Quando rezamos a oração da “Ave Maria”, trazemos para
o nosso momento presente, para o nosso “agora” o acontecimento expresso nas
palavras que estamos pronunciando, mesmo que se refiram a um acontecimento que
se deu, historicamente, a mais de dois mil anos atrás, como é o caso do anúncio
do anjo Gabriel a Maria, dizendo-lhe que ela havia sido escolhida por Deus para
se tornar a mãe de Jesus, o Salvador anunciado pelos antigos profetas.
A oração tem esse poder. Funciona como um sacramental:
deste modo, ela significa e realiza o mistério proclamado. Não só palavras
funcionam assim, gestos e atitudes também servem à expressão de pensamentos e
de sentimentos. Se estes traduzem fé, igualmente servem ao diálogo entre nós,
criaturas, com o sagrado que nos é acessível sensivelmente. Deste modo, a
história vai se construindo no tempo e no espaço, podendo ser por nós
interpretada em suas linhas e entrelinhas.
Imagens também podem ser entendidas como sacramentais.
Pela materialidade com que se constituem, estas podem ser vistas e tocadas. Na
qualidade de sacramentais, as imagens significam presenças. De acordo com o
historiador penhense, Dr. Sylvio Bomtempi, o título de Nossa Senhora da Penha
de França é, comprovadamente, originário da Espanha. Em seu livro “Penha
Histórica” assim se expressa: “Em Salamanca, no monte da Penha, na serra de
França, ergueu-se uma capela dedicada à Imagem da Mãe de Deus lá encontrada por
Simão Rolando em 18 de maio de 1434, quando em peregrinação a Santiago de
Compostela“.
Quanto à chegada aqui da imagem de Nossa Senhora da
Penha, a data precisa não nos é conhecida. Por força desse desconhecimento, como
era comum à época dos bandeirantes, das cidades por eles fundadas, algumas
destas também possuem versões míticas quanto às suas origens. A nossa Penha de
França se inclui entre às que possuem. Reza a lenda que um viajante francês,
passando pelas regiões que no futuro se tornariam nosso bairro, trazia consigo
a imagem de Nossa Senhora da Penha. Estando à meia encosta da colina, resolveu
descansar um pouco antes de continuar viagem. Algumas horas depois, despertou,
juntou seus pertences e retomou viagem. Tendo cavalgado por mais algum tempo,
percebeu que a imagem não se encontrava com ele. Voltando ao lugar onde havia
descansado não é que a imagem estava ali!... Tomou-a em suas mãos e a carregou
consigo novamente. Por três vezes, aconteceu o mesmo fato. Com isso, o francês
entendeu que Nossa Senhora estava manifestando-lhe sua vontade de ali ficar.
Era naquele lugar que ela queria permanecer. Providenciou, então, a construção
de uma pequena capela, onde a imagem passou a residir e a atrair pessoas.
É claro que nos é reconfortante a ideia de que foi Nossa
Senhora que escolheu permanecer no lugar em que moramos. Restaria, porém, a
dúvida de que isso não passasse apenas de uma fantasia sem fundamento na
realidade dos fatos. No entanto, um acontecimento ocorrido por volta do ano de
1685, envolvendo a figura do bispo do Rio de Janeiro, Dom José de Barros de
Alarcão, veio reforçar a mensagem contida na lenda do viajante francês. Tendo
edificado uma Igreja e uma Casa de Recolhimento, entre o Pátio do Colégio e o
Carmo, esse bispo intencionou levar a imagem de Nossa Senhora da Penha para que
passasse a ocupar aquela sua fundação.
No livro acima citado, o Dr. Sylvio relata que “a
angustiante decisão veio ao conhecimento dos moradores da Penha. Apressaram-se
a ir à capela numerosas mulheres ao despontar da manhã em que se faria a
lastimosa transladação, e como a vissem fechada, sinal para elas de consumação
do plano, começaram a chorar e mostrar ruidosamente toda a sua amargura,
Chegaram não poucos homens, cresceu a aglomeração de pessoas, aumentaram os
clamores, mas a todos surpreendeu a repentina abertura da porta, e todos,
reconfortados e jubilosos, puderam verificar continuava no altar-mor a imagem
querida”.
Os vitrais que filtram a luz solar, na parte superior
das paredes da basílica, todos eles trazem representações de Nossa Senhora, em
seus múltiplos títulos. Esses títulos surgiram da presença histórica de Nossa
Senhora nesses dois mil anos de cristianismo. No mundo inteiro, Nossa Senhora
deu demonstração de que não abandona seus filhos. Assim como Jesus, Ela também
permanece presente junto à humanidade, mediando o Amor de Deus-Pai, com
solicitude de Mãe Carinhosa, em todos os tempos e lugares.
Postado por José Morell