sexta-feira, 16 de julho de 2021

“Oi Vó!... Oi vô!...”

Sant’Ana e São Joaquim são os pais de Maria, a Mãe de Jesus. Os colonizadores portugueses tinham grande devoção à avó do Menino-Deus, encontrando-se daquele período histórico numerosas imagens da mesma, talhadas em madeira, em muitos lugares do Brasil. Traduzindo esta devoção, os  jesuítas deixaram claramente registrado em documentos esta escolha, desde os primórdios da futura grande metrópole paulistana, hoje a maior cidade da América Latina.

No Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, o altar-mor possui três nichos: o do centro contém a imagem de Nossa Senhora da Penha com o Menino Jesus nos braços. Este traz na mãozinha esquerda uma pequena esfera azul, símbolo do globo terrestre; no nicho da esquerda, encontra-se a imagem de Sant’Ana instruindo, com as sagradas escrituras, a filha ainda menina. O nicho da direita contém a imagem de São Joaquim, que carrega um cesto com dois pombinhos. Aos mais pobres, era permitido que ofertassem estas pequenas aves ao invés de cordeiros, quando levavam o filho ou filha para serem apresentados no templo, conforme exigia a lei de Moisés no Antigo Testamento.

Em síntese, encontram-se no altar principal do santuário da Penha: os avós Joaquim e Ana, a filha Maria e o neto Jesus em seu colo. Três gerações de uma mesma família, consideradas pelo lado da mãe. Desta, Jesus recebeu sua herança genética humana, seu DNA, base material necessária ao desenvolvimento de sua alma, sopro de vida divino, transmitido por Deus à semelhança do que havia acontecido com Adão, quando este atingira a maturidade/capacidade em seu processo de evolução mental e de consciência de si e do mundo no qual vivia.

No que diz respeito à história do bairro da Penha, não poucas narrativas demonstram que, desde o surgimento da pequena ermida de Nossa Senhora da Penha, lá pelos idos de 1667, acontecimentos extraordinários chamaram a atenção dos paulistanos para o carinho com que a Mãe de Jesus, invocada sob o título de Nossa Senhora da Penha, atendia às necessidades pessoais e comunitárias. Quando a cidade sofria com o flagelo de pestes e de outras doenças, muito comuns na época, bem como de secas prolongadas, o povo e as autoridades civis e religiosas promoviam idas da imagem para o núcleo central da cidade, onde eram feitas preces especiais. Em contrapartida, no mês de setembro quando eram comemoradas as festas no bairro, eram os paulistanos de todos os cantos da cidade que vinham para a Penha.

Sant’Ana e Maria, sua filha, guardam um segredo entre si. O altar-mor do Santuário da Penha desvenda esse segredo. Nele, o Menino Jesus tem o mundo em sua mão: “Todo o poder Lhe foi dado no Céu e na Terra”. Maria sustenta Jesus em seus braços. No nicho à direita do de Maria, está a imagem de sua mãe, Sant’Ana, padroeira oficial da Cidade de São Paulo. Por um trato entre as duas, Maria seria a padroeira de fato, cumprindo o papel que lhe dera o próprio Jesus, no alto de sua cruz

A proteção de Nossa Senhora da Penha se concretiza pelo anúncio de que somos todos irmãos em Jesus e por Jesus. Ao nascer em Belém, os anjos anunciaram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.  A paz é construída por meio da justiça e do amor entre todos.

Quando formos visitar a catedral da Sé ou o velho santuário da Penha, saudemos Sant’Ana dizendo-lhe:  “oi vó!... oi vô!...” obrigado por nos terem dado Maria, a quem Jesus nos deu como Mãe de cada um de nós, irmãos entre nós, por Jesus e em Jesus.

Postado por José Morelli