quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Quilombo da Penha

Em seu livro “Penha Histórica”, editado em 2001, o saudoso historiador Dr. Sylvio Bomtempi, relata em cinco páginas: da 85 à 90, como se deu a Escravidão em nosso bairro. Inicia contando que o então arrabalde de Nossa Senhora da Penha era porta de entrada dos escravizados recém-chegados do continente africano, trazidos do porto do Rio de Janeiro e também os que subiam a Serra do Mar passando por Mogi das Cruzes, Vila criada em 1611.

Nas primeiras décadas do século XVII, a Penha serviu como lugar onde, devido aos surtos de varíola, “os cativos procedentes do Rio de Janeiro e de Santos através de Mogi das Cruzes, foram obrigados à quarentena no Caminho da Penha”, da mesma forma como acontecia no Lavapés, com os chegados pelo Caminho do Mar.

O Dr. Sylvio explica ainda que as atrocidades, praticadas por senhores desumanos contra os escravizados, lançavam-nos a fugas impetuosas reunindo-os em quilombos, “arraiais temidos difíceis de expugnar”. Entre os lugares que mais procuravam para embrenhar-se, longe da cidade, contavam com os matagais da Penha.

Em 10 de fevereiro de 1748, Inácio Pedroso Aveiros foi nomeado pelo Senado da Camara da Vila de São Paulo capitão-do-mato no âmbito da Penha, que devia convocar os moradores hábeis para, sob seu comando, destruírem os redutos dos foragidos e matarem os negros resistentes, cortando-lhes a cabeça e entregando-as à Justiça.

Tendo como pano de fundo a realidade acima exposta, no livro de Assentamentos da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos da Penha consta o surgimento da Irmandade, cuja primeira assinatura é de 1755. A este grupo é atribuída a idealização e construção da Igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico do bairro, que teve e tem papel importante na vida dos negros e negras da Penha e região. A respeito dessa história tive a alegria de pesquisa-la e sobre ela escrevê-la no livro “Penha de França – Expressões do Rosário”, lançado a público oficialmente em 25 de janeiro de 2017.

Postado por José Morelli