Não são poucas cidades europeias
que tiveram, em suas origens, muros que as cercavam em todos os lados. Hoje,
turistas que as visitam podem admirar alguns desses muros, muitos deles em
ruínas. Ali estão eles testemunhando as trajetórias históricas percorridas no
sentido de desenvolvimento e de expansão dessas cidades.
Tendo dado esse passeio até a
Europa, vamos voltar ao Brasil, considerando que ao mesmo tempo em que nossas
cidades evoluíram em suas constituições físicas, as sociedades que as
construíram também se desenvolveram em suas capacidades de organização,
planejamentos e execuções de seus projetos, resultados do trabalho
diversificado do conjunto de seus cidadãos e cidadãs.
Um diálogo se estabeleceu entre
os lugares e seus habitantes. Espaços e indivíduos interagiram e ainda
continuam interagindo entre si. Se as ideias produzidas pelas mentes humanas são
capazes de modificar as cidades na concretude de suas formas, essas
contingências não deixam de condicionar os pensamentos que, fatalmente, se
desdobram em sensações e sentimentos: afetos e desafetos (amor e ódio) decorrem
disso tudo naturalmente.
Nossas cidades se constituem como
retratos da realidade ampla que, além de considerar o conjunto urbanístico em
sua totalidade, com suas ruas e praças, avenidas, túneis, pontes e viadutos, incluem
também a nós, cidadãos e cidadãs que delas fazemos uso e/ou as habitamos. Em
suas materialidades, nossas cidades deixam transparecer o jogo de forças dos
poderes que as dominam e as exploram como mercadorias que não deixam de ser.
O desvendamento escancarado da
corrupção endêmica a que o povo tem tido conhecimento, nestes últimos tempos, bem
como a existência de estruturas que dão suporte a esses desmandos, pode se
constituir em oportunidade de aprendizado, grande chance de entendimento dos
caminhos seguidos pelo capital: totalmente insensível quando não complementado
de um mínimo de sentido de humanidade e de ética. A construção de muros serve à
exclusão e não à inclusão de cidadãos e cidadãs em suas diversidades.
Postado por José Morelli