segunda-feira, 29 de março de 2021

Saber perdoar-se para conseguir perdoar

 Consegue perdoar-se e perdoar quem é capaz de enfrentar a própria fraqueza e falibilidade, superando a exigência neurótica de perfeição, que carrega em seu íntimo. Das experiências consigo mesmo, decorrem de forma instantânea as interações que estabelece junto aos outros.

Páscoa é apelo de paz, amor e superação. Mas; na contingência humana, os bens da paz, tão enaltecidos nesta época do ano, não são possíveis sem o perdão mútuo: sem o perdoar-se e sem o perdoar efetivos. O perdão, assim entendido, é um valor positivo, uma qualidade indispensável ao desenvolvimento das melhores forças construtivas humanas: princípio de inclusão mais do que de exclusão entre todos.

O todo precisa de suas partes, integradas entre si, para não se fragmentar, assim como aconteceria com um corpo que se dissociasse em seus membros. As desigualdades sociais entre os seres humanos separam a humanidade em partes desiguais, que acabam se antagonizando. Em sua consciência mais profunda, a humanidade sabe que as partes que a compõem precisam ser rejuntadas constantemente, a fim de esta possa manter a própria integridade. Daí a necessidade de parar, voltando-se para o próprio interior, reencontrando-se e harmonizando-se em tudo o que faz parte da própria realidade, incluindo a do meio ambiente que a envolve.

Ninguém pode dizer que seja fácil perdoar-se para conseguir perdoar. Não é fácil mesmo, mas é algo capaz de gerar pensamentos e sensações positivas de harmonia e de felicidade.

A celebração da morte e ressurreição de Jesus é um convite a um recomeço, a uma retomada de si, a um reordenamento daquelas questões que ficaram mal resolvidas, dissociadas e em desordem, um convite a um entrelaçamento consigo mesmo e com o outro, a fim de que voltem a caminhar juntos, com mais alegrias no viver e no conviver.  

Postado por José Morelli

quinta-feira, 25 de março de 2021

Saber perder

 Este é o título de um livro, pequeno no tamanho; porém, importante no valor de sua mensagem. Ele foi escrito por Chiara Lubick, fundadora do Movimento Focolare. A tese nele desenvolvida pode se resumir no seguinte: “quem sabe perder: não perde, ganha; quem não sabe perder: perde, realmente”. Gostaria que você, leitor/a, refletisse e avaliasse se existe ou não consistência nesse entendimento. 

É claro que, para quem é imediatista e quer tudo para ontem, para quem só vale levar vantagens, fica difícil aceitar qualquer perda, mesmo que esta seja por apenas alguns poucos momentos. A vivência de cada um de nós pode demonstrar, na prática, que não é fácil saber perder. A sensação de angústia provocada pela perda, a incerteza de que dela possam reverter ganhos e mesmo o conformismo, expresso no dito popular: “mais vale um pássaro na mão, do que dois voando”, exigem autocontrole e segurança pessoal. Sem um mínimo dessas capacidades não é possível a prática do saber perder. Quem não possui essa estrutura mínima é porque não consegue se possuir e, consequentemente, se sentir seguro quanto à possibilidade de se apoderar do que está ao seu alcance.

Constatar e assumir a falta de estrutura pessoal que permita maior tolerância à frustração já é a aceitação de uma perda: primeiro passo para uma tomada de atitude no sentido de buscar formas de transformá-la em algum possível ganho. Acredito que a aceitação dessa realidade seja fundamental para construção de uma personalidade mais amadurecida.

O entendimento de que os filhos não são dos pais, não pertencem a eles, é um juízo próprio de quem é adulto o suficiente para entender a vida pelo que ela é. A observação tem demonstrado como a ânsia de ter o filho só para si, com exclusividade, acarreta como consequência uma perda ainda maior do filho. Mesmo que, aparentemente, o filho esteja aceitando essa imposição, o sentimento dele, machucado pelo fato de não ter sido respeitado em seus direitos, o dividirá ao meio, exacerbando lhe a raiva dentro de si.

É preciso perceber todo o ganho embutido na perda de se conceder ao filho o direito de ser para si mesmo, de assumir a própria responsabilidade, de poder se vincular às outras pessoas e, com elas, compartilhar do próprio existir. Sem querer tornar absoluta a ideia do que foi exposto até aqui, termino com um alerta: todas as vezes em que se teme demais perder alguma coisa, corre-se um risco ainda maior de não conseguir concretizar esse objetivo  tendo em vista a maneira inadequada de busca-lo. 

Postado por José Morelli  

sábado, 20 de março de 2021

Orelhas

 Ou melhor: ouvidos externos. Em conjunto com os ouvidos internos, as orelhas compõem os chamados órgãos da audição. As orelhas humanas, como a dos outros animais, se posicionam no corpo de forma estratégica para poderem cumprir sua finalidade primordial que é a de ouvir os sons ambientes.

Diferentemente da boca que exerce a função de transmissora de mensagens; os ouvidos, com a colaboração das orelhas, exercem a função de receptores de mensagens. Em geral, pouca atenção é dada às orelhas, principalmente quando elas não se sentem incomodadas por nenhum desconforto.

Na cabeça, as orelhas se encontram à direita e à esquerda, quase que na mesma altura dos olhos. Estes também têm função parecida que é a de captar ou trazer para o cérebro as imagens externas. Suas formas lembram as das conchas encontradas nas praias do mar, o que as ajudam na captação dos sons e introdução destes para a parte interior dos ouvidos, onde se encontram o tímpano, a bigorna e o martelo. As formas das orelhas também se assemelham ao feto humano, resumindo cada uma de suas partes. A acupuntura faz uso dos pontos localizados nas orelhas para tratamentos de diversos tipos de doenças.

As orelhas têm função estética. Umas se enquadram no conjunto com mais harmonia, outras destoam. Não são poucos os simbolismos atribuídos às orelhas por diversas razões. Popularmente, é comum associá-las à burrice. Mania de desprezar a quem muito ajuda, um típico exemplo de preconceito contra esse animal, que tantos serviços tem prestado ao homem.

As orelhas talvez possam ser consideradas um tanto esquecidas ou distraídas. Dizem que elas nunca param de crescer. Mesmo na velhice elas ainda continuam crescendo.

As orelhas servem ao acolhimento. Não são muitos aqueles que se predispõem ouvir aos outros. Falar, esvaziar ou extravasar o que sobrecarrega dentro é uma necessidade, inclusive para a recuperação do equilíbrio psicológico. Bons ouvintes são capazes de colocar suas orelhas a serviço da nobre tarefa de ouvir com paciência ao outro, acolhendo as queixas e desabafos que ele tem para fazer e ajudando-o a se reencontrar em suas desordens mentais e emocionais.     

Postado por José Morelli

sexta-feira, 5 de março de 2021

Mexa-se

 A vida se manifesta através do movimento. Este, portanto, para o ser vivente se constitui como regra, enquanto que a imobilidade se constitui como exceção. Exercitar cada parte do corpo, movimentando-a, faz desenvolver os músculos, tonificando-os e dando-lhes destreza e elasticidade. O sistema nervoso central é quem estabelece a ligação entre o corpo e a mente, responsável pelos comandos e pela conscientização de tudo que se faz ou se deixa de fazer. A mente possui a capacidade de associar idéias, atribuindo-lhes significados. Estes, por sua vez, concorrem na mobilização de emoções e de sentimentos.

Jovens ou adultos precisam se movimentar. Aqueles para que se desenvolvam e atinjam a plenitude do que lhes é dado alcançar. Estes para que se mantenham, por mais tempo, com as boas condições físicas que conseguiram alcançar, enquanto estavam em sua fase de crescimento e de desenvolvimento.

Para que o exercício físico seja bom e ajude na saúde é preciso que, tanto a mente como o corpo estejam em harmonia, concordando no que um propõe ao outro. Tudo o que se faz contrariado não deixa de acarretar algum prejuízo. Este é o caso das chamadas lesões por esforço repetitivo (LER). Estas acontecem quando alguma parte do corpo compromete sua boa condição de saúde por conta de movimentos executados em exagero ou de forma inadequada. Se um indivíduo se sente desrespeitado em sua dignidade pessoal tendo em vista sobrecargas de trabalho ou de remuneração aviltante, esses condicionantes psicológicos podem ocasionar-lhe problemas de inflamação muscular localizada.

Mexer-se, de maneira coordenada e harmoniosa com o todo do próprio corpo e com o ambiente que se encontra à sua volta, além de sinalizar a presença de vida latente, ajuda no desenvolvimento da saúde física e emocional do indivíduo.  

O nadador faz uso da água para se impulsionar para frente. Seu corpo em movimento se coaduna com a força e o volume da água. A respiração também é mais um movimento a compor-se com os outros, necessários a consecução de um bom desempenho. A concentração do pensamento se dá na mente. É esta que tem o papel de se focar em seus próprios objetivos.

Qualquer lugar pode servir para exercitar-se no próprio corpo. Mesmo deitado na cama é possível a realização de muitos de seus movimentos, que contribuem para o aprimoramento da saúde do corpo em seu todo e em cada uma de suas partes. 

Postado por José Morelli