quinta-feira, 30 de maio de 2019

Catalizar afeto

O ímã, por sua virtude de atrair metais, pode bem servir à ilustração do que vem a ser, nas pessoas, essa capacidade de catalisar (atrair) afeto de outras. Afeição, simpatia, atenção, amizade, paixão, carinho, amor são palavras cujo sentido se aproxima do que vem a ser o afeto. Recebê-lo pode ser muito gratificante. O desafeto, por sua vez, tem a capacidade de machucar e afastar.

Antes mesmo de nascer, nos nove meses em que o bebê se desenvolve no útero de sua mãe, ele já sofre influências, que o marcarão em sua constituição física e funcional. O afeto dos pais para com a criança se manifesta em suas atitudes de aceitação, de segurança, através de pequenos e grandes gestos. Abster-se, nessa fase, do cigarro e da bebida, sem falar das drogas, comprovadamente prejudiciais ao desenvolvimento do feto, é uma forma de acolhimento afetuoso ao novo ser ainda em formação.

As experiências afetivas, vivenciadas nos cinco primeiros anos de vida da criança, marcam-na profundamente, condicionando-a em seu modo de ser e em seus procedimentos presentes e futuros. A carência de afeto, representada na falta de atenção, no não atendimento às necessidades indispensáveis como de alimento, sono, higiene (sem exageros), ambiente tranquilo e organizado, não deixam de marcar negativamente a personalidade, dificultando-lhe nas horas de dar o próprio afeto ou de recebê-lo de outros.

A passagem do mundo doméstico para o da sociedade se impõe ao jovem. A base de confiança em si mesmo que tiver adquirido em suas primeiras vivências, lhe servirão como referências quando tiver que se relacionar na amizade, no namoro, na escola, no trabalho, como cidadão ou cidadã com direitos e obrigações a cumprir. Se, no grupo familiar, a educação transmitida tiver sido excessivamente exigente, não admitindo erro, essa distância entre atitudes acertadas e erradas, dificultarão o aprendizado, que é conseguido não só através dos acertos, mas dos erros também.

As diferenças são a razão de ser da união no casamento. No entanto, quando o sentido de competição passa a dominar no relacionamento conjugal, a percepção do afeto fica comprometida. Insegurança, complexo de inferioridade passam a alimentar essa competição. Os filhos captam-na, de forma intuitiva e podem até fazer uso dela em proveito pessoal, mediante utilização de chantagens com os próprios pais.

Pessoas sadias e bem equilibradas conseguem catalisar afeto. Curtem recebê-lo e dá-lo também. Retribuem de forma adequada e agradável, permitindo que uma energia positiva flua em seus relacionamentos, independentemente da idade que tenham ou da condição de vida em que se encontrem.


Postado por José Morelli

terça-feira, 21 de maio de 2019

Roer unhas

Existe um número considerável de pessoas que possuem o hábito ou mania de roer unhas. Para consolo destas pessoas, ainda bem que as unhas são capazes de crescerem constantemente. Roer unhas pode ser entendido como atitude compulsiva. Mesmo compreendendo todos os inconvenientes de tal comportamento, essas pessoas não conseguem se conter, principalmente naqueles momentos em que estão tensas e/ou apreensivas.

É correto associar o roer unhas às tensões e apreensões. Criar alguma estratégia que iniba esse impulso, tais como colocar pimenta nos dedos ou fazer uso de luvas nas mãos, não será suficiente se não for acompanhado de um dedicado investimento pessoal que as façam entender-se melhor quanto aos próprios juízos e sentimentos.

Uma pista para descobrirem os fundamentos das tensões pode ser descoberta a partir dos sintomas que as provocam que, nestes casos, é a própria impulsividade de roer-se. Uma das características desse fenômeno comportamental é o quanto ele se constitui como destrutivo. É comum tais pessoas deixarem as unhas tão curtas, até chegarem à carne fazendo-a sangrar. Raiva, agressividade, autodestruição, vergonha, timidez, insegurança são alguns indícios do que está subjacente ao sintoma.

Uma mistura de pensamentos negativos e de sensações corporais incômodas e desconfortáveis. Para poderem lidar melhor com esse constrangimento é importante que se conscientizem e se assumam quanto ao que pensam e como pensam, no alcance dos significados que atribuem a si mesmos e aos acontecimentos que precisam enfrentar. Só aprofundando-se no sentido da própria realidade é que poderão superar seus conflitos.

Não é difícil perceber que o hábito de roer unhas se contrapõe ao sentimento positivo da pessoa por si mesma. A chave desta questão é, portanto, além do trabalho de superação dos conflitos, um esforço sincero de cultivar a própria autoestima, de querer-se bem, de saber valorizar-se, de saber reconhecer os pontos positivos da própria vida, de enxergar-se como vencedor, a partir de seus valores, não exigindo acima do que é capaz, acima do que lhe permite os dotes que possui.


Postado por José Morelli

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Matriz de identidade

A família ou o meio onde a criança nasce e cresce pode ser chamado de “matriz de identidade”. Na indústria, matrizes são os moldes onde são fundidas as peças de vários tipos de metais. Os bebês são gerados com características próprias de suas cargas genéticas, de acordo com as combinações cromossômicas, resultantes da fusão entre células provindas do pai e da mãe. 

Durante o período em que se encontram em gestação, os fetos podem adquirir novas influências, que passam a ser incorporadas em suas constituições física e psíquica. A expressão “matriz de identidade” se aplica à fase posterior do nascimento, na qual a criança vai formando sua personalidade básica, em seus primeiros cinco anos de vida.

A criança, em sua primeira infância, é moldada a partir do ambiente que a cerca. As maneiras de ser de cada uma das pessoas, que fazem parte desse meio, contribuem para a conformação do molde, que condiciona o desenvolvimento da personalidade dos recém-chegados à família e ao meio social. Tudo o que há, de bom e de menos bom, se soma; constituindo-se em saliências e reentrâncias, que tanto transparecem no molde, como na peça, em seu processo de solidificação. As crianças captam e assimilam o todo e partes do meio em que vivem. Parece até que são munidas de eficientes radares que captam e respondem ao que se encontra à sua volta.

O consciente e o subconsciente delas trabalham dia e noite armazenando dados em seus cérebros. Pelo sim ou pelo não, tornam-se mais parecidas do que poderiam desejar, no futuro, com o ambiente de onde provieram e se desenvolveram.

Todos nós, adultos, fomos crianças um dia. Também somos produtos do meio em que fomos criados. Trazemos em nós características de nossos antepassados e dos ambientes de onde proviemos. Transmitimos às novas gerações parte do que herdamos. Não temos plena consciência de tudo o que representamos e não conseguimos ter controle sobre as influências que exercemos, entendidas como positivas ou negativas.

O fato de podermos ter, hoje, consciência de como se dá todo esse processo, serve-nos de alerta. Sabemos que somos co-responsáveis, em alguma dose, pelos resultados finais do que as crianças apresentam em seus procedimentos. Ao julgá-las, julgamo-nos a nós mesmos e àqueles que nos antecederam e que se constituíram como matrizes de nossas identidades pessoais.
 
Postado por José Morelli

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Subjetividade

Chamamos de Subjetividade aquilo que é próprio de cada pessoa e que a faz ser ela mesma, distinguindo-a das outras. Aceitar uma pessoa como ela é, é aceitá-la em sua subjetividade, reconhecendo-a e tratando-a de acordo com sua maneira peculiar de ser, de responder, de pensar e de sentir.

As pessoas podem, também, ser vistas e reconhecidas pelo que são objetivamente: seres humanos, potencialmente dotados daquelas qualidades fundamentais, que os distinguem dos outros seres não humanos. A sociedade costuma organizar-se a partir das considerações objetivas.  As diferenças das pessoas, principalmente daquelas que mais se afastam dos padrões considerados de “normalidade”, incomodam a sociedade, supostamente, representando desafios à sua organização e desenvolvimento.

A subjetividade de cada pessoa  é determinada  desde a combinação dos cromossomos (DNA), herdados do pai e da mãe, das influências recebidas durante a concepção e no parto, da história vivida desde os primeiros tempos, no seio de uma família ou não, das condições econômicas e culturais do meio em que vive e se desenvolve.

No passado, a dificuldade de aceitação da diferença de cor, levou algumas sociedades brancas a negarem aos escravos negros a condição de seres humanos. Hoje ainda, pessoas portadoras de deficiências físicas, reclamam dos administradores públicos que não se esqueçam delas, deixando de rebaixar calçadas, construir rampas em prédios e outras providências, que as permitam gozar dos mesmos direitos dos outros cidadãos não deficientes.

O direito daquelas pessoas portadoras de sofrimento mental, também não tem sido devidamente respeitado, nesta nossa sociedade tida como evoluída.  Se, por um lado, os meios de tratamento têm se desenvolvido muito, possibilitando que tais pessoas possam se manter junto de seus familiares, desde que sejam  medicadas e acompanhadas, a estrutura de confinamento em manicômios ainda se mantém, encontrando apoio de alguns setores, que a  têm  explorado de maneira  indiscriminada.

Respeitar e aceitar cada pessoa em sua subjetividade, em sua forma particularizada de ser, é saber conviver com as diferenças existentes entre os seres humanos. É superar a tendência imatura e comodista de igualar e nivelar a todos, na ilusão de que isso tornaria a vida mais fácil e/ou produtiva.

Postado por José Morelli