Fomos acostumados a entender que o ato de pensar é um atributo exclusivo da mente. Ao corpo seriam atribuídas outras funções, tidas como de natureza material apenas e passíveis de serem mensuradas, tocadas e identificadas pelas formas e cores, pelo sabor e pelo odor que exalam, pelas sensações que provocam na pele. O cérebro, de acordo com a mentalidade ocidental, é aquela parte do ser humano que, mesmo estando em nosso corpo e fazendo parte dele, é capaz de abstrair dele, criando ideias e tendo consciência de si mesmo: do que é e do que faz.
Não seria à toa que o cérebro,
centro onde se desenvolvem os pensamentos e raciocínios, se encontraria acima
da altura dos olhos, posição indicativa da importância que possui,
relativamente às outras partes, responsáveis por atividades corporais
específicas, de natureza puramente vegetativa e materialista. Mente,
pensamento, consciência, alma. Corpo, matéria, partes fragmentadas em
constantes mutações. Por estas e outras razões, é que durante muito tempo a
mente se envaideceu de ser a única responsável pelo ato de pensar. Ao corpo sobraram
apenas funções de menor status e consideradas sem a mesma importância.
Porém, como ensina o dito
popular: “A verdade tarda, mas não falha”. Foi preciso que muita água passasse
debaixo das pontes, para que o próprio pensamento se visse enredado em mil
complicações, dando-se conta de que seus raciocínios já não eram tão seguros,
como se vinha imaginando anteriormente. A mentalidade oriental veio em socorro
da ocidental. Culturas mais antigas, desenvolvidas em tempos a perder de vista,
despertaram para valores esquecidos e que continham sabedorias não dispensáveis
para uma boa conceituação de como se forma o pensamento humano.
Mente e corpo se complementam,
mediante recíprocas trocas de mensagens. Das trocas mútuas que realizam surgem
novas e novas conclusões. No braço de ferro entre razão e afeto, a tendência é
a de que, na maior parte das vezes, é o afetivo que se efetiva e não a lógica
da razão.
Para aprendermos a pensar com o
corpo precisamos, em primeiro lugar, abrir nossa mente para o entendimento e
aceitação dessa possibilidade. Em segundo lugar, permitir-nos experimentar o
encontro de nós mesmos com a vida que nos anima a nós e aos outros com os quais
nos relacionamos, lidando com ela de uma maneira abrangente, sábia e harmoniosa.
Postado por José Morelli