sábado, 19 de setembro de 2020

Quantificar

O direito dos sócios em uma empresa é proporcional ao capital investido, equivalendo à soma do número de ações em nome de cada um deles. Aquele que detém quantidade maior de ações goza de mais poder de decisão do que os outros. Outras contribuições não materiais se tornam mais difíceis de serem quantificadas.

O que é de natureza material pode ser quantificável por seu tamanho, peso, consistência, identificação de forma, cor, calor, sabor, etc. Do que é imaterial (não-material), a mente humana não consegue construir imagens diretamente quantificáveis. Como quantificar, em alguém: a alegria, a tristeza, o amor, a ansiedade, a angústia, a depressão, o ciúme, a satisfação, a insatisfação, a dor ou qualquer outro sentimento?... Só a própria pessoa que as sente pode responder a essas perguntas! Cada uma tem a sua própria medida para cada sensação ou sentimento.

Nem sempre é fácil entrar em contato com o que é próprio e faz parte de si mesmo na intimidade do próprio ser. Sentir-se dissociado de si, dividido em si, sem um mínimo controle do que acontece com as próprias emoções implica em certo desconforto, numa sensação de confusão mental e emocional, de não ter como e onde se apegar.

A mente humana é craque para associar uma coisa com outra. Desde os primeiros anos de vida, o bebê começa a associar as coisas com os nomes de cada uma delas. Muito cedo aprende a fazer comparações. Com o desenvolvimento da imaginação, o bebê estabelece ligações entre a realidade material e os sonhos e idealizações.

Se a você é sugerido que faça um desenho da alegria que está sentindo ou da tristeza ou do amor ou de qualquer outro sentimento, isso vai permitir que você os torne de alguma maneira quantificáveis. Predispondo-se a fazer o desenho, sua mente passa a criar idéias de como representá-lo. Escolhe o tipo de instrumento que vai usar: lápis, pincel ou mesmo o próprio dedo e, em seguida, elege as cores e o lugar onde colocá-las. Libera a mão para que se movimente e vá se expressando, envolvida na interatividade com o próprio desenho.

Esta é uma forma possível de expressar a emoção que você guarda dentro você, na sua própria intimidade. Uma maneira de se aproximar de você mesmo, de se permitir entrar em contato com aquilo que naturalmente poderia causar-lhe alguma aversão. Um recurso que facilita o confronto com as próprias dificuldades; ajudando-o na superação do medo de enfrentá-las.

Postado por José Morelli  

domingo, 6 de setembro de 2020

O lugar e sua história

Desde que a vida humana foi iniciada aqui na Terra, à semelhança de um novelo, ela vem desenrolando seu fio ininterruptamente, até chegar a cada um de nós. Relacionados a essa mesma vida, alguns fatos têm sido registrados por escrito, outros não. O surgimento da comunicação escrita determina a separação entre pré-história e história.  

O espaço geográfico ocupado pelo bairro da Penha de França que, nesta semana, vem sendo homenageado por paulistanos e penhenses, teve também sua pré-história. Aqui, recentemente, foram encontradas peças e utensílios de tribos indígenas que, desde tempos imemoriais, ocuparam estas mesmas terras, deixando sinais de suas presenças. Com a vinda dos colonizadores portugueses para cá, iniciou-se a história propriamente dita. A partir desse período, foram encontrados os primeiros registros escritos de alguns fatos, considerados relevantes, principalmente documentos oficiais relacionados a posses de terras.  

A vida humana é histórica. Ela é a consciência do que acontece. A escrita é apenas um código a mais de linguagem e de entendimento. Saber ler e dimensionar outras mensagens, expressas por meio de peças e utensílios, permite perceber a presença de vidas humanas, tão verdadeiras e densas quanto as nossas. A memória oral dos índios brasileiros é extraordinária. Os conhecimentos que eles conseguiram acumular das capacidades curativas, encontradas principalmente nas plantas, eram transmitidos boca a boca, de geração para geração. A cultura indígena deixou importantes sinais em nosso bairro, basta observar alguns nomes de ruas tais como: Paracanã, Jaborandi, Betari e outras.

Precisamos de algum espaço onde possamos pisar com nossos pés. Temos escolhido este espaço geográfico, chamado Penha de França, para que nos sirva de apoio, mesmo que seja para que, dele, apenas possamos nos dirigir para outros lugares.  Aqui temos nosso habitat. Com os daqui compartilhamos nosso tempo, nossos cuidados e afazeres diários. Constituímo-nos como comunidade. Gostemos ou não, temos entre nós muito em comum.

A Festa do bairro deve ser de todos. Aliás, a festa é das pessoas para as pessoas. A Penha, hoje, somos nós. Somos a consciência deste lugar e de sua história. Se apagarmos esta nossa consciência, tudo o que aqui existe perderá seu sentido, perderá sua razão de existência e de continuidade histórica. Perderemos, também, o sentido de nós mesmos. O fio do novelo de nossa consciência se romperá. Viraremos, simplesmente, meros robôs.  

Postado por José Morelli