domingo, 24 de maio de 2020

Existencial

Que tem origem no emergente, que brota e borbulha como a água de uma fonte. É nossa vida acontecendo no instante do aqui/agora de cada um de nós. É toda realidade que transita conosco, compartilhando do tempo e do espaço no qual acontecemos e nos movimentamos: o fato, o ocorrente, o emergente. O existencial é o que se dá num íctus de segundo, único ao alcance de nossas mãos - irreversível. O que tem de ínfimo na extensão, tem de incomensurável na profundidade. Dele depende o sentido que atribuímos àquilo que fazemos, à nossa vida em construção. O existencial revela os seres, a sua natureza. Marca-os indelevelmente com seu sinal ou sua marca registrada. Os seres, ligados ao próprio passado, acontecem no presente, voltados/orientados no sentido de algum futuro.

Talvez, por ser tão efêmero, tão passageiro, o existencial não foi, no pensamento mais clássico do passado, valorizado como medida confiável de expressão da verdade. O existencial, em seu todo, está sujeito a muitas interveniências. Não consegue ser mantido a salvo das variáveis que interferem em seu modo de responder aos estímulos com os quais interage.  Por isso, para não extinguirmos nossa pretensão de podermos alcançar verdades menos transitórias e mais permanentes, é que descartamos o existencial como balizamento de nossos entendimentos racionais.

Transitamos numa vida que nossos sentidos percebem manter uma linha de continuidade. O presente nos liga ao passado e ao futuro, como um elo de corrente. Na medida em que avançamos, o passado não deixa de permanecer em nós. Vai sendo arquivado no fichário de nossa memória, deixando sinais de sua passagem, inclusive em nosso corpo. Como nas imagens de uma câmera de televisão, instalada nos carros de corrida, vemos o futuro chegando rápido e se transformando logo em passado. Tamanha velocidade não experimentávamos em um passado não tão distante. A velocidade nos dá a sensação de que estamos vivendo com mais intensidade, que estamos descobrindo sensações novas, mistérios até pouco escondidos da vida humana. Como é excitante experimentá-los! Que curiosidades satisfazemos ao explorá-los, descobrindo-nos em capacidades pessoais que antes desconhecíamos.

O existencial somos nós enquanto nos percebemos vivos. O existencial somos nós em cada uma das fases de nosso existir, desde o nosso nascimento. Enriquecemo-nos atribuindo sentidos às sensações corporais vivenciadas, sejam elas de dor, alegria, vitória ou fracasso.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Criar expectativa

Quando um jogador de futebol costuma marcar muitos gols, cria expectativa na torcida. Todos passam a esperar mais dele, que continue marcando gols e dando vitórias a seu time. Se, por acaso, sua produção decai, deixando de produzir para a equipe, todos (ele próprio e a torcida) se decepcionam. Vêm críticas e mais críticas. Cobranças se transformam em ameaças. Se não voltar a render, é substituído por outro, perdendo seu lugar no time.

Políticos, ao fazerem promessas ao povo, em suas campanhas, também criam expectativa. Pelo que dizem, deveriam assumir responsabilidade perante si mesmos e perante seus eleitores. Se alguns deles, tendo sido eleitos, não cumprirem o que prometeram, decepcionarão os eleitores que neles confiaram e os apoiaram com seus votos. Por terem frustrado a expectativa daqueles que nele acreditaram, o mínimo que mereceriam é que nunca mais recebessem apoio, pelo menos daqueles a quem enganaram uma vez.

Por palavras e atitudes, pais e filhos, maridos e mulheres, namorados e namoradas, amigos e amigas criam expectativas uns nos outros. Ambas as partes se acostumam a esperar e se sentem enganadas caso não vejam suas expectativas correspondidas.

Se uma pessoa, ao iniciar um relacionamento, querendo passar uma imagem muito positiva de si, mostra mais do que é capaz, falando e realizando coisas além de suas condições normais, mais cedo ou mais tarde, sua verdade virá à tona, causando frustração e revolta. Um relacionamento maduro é, também, verdadeiro. Com o passar do tempo as pessoas se revelam como realmente são.

As estórias infantis de príncipes e princesas alimentam a imaginação das crianças e mesmo de adultos. Esses sonhos podem estimular muito numa fase da vida, dando-lhe mais entusiasmo. Porém, logo a realidade se sobrepõe ao sonho e muitas das expectativas, ligadas a esse sonho, precisam ser substituídas por outras mais próximas do real, do chão em que se pisa.

Por tudo, paga-se um preço. Cada um é responsável pela imagem que passa de si mesmo aos outros. O amor generoso e bem ordenado é positivo. O medo nem sempre é bom conselheiro. Sabendo-se tirar lições dos acontecimentos do dia-a-dia, as pessoas podem se aprimorar na arte do bem-viver e do bem-conviver.  

Postado por José Morelli