicoterapia, também precisa tirar-se a própria tampa. Essa tarefa não é atribuição do terapeuta. A este compete criar as condições mais favoráveis para que isso aconteça, inspirando confiança no paciente e dando-lhe espaço para que possa falar de si, com total liberdade.  O grau de dificuldade de cada um para proceder a essa abertura varia muito. Há os que têm mais facilidade e os que precisam vencer grandes resistências (defesas pessoais) para conseguir fazê-lo.

O sofrimento do paciente é o que funciona como a pressão interna que força a remoção da tampa da panela. Quem melhor pode identificar o que o faz sofrer é o próprio paciente. Falar, chorar, emocionar-se pode servir como expressão da dor interna que precisa ser mostrada e reconhecida. O reconhecimento e a aceitação daquilo que incomoda já se constitui como aceitação/assimilação da própria verdade. Parte essencial do processo de resgate ou de re apropriação de si mesmo.

Quem se tira a tampa se mostra, em primeiro lugar, para si próprio. A coragem de fazê-lo deve ser maior do que a vergonha de carregar dentro de si aquilo que o faz sofrer. Tal atitude implica em aceitação da própria realidade, da própria verdade. Em última análise, quem busca se conhecer melhor sempre acaba tendo que se reconhecer, basicamente, em sua condição de gente, de pessoa humana, falível, como todos os demais seres humanos. A perfeição é um atributo divino. Ninguém é Deus, nem todo-poderoso.

A grandeza humana se encontra no compartilhar da vida em seu todo. Qualidades e defeitos fazem parte da realidade que nos é comum. O aprendizado da vida só é conseguido mediante a vivência do dia a dia. Problemas emocionais ou existenciais se curam mediante vivências concretas: visíveis, audíveis e tangíveis.

Postado por José Morelli

 

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Tarefas & Tarefas

 Desde que o convívio entre homem e mulher passou a ser organizado, nas sociedades primitivas, algumas tarefas foram atribuídas aos homens enquanto outras às mulheres. Nas tribos indígenas, que habitavam as terras brasileiras na época do descobrimento, como costumam dizer os historiadores, a caça e a pesca eram tarefas reservadas ao homem e a agricultura à mulher. O mundo ocidental foi marcado pela influência do patriarcalismo, onde a figura do homem era a que exercia maior dominância. Já a sociedade africana é considerada matriarcal, uma vez que, nela, o poder da mulher marca mais profundamente as relações entre todos.

Resquícios dessas antigas culturas e tradições ainda são encontrados, principalmente, nos pensamentos e nos sentimentos de alguns segmentos de cidadãos e de cidadãs hodiernos. Ninguém ignora que a mentalidade machista ainda é forte em um número maior de pessoas do que se poderia imaginar. Por mais que a tal divisão das tarefas, hoje, venha sofrendo mudanças em suas práticas, o núcleo que justifica uma como que “reserva de mercado” ainda permanece intocável e soberano.

Algumas estruturas são mais resistentes às mudanças que outras. As chamadas máfias podem servir como exemplo. Tarefas ou serviços “sujos” eram ou são atribuições masculinas. Tarefas ou serviços “limpos” eram ou são atribuições femininas. As mamas e as mulheres, em geral, ignoravam os crimes que o marido e filhos praticavam.  Alguns desses crimes eram os próprios chefes que os praticavam, outros eram delegados aos subalternos. Às primeiras damas, esposas de políticos que ocupam postos do executivo, ainda hoje, são atribuídas tarefas que cumprem papéis de assistencialismos.

Independente das divisões de tarefas, homem e mulher são iguais no que diz respeito à própria dignidade e competência. Diferenças corporais são inegáveis. O psiquismo de cada um dos sexos também pode apresentar diferenças. O caminho histórico da humanidade tem despertado para o reconhecimento de grandes capacidades independentemente do sexo. Homens e mulheres são potencialmente competentes para exercerem as mais incríveis tarefas, necessárias à construção de qualquer sociedade humana.

Postado por José Morelli