segunda-feira, 25 de junho de 2018

Provocações

Quem não se lembra do programa “Provocações”, na TV-Cultura, apresentado pelo ator Antonio Abujamra?... A palavra que deu título às entrevistas que fazia não foi inventada por ele e nem pelo programa, uma vez que o verbo provocar e o substantivo provocações provieram do velho latim, língua mãe de nosso idioma português: herança de nossos predecessores no tempo e no espaço.

Vocare, em latim, é o mesmo que chamar. O prefixo pro se traduz como: em favor de. Palavras ou situações provocativas possuem a força de mexer com os pensamentos e as vontades das pessoas instando-as a tomadas de atitudes. Quem tem boa cabeça para pensar e coração sensível para se emocionar não fica inerte diante de incisivas provocações.

Acontecimentos bons e maus podem se constituir como estímulos às decisões. Os primeiros no sentido de instar-nos a melhorar e os segundos no sentido de impulsionar-nos à busca de soluções aos problemas. Acredito que o momento histórico em que nos encontramos é recheado de provocações dos mais variados tipos, exigindo grande discernimento da parte dos que têm amor próprio e amor àqueles com quem convivem e formam o próprio país e nação.

À consciência de cada indivíduo cabem as respostas a serem dadas às questões pessoais. Ao consenso buscado e encontrado pelas consciências individuais cabem as respostas necessárias à superação dos problemas que atingem a todos. Quanto maiores os problemas mais necessidade de diálogo entre os interessados em superá-los.

Se as informações que chegam oficialmente são parciais e não totalmente verdadeiras é mais que necessário que as pessoas ouçam umas às outras, colocando o melhor de si mesmas na transmissão de suas percepções da realidade, sem que a presunção faça de qualquer um sentir-se como exclusivo dono da verdade.  As questões em jogo são por demais importantes para que apenas as empurremos com a barriga. As consequências de nossas indiferenças frente às provocações de nosso momento histórico podem levar a situações desastrosas para a presente geração e para gerações futuras.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Injusto agressor e vítima

Em muitas estórias estão presentes esses dois personagens. Eles possuem características bem definidas. As ações que realizam caracterizam o papel específico de cada um. São personagens cujos papéis são complementares. Um não existe sem o outro e um dá sentido ao outro.

As ações são o verso. No reverso se encontram os sentimentos e fantasias. A complementariedade fica clara, quando a análise se ocupa não apenas das ações, mas também dos sentimentos e das fantasias, que são o apoio e a razão de ser das atitudes, quer do agressor, quer da vítima.

E quais são os sentimentos e fantasias que estão subjacentes às atitudes de vítima e de agressor?... Que dificuldades especiais têm um e outro personagem?... - O agressor não receia ostentar atitudes que lhe garantam estar por cima, demonstrando não se importar do que possam pensar os outros. É muito mais tenebroso para ele estar por baixo e sentir-se humilhado do que ser visto demonstrando frieza e crueldade. - A vítima, por sua vez, ostenta atitudes que a colocam por baixo. Muitas vezes até chama a atenção dos outros para que sua condição de vítima fique bem manifesta, de forma a tornar inequívoca sua condição e de que é o agressor o responsável. Para ela é tenebroso estar por cima e sentir-se culpada por ocupar uma situação de superioridade frente a quem a agride. Um vê e reconhece no outro aquilo que tem mais dificuldade de ver e reconhecer em si mesmo.

O grau de conivência, a cumplicidade entre o agressor e sua vítima é algo muito difícil de definir. Quanto maior clareza a pessoa passa a ter com relação a si mesma e a dinâmica determinada por seus sentimentos e fantasias mais condição ela terá de conter-se e de orientar-se.

Com maior ou menor intensidade, atitudes de agressor e de vítima são tomadas por todos nós, diariamente. É só observar com um pouco mais de atenção tudo o que fazemos e perceberemos como elas estão presentes. Tentamos tirar vantagens das situações em que nos envolvemos, ora agredindo, ora permitindo que nos façam de vítima.

Postado por José Morelli