domingo, 25 de agosto de 2019

"Penha de França - Expressões do Rosário

Mais uma comemoração de aniversário do bairro da Penha se aproxima. No dia 8 de setembro, próxima semana portanto, a Penha estará celebrando seus 352 anos de história. Foram muitos os que protagonizaram, através de suas contribuições individuais e coletivas, tijolo por tijolo, a construção deste lugar no qual caminham nossos pés hoje.

As expressividades foram muitas. Cada uma delas representativa de valores importantes que assinalaram as direções percorridas nesses mais de três séculos e meio de existência. Não são poucos os nomes pelos quais são chamados nossos rios e ribeirões (Aricanduva, Guaiaúna, Tiquatira...) bem como um número significativo de ruas (Aracati, Umbó, Paracanã, Betari...), que testemunham a presença de índios, num período que antecede à nossa história. Depois deles, tivemos aqui ricas famílias (portuguesas em sua maior parte) possuidoras de grandes extensões de terras, doadas pela coroa portuguesa na forma de sesmarias.

No livro, escrito por mim, cujo título consta na introdução desta matéria “Penha de França – Expressões do Rosário”, registro acontecimentos e personalidades que fizeram parte da herança europeia nos primórdios da Penha: o Padre Jacinto Nunes de Siqueira, construtor da primeira capela e, por isso, considerado fundador do bairro; o Padre Antonio Benedito de Camargo e o antigo casario onde viveu e, no qual, pernoitou Dom Pedro I em sua passagem pela Penha, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil; o Coronel Antonio Prost Rodovalho e seu Palacete outrora construído na rua que leva o seu nome; a senhora Maria Carlota de Melo Franco e sua imponente mansão, no lugar em que hoje se encontra o Posto de Saúde da Penha, na Praça Nossa Senhora da Penha e outros.

Para fazê-las produzir, os proprietários de terras além da mão de obra dos indígenas, contaram também com o trabalho duro de escravizados africanos. Embora o protagonismo destes não tenha merecido o devido registro na história oficial, através das narrativas do livro “Expressões do Rosário” busquei fazer justiça ao legado deixado pelos membros da Antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França, construtora da Igreja de Nossa Senhora do Rosário (patrimônio tombado pelos órgãos de preservação histórica do município e do estado), num tempo em que ainda imperava o regime de escravidão no Brasil. O livro, além de versar sobre o bairro, também conta a história da presença dos africanos e seus descendentes até os dias de hoje.

Se o amigo/a leitor/a deseja conhecer melhor essa história, pode adquirir um belo exemplar do livro “Penha de França – Expressões do Rosário” tanto Livraria da Basílica de Nossa Senhora da Penha como na da Igreja do Rosário, pelo valor de R$ 50,00.

Postada por José Morelli

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Azul celeste

É sempre muito bom ler um livro com qualidade e, melhor ainda, poder compartilhar das idéias, nele contidas, com outras pessoas. É o que eu gostaria de fazer agora com você, leitor (a), ressaltando principalmente algumas constatações, relacionadas à cor azul, e contidas no livro: “As estruturas antropológicas do imaginário”, de Gilbert Durand. Este autor tece seus argumentos recolhendo importantes contribuições de outros reconhecidos pesquisadores, citando-as com maestria e compondo assim um belíssimo texto, com múltiplas tonalidades e variadas formas.

No contexto geral do livro, a simbologia é fruto da imaginação, resultante de um processo de aprendizagem em que os humanos foram se equipando de meios para codificar e decodificar objetos, associando-os entre si. A grandiosidade do céu azul mereceu da parte de alguns povos antigos um sentido de grande admiração, a ponto de o considerarem um deus, ao qual lhe destinaram um culto especial.  

Segundo o autor, a luz celeste é incolor ou pouco colorida. Frequentemente, na prática do sonho acordado o horizonte torna-se vaporoso e brilhante. A cor desaparece à medida em que a pessoa se eleva em sonho e faz-lhe dizer: “sinto, então, uma grande impressão de pureza”. Esta pureza é a do céu azul, privado e cambiante das cores, é “fenomenalidade sem fenômeno, espécie de nirvana visual que os poetas assimilam ao éter, no ar puríssimo...”

A psicologia contemporânea confirma de resto, esse caráter privilegiado do azul-celeste, do azul pálido”. Num dos mais importantes testes psicológicos, “esse azul é entendido como a cor que provoca menos choques emocionais, contrariamente ao preto e, mesmo, ao encarnado e ao amarelo”.
Como mostram os pesquisadores Goldstein e Rosenthal, as cores frias, entre as quais o azul, agem no sentido de um “afastamento da excitação;” o azul reúne, portanto, as condições ótimas para o repouso e sobretudo, para o recolhimento.  

No Brasil, nos dias de carnaval e início da quaresma a partir da quarta-feira de cinzas, o céu se recobre de nuvens brancas, algumas vezes, até mesmo de nuvens negras, anunciando fortes tempestades. Porém, com a aproximação do início do outono, as temperaturas vão se tornando mais moderadas, a luz do sol vai ganhando mais luminosidade e o céu se apresentando com seu azul mais intenso. A associação desses dois fatores permite maior recolhimento e tranquilidade, justamente, características apropriadas à cor azul celeste, objeto desta nossa partilha.

Postado por José Morelli