Essas diferenças, longe de
impedirem o desenvolvimento das histórias, podem torná-las ainda mais
interessantes e emocionantes. Não é tão difícil descobrir algumas vantagens que
o ratinho leva, utilizando-se justamente de seu pequeno tamanho e menor força.
Por ser assim, ele é mais ágil e capaz de entrar em buracos que lhe possam
servir como abrigo e que são impossíveis de o leão passar e, menos ainda, entrar
para capturá-lo.
Nossa história poderá ter
desfecho rápido. Poderemos, no entanto, enriquecê-la com o desenrolar de ações
surpreendentes. Além de ater-nos somente àquelas características mais próprias
dos irracionais, podemos emprestar-lhes nossa racionalidade e emotividade. Os
bichos passam a pensar e a arquitetar planos, a sentir medos e raivas.
Projetamos neles atributos humanos. Assim eles passam a representar-nos e
servir-nos como termos de comparação. Através destas histórias, conseguimos
traduzir momentos nossos, vivências nossas.
Se não estivermos dispostos a
imaginar história alguma, poderemos, pelo menos, observar nossa própria
história de vida e aquelas que acontecem com as outras pessoas, à nossa volta.
Veremos como essas histórias de leão e de ratinho se reproduzem não só no mundo
irracional, mas também entre os seres inteligentes, grandes e pequenos, fortes
e fracos, saudáveis e doentes, ricos e pobres. Essas mesmas histórias podem nos
permitir que nos vejamos e nos entendamos melhor. Permite-nos, também, entender
a dinâmica dos relacionamentos entre grupos sociais e entre nações, sejam elas
grandes ou pequenas, pobres ou ricas, desenvolvidas ou subdesenvolvidas. Cada
uma delas por suas possibilidades de explorar as características que lhe são próprias,
utilizando-as sabiamente para defesa e preservação da vida, que é o bem mais
precioso que cada uma possui.
Postado por José Morelli