quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Psicologia profilática

“É melhor prevenir do que remediar”, assim diz a sabedoria do povo. A profilaxia é a prevenção das doenças, o cuidado com a saúde para que ela se mantenha e se desenvolva. A psicologia profilática atenta para todos aqueles fatores que condicionam a vida das pessoas, influindo, positiva ou negativamente, na qualidade de seus estados mentais e emocionais.

Na psicoterapia individual ou em grupo (com um número relativamente pequeno de membros) é possível trabalhar num sentido profilático. Na interação terapeuta/paciente, busca-se detectar, avaliar e controlar, o quanto possível, esses fatores para que não impeçam ou dificultem a expansão da saúde e do bem-estar paciente. Nessa dimensão menor, o trabalho pode atender às pessoas na subjetividade de cada uma delas. Nem tudo faz mal a todos da mesma maneira, assim como nem tudo faz bem a todos da mesma maneira. Na verdade, cada um é cada um e as reações provocadas por um mesmo fator podem ser diferentes de indivíduo para indivíduo.

Na dimensão maior da sociedade, é possível também detectar certos fatores que impedem ou dificultam o desenvolvimento da saúde psicológica, nos indivíduos e nos grupos. A psicologia, associada a outras ciências humanas, tem condições de contribuir, tanto para a correta definição destes como para a identificação das maneiras de intervir no meio social, a fim de eliminá-los (se possível) ou controla-los.

A miséria e a fome, a presença e o aumento de doenças endêmicas, a falta do mínimo básico de instrução, o tratamento injusto e o não reconhecimento da dignidade pessoal, a manipulação da informação tendo em vista o interesse de minorias privilegiadas, são fatores que quebram a espinha dorsal das personalidades humanas. Esses fatores fazem mal à saúde da sociedade como um todo.

A necessidade de crescimento econômico e acerto nas contas governamentais não justificam o sacrifício imediato imposto às grandes massas de trabalhadores, desempregados e aposentados (e respectivas famílias). A meu ver, o atual momento nacional não passa pelo teste de qualidade de uma acurada avaliação psicológico-profilática.

Postado por José Morelli

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

“Bad boy”

Não são poucos os que apostam nas vantagens de se projetar numa imagem de “Bad boy" - "Garoto mau"! O mercado cria aos montes símbolos desse mundo tenebroso por meio de figuras reproduzidas em camisetas, revistas, brinquedos e mesmo tatuagens impressas na pele humana. O consumo valida todos esses investimentos a ponto de virar moda que se impõe às mentes, expostas aos mais variados ventos dos interesses mercadológicos.

Em tempos passados, a divisão entre bem e mal parecia ser levada mais a sério. Deus e o demônio eram vistos e reconhecidos neles mesmos. Nem por brincadeira se mencionava os seus nomes e menos ainda se fazia deles reproduções em desenhos irreverentes. Só se aceitava que a eles se referissem quando alguma razão forte o justificasse. Hoje, o bem e o mal parecem terem sido banalizados pela maioria das pessoas. Já não se respeita nem um nem outro. Muitos se permitem brincar com eles livremente, sem medo de castigos.

A sociedade se deseja ver e se entender leiga, desvinculada de crenças religiosas. Vê-se entregue às forças naturais apenas. Vê-se e entende-se realista, objetiva, científica. Os bons princípios da razão prática não conseguem motivar as escolhas do bem em detrimento do mal. A sociedade paga um preço altíssimo por conta disso.

A evolução do pensamento se dá em espiral. Na medida em que se avança na conquista de novos conhecimentos, diminuem-se as distâncias entre os extremos. O Bem e o mal vão sendo desmistificados. O entendimento de que o bem pode ser vivido e, necessariamente, não precisa ser visto como risco de ser mal entendido, desvirtuando a imagem de quem o pratica, confundindo-o como indivíduo ingênuo, fraco ou bobo. É importante que indivíduos e sociedade evoluam no sentido desse entendimento.

Apresentar-se como “bad boy” não passa de uma maneira de se esconder, de se defender atrás de uma máscara. Por meio desta, o indivíduo julga-se protegido. No entanto, trata-se de uma proteção que fatalmente implica em perdas irreparáveis. O investimento no mal cria círculos viciosos destrutivos, enquanto que o investimento no bem é capaz de criar círculos construtivos, nos quais o bem se desdobra, revertendo-se em bens maiores e mais consistentes.

Postado por José Morelli