segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Aprendizado político do povo

Não são poucas cidades europeias que tiveram, em suas origens, muros que as cercavam em todos os lados. Hoje, turistas que as visitam podem admirar alguns desses muros, muitos deles em ruínas. Ali estão eles testemunhando as trajetórias históricas percorridas no sentido de desenvolvimento e de expansão dessas cidades.

Tendo dado esse passeio até a Europa, vamos voltar ao Brasil, considerando que ao mesmo tempo em que nossas cidades evoluíram em suas constituições físicas, as sociedades que as construíram também se desenvolveram em suas capacidades de organização, planejamentos e execuções de seus projetos, resultados do trabalho diversificado do conjunto de seus cidadãos e cidadãs.

Um diálogo se estabeleceu entre os lugares e seus habitantes. Espaços e indivíduos interagiram e ainda continuam interagindo entre si. Se as ideias produzidas pelas mentes humanas são capazes de modificar as cidades na concretude de suas formas, essas contingências não deixam de condicionar os pensamentos que, fatalmente, se desdobram em sensações e sentimentos: afetos e desafetos (amor e ódio) decorrem disso tudo naturalmente.

Nossas cidades se constituem como retratos da realidade ampla que, além de considerar o conjunto urbanístico em sua totalidade, com suas ruas e praças, avenidas, túneis, pontes e viadutos, incluem também a nós, cidadãos e cidadãs que delas fazemos uso e/ou as habitamos. Em suas materialidades, nossas cidades deixam transparecer o jogo de forças dos poderes que as dominam e as exploram como mercadorias que não deixam de ser.

O desvendamento escancarado da corrupção endêmica a que o povo tem tido conhecimento, nestes últimos tempos, bem como a existência de estruturas que dão suporte a esses desmandos, pode se constituir em oportunidade de aprendizado, grande chance de entendimento dos caminhos seguidos pelo capital: totalmente insensível quando não complementado de um mínimo de sentido de humanidade e de ética. A construção de muros serve à exclusão e não à inclusão de cidadãos e cidadãs em suas diversidades.

Postado por José Morelli