Temos a noção do que é um “quadro”. Nossa imaginação logo o constrói, toda vez que ouvimos falar, em nossa língua, a palavra que o representa. É da natureza do quadro, mostrar-se. A expressão “quadro clínico”, portanto, é apropriada para dizer de como se encontra, num dado momento, o doente. A palavra “clínico”, que tem origem grega, significa: inclinado/ deitado, alguém que não está bem de saúde e necessita de uma atenção médica especial.
Os quadros convencionais não se movimentam. Apresentam-se
estáticos, parados. Aquilo que é, por eles, mostrado hoje, continuará a sê-lo
amanhã, no próximo mês, daqui a um ano. Já o quadro clínico de um doente
evolui: é dinâmico, vivo, movimenta-se podendo progredir ou regredir, melhorar
ou piorar. Neste ponto, a comparação com o quadro não é perfeita. As imagens em
movimento, que hoje existem em grande quantidade, poderiam expressar melhor
esta particularidade dos quadros clínicos.
Uma foto. O quadro clínico é como uma foto.
Para poder acompanhar a evolução do estado do doente, é preciso fotografa-lo de
tempo em tempo. Pela comparação das primeiras imagens com as mais recentes, é
possível medir a direção e a rapidez com que a doença se retrai ou evolui. Não
é possível acompanhar tudo. Procura-se, então, observar os aspectos mais
relevantes e representativos em cada caso.
Na psicologia, quantificar é mais complicado. A
vida mental e emocional possui maneiras e maneiras de se manifestar. Os testes
são bons instrumentos de medição. Com eles, podemos alertar-nos sobre aspectos
básicos de um problema. É preciso ter muita abertura na hora de interpretar os
resultados. Nada é absoluto. A mente e os sentimentos podem ser extremamente
velozes em suas mudanças. A lógica do ser ou não ser nem sempre se aplica. Na
subjetividade de cada indivíduo as contradições, que podem ser comparadas a
nós, nunca deixam de estar presentes.
Nós, desses difíceis de serem desmanchados,
nunca faltam em qualquer quadro clínico de problemas psicológicos.
Identificá-los é uma tarefa que exige esforço e coragem. Quanto a desatá-los, é
um desafio para a vontade firme de quem deseja libertar-se. O estímulo é saber
que libertar-se é renascer, é passar de um estágio da vida para outro, é perder
para poder ganhar algo novo, um processo que nunca é desacompanhado de algumas
dores. Dores que servem como fertilizantes para a produção de novas alegrias de
viver com mais qualidade.
Postado por \José Morelli