quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Angústia existencial

Trata-se de uma sensação de sufoco provocada por contingências da própria existência. Em latim, a palavra angústia, utilizada no plural, significa desfiladeiro: conjunto de montanhas muito altas que se afunilam em suas bases, formando uma garganta ou passagem estreita e íngreme. A angústia é sentida no peito e na garganta. A respiração não consegue fazer com que o ar entre ou saia dos pulmões, provocando uma espécie de sufoco. A falta de oxigênio nas células, principalmente nas do cérebro, podem acarretar sensação de atordoamento.

A vida com seus impasses pode causar essa sensação tão desagradável e sofrível a um indivíduo, tanto pela forma concreta de como ela acontece, no contexto das condições materiais nas quais se insere, como pelo sentido que lhe é atribuído, em termos de valorização ou de importância.

As contingências de tempo e de espaço são os trilhos sobre os quais a vida desliza. À semelhança de um trem, a existência humana também percorre um a um cada trecho da via férrea, não voltando atrás nem queimando etapas. O presente é sempre a oportunidade única que se apresenta. A vida corporal se mantém por força das repetições: o coração não pode deixar de bater; o sangue não pode deixar de percorrer o corpo inteiro; os pulmões não podem deixar de levar o oxigênio a todas as células. As repetições desses movimentos garantem que a vida no corpo se mantenha viva e presente no corpo.

As interações humanas com o mundo material também se dão através de repetições constantes e ininterruptas: segundos e minutos que se sucedem, horas formando dias e noites, semanas, meses compondo estações, anos... Para que não terminem, é preciso que outro se inicie sem que se admitam finalizações. Se não houver recomeço, a vida simplesmente se acaba.

A perspectiva do fim da vida corporal paira constantemente sobre a cabeça de todos.  A limitação do viver tem capacidade e força de gerar uma angústia existencial, à semelhança da espada de Dâmocles. Sobre a cabeça deste personagem, de acordo com o que narrou Cícero (106 a.C), foi pendurada uma espada, presa apenas por um fio de rabo de cavalo e isso fez com que ele perdesse o interesse por tudo o que a vida lhe podia estar oferecendo de bom e prazeroso.

Postado por José Morelli