segunda-feira, 5 de abril de 2021

Pensar com o corpo

 Fomos acostumados a entender que o ato de pensar é um atributo exclusivo da mente. Ao corpo seriam atribuídas outras funções, tidas como de natureza material apenas e passíveis de serem mensuradas, tocadas e identificadas pelas formas e cores, pelo sabor e pelo odor que exalam, pelas sensações que provocam na pele. O cérebro, de acordo com a mentalidade ocidental, é aquela parte do ser humano que, mesmo estando em nosso corpo e fazendo parte dele, é capaz de abstrair dele, criando ideias e tendo consciência de si mesmo: do que é e do que faz.

Não seria à toa que o cérebro, centro onde se desenvolvem os pensamentos e raciocínios, se encontraria acima da altura dos olhos, posição indicativa da importância que possui, relativamente às outras partes, responsáveis por atividades corporais específicas, de natureza puramente vegetativa e materialista. Mente, pensamento, consciência, alma. Corpo, matéria, partes fragmentadas em constantes mutações. Por estas e outras razões, é que durante muito tempo a mente se envaideceu de ser a única responsável pelo ato de pensar. Ao corpo sobraram apenas funções de menor status e consideradas sem a mesma importância.

Porém, como ensina o dito popular: “A verdade tarda, mas não falha”. Foi preciso que muita água passasse debaixo das pontes, para que o próprio pensamento se visse enredado em mil complicações, dando-se conta de que seus raciocínios já não eram tão seguros, como se vinha imaginando anteriormente. A mentalidade oriental veio em socorro da ocidental. Culturas mais antigas, desenvolvidas em tempos a perder de vista, despertaram para valores esquecidos e que continham sabedorias não dispensáveis para uma boa conceituação de como se forma o pensamento humano.

Mente e corpo se complementam, mediante recíprocas trocas de mensagens. Das trocas mútuas que realizam surgem novas e novas conclusões. No braço de ferro entre razão e afeto, a tendência é a de que, na maior parte das vezes, é o afetivo que se efetiva e não a lógica da razão.

Para aprendermos a pensar com o corpo precisamos, em primeiro lugar, abrir nossa mente para o entendimento e aceitação dessa possibilidade. Em segundo lugar, permitir-nos experimentar o encontro de nós mesmos com a vida que nos anima a nós e aos outros com os quais nos relacionamos, lidando com ela de uma maneira abrangente, sábia e harmoniosa.

Postado por José Morelli