sábado, 28 de dezembro de 2019

Dialética entre os opostos

Trata-se de uma conversa, de um diálogo ou confronto entre posições contrárias. Na hipótese de que a vida no planeta tenha se desenvolvido a partir da evolução das espécies, o chamado “homo erectus” se constituiu como elo de passagem da condição irracional para a condição racional dos seres humanos. Sua posição ereta (altiva) permitiu-lhe ver o mundo na horizontal, podendo vislumbrar tanto o para cima (do céu) como o para baixo (da terra). A mente humana passou, então, a estabelecer conceitos (ideias) comparando-as entre si.

Chamamos de sinônimos aqueles conceitos similares ou semelhantes e de antônimos aqueles que são diferentes ou contrários: Deus/diabo; bem/mal; tudo/nada; céu/inferno; vida/morte; saúde/doença; dentro/fora; direita/esquerda; paz/guerra; dia/noite; bonito/feio; alto/baixo; forte/fraco; calor/frio; claro/escuro; mole/duro; verdadeiro/falso; justo/injusto; impunidade/justiça; recompensa/castigo; branco/preto; norte/sul; leste/oeste; rico/pobre; matéria/espírito; corrupção/idoneidade; cheio/vazio; pesado/leve; mais/menos; perto/longe; sim/não; visível/invisível; agressor/vítima; homem/mulher; alegria/tristeza; silêncio/barulho; educado/deseducado; sábio/ignorante; fiel/infiel; rápido/devagar; fome/saciedade; atenção/distração; avançado/retrógrado; otimista/pessimista; sensível/insensível; moral/imoral; etc... .

Em se tratando das cores, estas se constituem a partir da decomposição da luz sobre as superfícies. As cores primárias se desdobram nas secundárias, passando de uma nuance para a outra, da forma como as encontramos nos catálogos de vendas nas lojas de tintas. Os opostos são os extremos de um lado e de outro. A realidade é bem mais do que simplesmente o que identificamos como opostos. Nossa vida oscila entre o mais e o menos e de todas as variações em que a realidade pode ser fracionada. Existe até um provérbio que diz que a virtude se encontra no meio termo, isto é: no equilíbrio.  A filosofia oriental ensina que dentro de um extremo se encontra o outro e vice-versa (yin e yang).

No dia a dia de todos nós, oscilamos. Precisamos de tudo: dos dias e das noites, do trabalho e do descanso, do mais e do menos. Vivemos em um mundo em que as ideias são vendidas ou compradas, roubadas ou compartilhadas graciosamente. Cabe a cada um de nós administrá-las, colocando-as ao próprio serviço e/ou ao serviço daqueles que, conosco, compartilham nossa contemporaneidade perto ou longe de onde, fisicamente, nos encontrarmos.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Quem usa cuida

Mais um provérbio expressão de nossa língua portuguesa. Em frase sonora e curta, através dos significados de cada palavra, é transmitida a mensagem: cuidado com aquilo que você “usa” (pensa, costuma falar, escreve, gesticula, reclama), a probabilidade de que você não só “use”, mas também “cuide” (isto é: sinta-se atraído, reprima-se na mesma vontade e até pratique) é grande e significativa! A sabedoria popular construiu provérbios sintetizando através de anos e anos de “janela”, aquilo que observou do comportamento das pessoas. Merece respeito a ideia expressa no “quem usa cuida”, como em muitos outros ditos populares.

A observação científica, encontrada em livros de autores, que pesquisaram ou coletaram pesquisas de outros sobre o comportamento humano, confirma que a hipótese expressa no provérbio citado não só não é absurda, como até possui fundamentação em importantes teorias da personalidade.

Existem maneiras diferentes de “cuidar”: uns cuidam pelo sim, outros cuidam pelo não; uns pela aprovação, outros pela desaprovação. Os primeiros proclamam explícita e implicitamente, por palavras ou ações, os valores positivos, as razões e justificativas do que dizem e fazem. Os segundos negam esses valores, afirmando que eles são negativos ou destrutivos. Lutam contra eles como baluartes na defesa do bem sobre o mal.

A insistência em falar de alguma coisa, sentindo-se muito incomodado com ela, denuncia o compromisso, a ligação de dependência, mesmo que seja por causa da percepção de impotência, de incapacidade de superá-la. Fica a sensação de estar sendo dominado ou correndo o risco de ser dominado, escravizado a qualquer momento. Daí a necessidade de “usar”, que não deixa de ser uma forma também de “cuidar”. Outros ditos populares alertam: “os extremos se tocam” e “quando a esmola é muita, o santo desconfia”. A ciência nasce da vida. A sabedoria não se confunde totalmente com a ciência. Ambas não se excluem, mas se completam para que as pessoas (eu, você) se busquem e se encontrem reconhecendo-se em suas maneiras de ser, de agir e de sentir (sem disfarces ou subterfúgios).

Postado por José Morelli

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Universo infantil

Do pensador e poeta libanês Khalil Gibran, nos foi transmitida a seguinte frase a respeito de pais e filhos: “Tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados”. Assim como o poema em seu conjunto, esta expressiva frase é, também, bastante rica como mensagem inspiradora. Independentemente da inclinação com que a flecha sai do arco, ainda assim sua trajetória encontra fatores que a podem modificar no caminho que percorre, bem como no alvo que atinge.

O universo infantil, disponibilizado às crianças de hoje, principalmente, vem agregando cada vez mais novidades, oferecidas pelas tecnologias de comunicação e outras. Nossos filhos e filhas, netos e netas partem de plataformas de lançamentos bem diferentes daquelas das quais fomos impulsionados, desde os nossos primórdios. Um mínimo de processamento de tantos dados se torna necessário para que a mente e o sentimento/emoção gozem de alguma harmonia entre si, facilitando-lhes o desenvolvimento.

Nesse contexto é que a psicoterapia infantil encontra seu papel auxiliar junto à sociedade e às famílias. Dentro do universo da criança, ela se constitui como um espaço privilegiado de encontro desta consigo mesma e com as representações, disponibilizadas no ambiente lúdico em que o/a psicoterapeuta a acompanha em todas as suas ações e reações.

A palavra “universo” diz respeito ao contexto amplo, amplíssimo, representativo da maior abrangência na qual todos nos inserimos e nos movimentamos, direta ou indiretamente. Advindas das mais distantes e, principalmente, das mais próximas, as barreiras ao desenvolvimento da criança surgem a partir dos contextos: familiar, escolar e do meio social.

Se adultos travam frente a tantos obstáculos, por que razão crianças também não travariam diante de situações que se lhes apresentem como ameaçadoras e castradoras?... A atenção dada à criança pelo psicólogo/a, no ambiente terapêutico, se constitui como oportunidade ímpar de novos entendimentos e sensações, que ampliam a capacidade de assimilação da realidade, da parte daquelas crianças que estão necessitando de ajuda.

Postado por José Morelli

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Apropriar-se de si

Tornar-se dono de si mesmo/a. Ter-se as rédeas, de si, nas próprias mãos. Reconhecer-se naquilo que é, naquilo que pensa e sente. Apropriar-se do conhecimento da própria história pessoal, da história da família da qual proveio, da história do grupo social do qual se entende pertencendo - ou, para fazer uso de uma única palavra: contextualizar-se.  

Para se apropriar de si mesmo/a, de verdade, não basta apenas o conhecimento da própria realidade e do que existe à volta. É preciso, também, certo grau de compreensão, de aceitação, capaz de permitir discernimento dos caminhos a seguir e possibilidade de escolhê-los com relativa autonomia ou liberdade.  

A vida pessoal de cada ser humano pode ser comparada a uma caixa-de-surpresas. Acontecimentos inesperados do dia a dia suscitam respostas novas e originais. Nesse processo, podem acontecer descobertas: ideias antigas vão sofrendo reformulações, dando origem a novas ideias. A compreensão vai se ampliando, ganhando dimensões mais completas e abrangentes.

O adulto que é dono de si e vive de bem, em paz ainda que limitada consigo mesmo é, também, capaz de conviver com o outro, dando-lhe autonomia para que viva sua vida livremente. Sabe respeitar os direitos do outro, da mesma forma como se respeita em seus próprios direitos. As diferenças de juízos, de julgamentos das muitas questões da vida, fazem parte da realidade. Conviver com os diferentes e com as diferenças é inevitável na vida de cada um, independendo das condições e do lugar em que esteja.

Caminhos de idas e de voltas (de si para os outros e dos outros para si) permitem renovadas sínteses. A vida é feita de oportunidades. Em cada fase da vida, a possibilidade de aprendizados específicos. De alguma forma, a mente guarda as experiências vivenciadas desde os primeiros anos de vida. A maturidade é a fase, por excelência, de se poder sentir que se tem o que tem, com mais clareza e serenidade. Da troca constante com as novas gerações, o adulto maduro mantém-se atualizado em suas percepções.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Zona de conforto

É aquela em que o indivíduo se sente confortável, não querendo que o bem estar por ele proporcionado nunca se acabe. Trata-se de um conceito, que pode ser útil para algumas reflexões. O que é visto e sentido como zona de conforto para um poderá não sê-lo para outro. Uma boa condição financeira é capaz de proporcionar facilidades para muitas coisas. Enquanto o marido se estimula com o que ganhou e ganha, desafiando-se a conseguir ainda mais, sua mulher poderá servir-se dela apenas para usufruir das mordomias que a mesma pode dar, acomodando-se a todo resto.

A tendência natural da vida é a de se buscar alcançar zonas de conforto. Para isso, muitas vezes, é necessário despender grandes esforços. Não seria racional que, depois de tê-las conquistado, não se desse, a si e aos seus, o direito de usufruir o que elas podem oferecer de bom!

Por outro lado, quanto à zona de desconforto, a tendência é a de fugir dela, o mais rápido possível. O mal estar por ela despertado causa aversão aos seus primeiros sinais. As más condições do meio externo exigem adaptações internas. O faquir indiano consegue deitar-se sobre uma cama de pregos e ali permanecer por certo tempo. Condições externas favoráveis não exigem adaptações internas. O exemplo do faquir acena para a diferença entre o ter e o ser: as zonas de conforto ou de desconforto se referem mais precisamente às condições materiais. A santa Irmã Dulce sentia-se bem junto aos doentes que cuidava, tidos como bens valiosos em seu entendimento.

A promoção só de facilidades não ajudam no desenvolvimento e formação dos filhos, nem de qualquer outra pessoa. Estímulos aversivos são eficazes meios para extirpar comportamentos indesejáveis. A dificuldade é de como dosar a aplicação de medidas corretivas, através de estímulos gratificantes ou de punições.

Existem pessoas que são movidas a elogios, outras parece que não entendem outra linguagem se não a de broncas e castigos. Vida é movimento. Este precisa existir em algum lugar. Se não está no corpo precisa estar na mente ou na alma. Conforto e desconforto fazem parte da dinâmica da vida. É preciso existir uma alternância entre eles. Um precisa servir de trampolim para o outro. Só assim se pode ir mais longe, conhecendo-se melhor e a novas situações e lugares.      

Postado por José Morelli 



terça-feira, 29 de outubro de 2019

Auto-massagem

Quando é a própria pessoa que se massageia, chamamos de auto-massagem. Uma das vantagens de se massagear é o fato de a pessoa sentir o efeito produzido pelo seu próprio toque, nas regiões do corpo em que sente mais tensão. Iniciando com uma pressão mais leve, caso esteja sentindo dor, pode, pouco a pouco, intensificar os movimentos e a pressão, na medida em que a dor vai diminuindo.  O princípio é o de dissolver a tensão, esteja ela na região do corpo em que estiver.

As mãos são o principal meio de se massagear. Um pé é capaz de massagear outro pé ou mesmo algumas regiões da perna, como a barriga-da-perna ou o tornozelo e as canelas, por exemplo. O esforço para adaptar a posição das mãos ou dos pés, já é um exercício, que concorre para que a auto-massagem produza ainda mais efeitos.

A região das costas representa um desafio para ser massageada com as próprias mãos. Porém, com criatividade, é possível encontrar maneiras de alcançá-la em toda a sua extensão, ora friccionando-a, ora dando-lhe leves tapas com o dorso das mãos.

Ao esfregar as mãos uma na outra, elas desprendem energia, assim como acontece com outros objetos. Ao passá-las, logo em seguida, no rosto, nas pernas e em outras partes do corpo, as mãos provocam a passagem e a descarga de eletricidade, fazendo diminuir a tensão, acumulada em cada uma dessas partes.

Enquanto as mãos tocam, não deixam, também, de serem tocadas. Os efeitos são recíprocos. As tensões, no corpo, frequentemente, são causadas pelas preocupações da vida e pelos conflitos não resolvidos. Ao massagear-se, a pessoa se ajuda, procurando aliviar seu corpo das consequências diretas, nele provocadas, pelas preocupações e pelos conflitos. É uma forma de auto-controle diante das situações que desequilibram a vida. Uma razão a mais para se sentir competente e feliz, capaz de se proporcionar, com as próprias mãos, bem estar e saúde.

Corpo e mente estão intimamente ligados. Por dois caminhos as pessoas podem se ajudar: pela via da mente, trabalhando-se em seus pensamentos e vivências e, pela via do corpo, através de exercícios corporais e de massagens. Na medida em que uma pessoa pratica a auto-massagem, ela descobre maneiras novas de se conhecer e de se valorizar através de atitudes palpáveis e concretas

Postado por José Morelli

sábado, 26 de outubro de 2019

Indivíduos que somos

Desde que nos foi cortado nosso umbigo, separando-nos de nossa mãe, constituímo-nos em nossa individualidade. Indivíduo é o mesmo que não dividido. Somos uma unidade, uma unicidade. Não nos confundimo-nos com os demais seres humanos em nossa identidade pessoal. Nosso ser corporal possui tudo o que lhe é necessário para ser autônomo em suas condições de subsistir. Somos sujeitos de responsabilidade. Respondemos pelo que fazemos, pensamos, sentimos. Nossa individualidade humana merece ser respeitada e dignificada pelos outros e por nós mesmos.

No que, então, nos diferenciamos?... Distinguimo-nos pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Distinguimo-nos pelos caminhos que escolhemos trilhar. Distinguimo-nos não só pelo que escolhemos realizar; mas, também, pela maneira como realizamos o que escolhemos realizar; pelo momento em que nos colocamos em ação; pelos meios que utilizamos para agir e, finalmente, pelos motivos que nos levaram a concretizar as escolhas que fizemos. As circunstâncias, muitas vezes, influenciam nos resultados obtidos, seja para melhor, seja para pior.

Distinguimo-nos pelo tempo de vida vivido. Distinguimo-nos pelo espaço que ocupamos. O tempo e o espaço nos inserem em nossa história pessoal, familiar e comunitária. Influenciamos e somos influenciados por nossos compartilhamentos com os outros. Nossas histórias pessoais se entrelaçam com as histórias coletivas de nossos contemporâneos. Somos a somatória de nossas experiências compartilhadas. Somos as marcas adquiridas e que vão nos deixando sequelas ou legados.

Somos a intimidade de nossos segredos guardados a sete chaves. Nossa individualidade nos condiciona em nossa solidão. Elevamo-nos e rebaixamo-nos ao comparar o que realizamos com o que esperávamos e sonhávamos realizar. Experimentamos que, ao compartilharmos nossos sonhos, estes passam a ter muito mais chances de se realizarem de forma a surpreender-nos por seus desdobramentos. Vamos além de nós mesmos, a partir de nossa individualidade.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Encaixes & desencaixes

O uso do & (e comercial) no título acima tem sua razão de ser. A finalidade dele não é apenas de conectar duas palavras, mas de associá-las entre si. Os encaixes servem de base aos desencaixes assim como os desencaixes servem de base (ponto de partida) aos encaixes.  

Podemos nos encaixar ou nos desencaixar de nós mesmos (de nossos desejos, de nossos projetos de vida, de nossas necessidades) e podemos também nos encaixar ou nos desencaixar daqueles ou daquilo que nos cerca, que se encontra à nossa volta.

O bom entrosamento dos jogadores da seleção brasileira ou de qualquer outro time de futebol resulta em acertos que podem se converter em gols e em vitórias. Encaixes ao serem passadas as bolas aos companheiros, desencaixes ao serem criadas jogadas inovadoras e que desarmam os esquemas táticos do adversário.   A falta de entrosamento pode servir como estímulo aversivo (que incomoda) e instigar a uma mudança na forma de se movimentar em campo. Cabe, principalmente ao técnico que observa o jogo a partir de fora, apontar os desencaixes que impedem o time de se entrosar nas jogadas. 

A harmonia externa depende da harmonia interna. Só se pode dar aquilo que se tem e não aquilo que não se tem. A vontade de colaborar com os companheiros (espírito de equipe) é o fundamento indispensável para que o time funcione como um bom relógio. Os olhos do jogador se voltam para o campo inteiro no interesse de perceber como passar a bola a quem se encontra melhor posicionado.

Racionalmente, temos a capacidade de atribuir significados às coisas. Interpretamos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor. Damos mais valor a algumas coisas e menos a outras. Fundamentados nessas valorizações, damos preferência àquilo que nos parece mais importante em detrimento daquilo que nos parece com menor significância. Uma energia mental é mobilizada direcionando-nos mais para uma direção do que para outra.

Emocionalmente, motivações que a humana razão desconhece também concorrem no conjunto de forças que nos impulsionam em nossas ações.  Medos ocultos, associações estabelecidas em acontecimentos do passado e que ainda permanecem como marcas que a vida não conseguiu apagar também influenciam no sentido de ajudar-nos ou de atrapalhar-nos naquilo que nos propomos fazer.

Quanto melhor nos conhecer-nos, mais bem equipados estaremos na tarefa de encaixar-nos & desencaixar-nos nas demandas de nosso dia a dia.

Postado por José Morelli

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mãe-gente

Se depender apenas do filho(a), mãe é só mãe. Assim, este (a) a conheceu e se acostumou a vê-la e entende-la desde o nascimento. No entanto, antes de ter se tornado mãe, ela já se constituía como gente: gente-filha; gente-mulher; gente-irmã; gente-amiga/colega; gente-profissional; gente-cidadã. Primeiro veio a condição de gente, depois a de mãe, com suas seguranças e inseguranças, suas forças e suas fraquezas, como a todo e qualquer ser humano normal.

O papel de mãe se desenvolve a partir da vivência concreta. Assim como os braços adquirem habilidade e força através dos movimentos e do trabalho, assim também as expectativas da nova mamãe podem transformá-la em MÃE apenas ou em mãe-gente, mantendo-a em seus demais papéis, com os direitos e obrigações inerentes a cada um deles.

“Ninguém pode dar o que não tem”, assim adverte a sabedoria popular. A mãe que se assegura a si própria o direito de ser gente, pode transmitir ao filho (a) essa sua maneira de ser e de agir. É provável que o este (a), assimilando para si essa liberdade, consiga aceitar, com mais naturalidade, que sua mãe também a tenha e a coloque em prática.

O desenvolvimento da mãe-gente, em seus múltiplos papéis, pode também ser comparado com os galhos de uma árvore. Estes não são todos iguais no comprimento e na espessura. Assim, dependendo do exercício constante em cada papel, estes se desenvolvem em maior ou menor proporção, de acordo com os empenhos dispendidos no exercício dos mesmos.

O desenvolvimento da mãe-gente não acontece sem conflitos. As solicitações vêm de todos os lados. São muitas as demandas e cobranças. As ideias claras quanto ao que quer, aliadas a uma força interior e objetividade, quanto às condições e limites pessoais, ajudam para o equilíbrio no crescimento em cada uma das diversas frentes de atuação.

Para quem vive a experiência de ser filho (a), contribui avaliar os próprios conceitos sobre sua mãe, os sentimentos e sensações que depreendem dos relacionamentos com ela. Que direitos lhe são concedidos?... Que obrigações dela são esperadas?... Quais são as expectativas justas que dela são possíveis: de uma supermãe ou de uma mãe-gente?!...

Postado por José Morelli 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Jogo: "Dentro-fora"

Existe um jogo, uma atividade, talvez o leitor/a já o tenha visto ou mesmo participado dele. Chama-se “Dentro-fora”. Para se jogar, é feito um círculo no chão com giz. É escolhido, em rodízio, um dirigente, que dá as ordens. Os outros participantes saltam para dentro ou para fora do círculo, de acordo com as ordens do dirigente. Na medida em que o tempo passa, as ordens podem ser dadas de forma mais rápida e, quanto maior a rapidez e modificações nas sequências das ordens, mais difícil será acertarem. Quem erra sai da roda e quem fica por último é o vencedor.

Trata-se de um jogo evidentemente, uma boa atividade para aquecimento do grupo. Como todo jogo, este também tem suas aproximações com a vida do cotidiano; uma vez que permite a apreensão de sensações que podem ajudar na percepção de aspectos importantes relacionados à personalidade de cada um, de suas maneiras próprias de interagir com os outros, com as coisas e com as situações emergentes.

Neste jogo são várias pessoas que participam, interagindo umas com as outras e com o espaço físico e temporal. Cada uma com o seu próprio ritmo e suas características individuais, o que possibilita competitividade. Decorre daí o afloramento de sentimentos de insatisfação/frustração, quando se perde e de satisfação/euforia quando se ganha.

Aqueles que mais se envolvem com o jogo têm maior chance de acertar, discriminando a ordem e realizando-a imediatamente. Os que estiverem menos envolvidos, dispersos ou inibidos, terão menor chance de se manterem no jogo até o seu final.

Se o dirigente usa uma mesma sequência para dar as ordens e, de repente, rompe essa sequência, é comum que um número maior de pessoas erre. Se o dirigente apressa o ritmo em que dá as ordens, isso cria maior dificuldade para distinguirem o sentido delas e dos espaços, dentro ou fora, que elas representam.

No dia a dia, nem sempre é tão fácil discriminar o que é “nosso” – de dentro – do que é “dos outros” – de fora. Ainda mais quando se considera que esses sentimentos são bastante fluidos, variando de situação para situação. Às vezes o que é “nosso” é aquilo que sentimos como mais íntimo, não incluindo mais ninguém além de nós mesmos. Outras vezes, “nosso” – de dentro – é a família, as pessoas de casa, da escola, da igreja. Outras vezes, ainda, é toda a torcida do time de nossa preferência, os brasileiros quando joga a seleção ou a nação inteira como quando esta participou, em esmagadora maioria, na campanha pelas “Diretas já”.

A sensação que temos, quando não conseguimos discriminar o que é “nosso” do que é ”dos outros”, o que está dentro do que está fora é uma sensação de confusão e de insegurança, muito desconfortável. Nesses momentos é preciso um mínimo de calma e de atenção e, pouco a pouco, ir recolocando coisa a coisa em seu devido lugar. Assim a sensação vai se transformando, devolvendo aos indivíduos o sentido da estabilidade e de segurança pessoal e de segurança coletiva.  

Postado por José Morelli

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Exercício com os olhos

Desde os tempos do colégio, aprendi este exercício e constantemente o pratico. A sala onde eram ministradas as aulas de física possuía uma infinidade de instrumentos, que permitiam a mestre e a alunos realizarem muitas experiências que se tornaram inesquecíveis. O professor era o padre Augusto Cherubini e foi ele que, numa das aulas, ensinou e recomendou aos alunos que o fizessem sempre que pudessem. Dele veio este legado, esta herança, pois naquele mesmo ano ele veio a falecer. Assim como o recebi “de graça” quero, da mesma forma, transmiti-lo a todos os leitores e leitoras deste blog.

O exercício consiste no seguinte: Procure um lugar tranquilo, em que possa ficar bem acomodado e onde a luz não seja muito intensa. Feche os olhos lentamente. Em seguida, movimente várias vezes as pupilas na horizontal, de um extremo ao outro, da direita para a esquerda, voltando sua  atenção aos movimentos que está fazendo. Depois, movimente os olhos na vertical, para cima e para baixo, várias vezes também. O terceiro movimento é na transversal: de cima, à direita, para baixo, à esquerda, indo e voltando tantas vezes como nas anteriores. O quarto movimento é também na transversal, agora ao contrário, de cima, à esquerda, para baixo, à direita. Para completar o exercício, gire as pupilas no sentido dos ponteiros do relógio e, por último gire no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio. O exercício inteiro pode durar de três a cinco minutos.

A musculatura dos olhos se beneficia com este exercício. Fica mais fortalecida, mais ágil, ampliando seu alcance de visão e capacidade. O treino de levar aos pontos extremos as pupilas torna-as mais aptas a verem o mundo em toda sua extensão, tanto no sentido físico como no psicológico. A coordenação dos movimentos ajuda a tranquilizar o sistema nervoso. Estas são algumas das vantagens, que tenho experimentado ao fazer este exercício e a razão de recomendá-lo aos outros de que o pratiquem sempre que os próprios olhos reclamarem de cansaço ou de dor.

Antes de terminar, quero insistir numa coisa que não é muito fácil, em qualquer exercício corporal. O envolvimento com os movimentos do exercício é fundamental para que surta o melhor efeito. Quando se está muito preocupado com algum problema, fica mais difícil deixar de pensar nele e nele se concentrar. Aí é que se encontra a importância de fazer um esforço para mudar o foco da atenção. Só esse esforço já o torna salutar. Centrar-se mentalmente em qualquer parte do próprio corpo é apoiar-se numa força que existe em cada ser humano e que, por si só, é um precioso dom que não se deve deixar perder.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Deletar

A tecla “delete”, do computador, tem enorme serventia. Para quem se utilizava das antigas máquinas de escrever manuais, quanta dificuldade para corrigir qualquer letra ou palavra escrita de forma errada. Os corretores de papel e as tintas corretoras, além do trabalho que exigiam, nunca deixavam o texto sem alguma rasura. Hoje, com o auxílio da tecla delete, as correções podem ser feitas com grande facilidade: vai-se e volta-se mil vezes no texto para a construção final de um paragrafo, como este que estou acabando de escrever.

Deletar vem do verbo latino “delere”, que significa “destruir”, “matar”... Quanto poder tem o mero acionar de uma simples tecla! Isso me faz lembrar aquelas cenas de filmes históricos da Roma Antiga, em que o imperador se atribuía poder de decisão de vida ou de morte daqueles que lutavam nas arenas dos grandes circos, existentes nas maiores cidades do Império. Com apenas um gesto de mão com o polegar voltado para cima, ele decidia pela salvação da vida do lutador; se, por outro lado e pela razão que lhe aprouvesse, ele orientasse o polegar para baixo, sua decisão significava a morte do contendor.

O verbo deletar vem se tornando cada vez mais presente na linguagem corrente da sociedade. O uso das tecnologias de comunicação ampliou as possibilidades de envios e recebimentos de mensagens escritas. Com facilidade, estas podem ser acolhidas ou descartadas. A tecla delete dá esse poder de descarte. Pouco a pouco, essa prática na virtualidade nos vai condicionando a uma insensibilidade cada vez maior para decidirmos pela exclusão deste ou daquele, disto ou daquilo. Hoje, administramos uma profusão incrível de informações que nos chegam num tempo insuficiente para acolhê-las todas de uma só vez. Daí, não ter como não selecioná-las instantaneamente, mediante o acionar da tecla delete.

Porém, nas relações efetivas que mantemos pessoalmente, uns com os outros, essa facilidade do descarte não pode se dar sem que tenhamos cuidados especiais. As consequências imediatas de nossas tomadas de atitudes, nos relacionamentos interpessoais diretos, não são iguais às de nossas tomadas de atitudes nos relacionamentos mediados por tecnologias. A vida real exige muito mais responsabilidade da parte dos interlocutores.

Postado por José Morelli

domingo, 25 de agosto de 2019

"Penha de França - Expressões do Rosário

Mais uma comemoração de aniversário do bairro da Penha se aproxima. No dia 8 de setembro, próxima semana portanto, a Penha estará celebrando seus 352 anos de história. Foram muitos os que protagonizaram, através de suas contribuições individuais e coletivas, tijolo por tijolo, a construção deste lugar no qual caminham nossos pés hoje.

As expressividades foram muitas. Cada uma delas representativa de valores importantes que assinalaram as direções percorridas nesses mais de três séculos e meio de existência. Não são poucos os nomes pelos quais são chamados nossos rios e ribeirões (Aricanduva, Guaiaúna, Tiquatira...) bem como um número significativo de ruas (Aracati, Umbó, Paracanã, Betari...), que testemunham a presença de índios, num período que antecede à nossa história. Depois deles, tivemos aqui ricas famílias (portuguesas em sua maior parte) possuidoras de grandes extensões de terras, doadas pela coroa portuguesa na forma de sesmarias.

No livro, escrito por mim, cujo título consta na introdução desta matéria “Penha de França – Expressões do Rosário”, registro acontecimentos e personalidades que fizeram parte da herança europeia nos primórdios da Penha: o Padre Jacinto Nunes de Siqueira, construtor da primeira capela e, por isso, considerado fundador do bairro; o Padre Antonio Benedito de Camargo e o antigo casario onde viveu e, no qual, pernoitou Dom Pedro I em sua passagem pela Penha, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil; o Coronel Antonio Prost Rodovalho e seu Palacete outrora construído na rua que leva o seu nome; a senhora Maria Carlota de Melo Franco e sua imponente mansão, no lugar em que hoje se encontra o Posto de Saúde da Penha, na Praça Nossa Senhora da Penha e outros.

Para fazê-las produzir, os proprietários de terras além da mão de obra dos indígenas, contaram também com o trabalho duro de escravizados africanos. Embora o protagonismo destes não tenha merecido o devido registro na história oficial, através das narrativas do livro “Expressões do Rosário” busquei fazer justiça ao legado deixado pelos membros da Antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França, construtora da Igreja de Nossa Senhora do Rosário (patrimônio tombado pelos órgãos de preservação histórica do município e do estado), num tempo em que ainda imperava o regime de escravidão no Brasil. O livro, além de versar sobre o bairro, também conta a história da presença dos africanos e seus descendentes até os dias de hoje.

Se o amigo/a leitor/a deseja conhecer melhor essa história, pode adquirir um belo exemplar do livro “Penha de França – Expressões do Rosário” tanto Livraria da Basílica de Nossa Senhora da Penha como na da Igreja do Rosário, pelo valor de R$ 50,00.

Postada por José Morelli

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Azul celeste

É sempre muito bom ler um livro com qualidade e, melhor ainda, poder compartilhar das idéias, nele contidas, com outras pessoas. É o que eu gostaria de fazer agora com você, leitor (a), ressaltando principalmente algumas constatações, relacionadas à cor azul, e contidas no livro: “As estruturas antropológicas do imaginário”, de Gilbert Durand. Este autor tece seus argumentos recolhendo importantes contribuições de outros reconhecidos pesquisadores, citando-as com maestria e compondo assim um belíssimo texto, com múltiplas tonalidades e variadas formas.

No contexto geral do livro, a simbologia é fruto da imaginação, resultante de um processo de aprendizagem em que os humanos foram se equipando de meios para codificar e decodificar objetos, associando-os entre si. A grandiosidade do céu azul mereceu da parte de alguns povos antigos um sentido de grande admiração, a ponto de o considerarem um deus, ao qual lhe destinaram um culto especial.  

Segundo o autor, a luz celeste é incolor ou pouco colorida. Frequentemente, na prática do sonho acordado o horizonte torna-se vaporoso e brilhante. A cor desaparece à medida em que a pessoa se eleva em sonho e faz-lhe dizer: “sinto, então, uma grande impressão de pureza”. Esta pureza é a do céu azul, privado e cambiante das cores, é “fenomenalidade sem fenômeno, espécie de nirvana visual que os poetas assimilam ao éter, no ar puríssimo...”

A psicologia contemporânea confirma de resto, esse caráter privilegiado do azul-celeste, do azul pálido”. Num dos mais importantes testes psicológicos, “esse azul é entendido como a cor que provoca menos choques emocionais, contrariamente ao preto e, mesmo, ao encarnado e ao amarelo”.
Como mostram os pesquisadores Goldstein e Rosenthal, as cores frias, entre as quais o azul, agem no sentido de um “afastamento da excitação;” o azul reúne, portanto, as condições ótimas para o repouso e sobretudo, para o recolhimento.  

No Brasil, nos dias de carnaval e início da quaresma a partir da quarta-feira de cinzas, o céu se recobre de nuvens brancas, algumas vezes, até mesmo de nuvens negras, anunciando fortes tempestades. Porém, com a aproximação do início do outono, as temperaturas vão se tornando mais moderadas, a luz do sol vai ganhando mais luminosidade e o céu se apresentando com seu azul mais intenso. A associação desses dois fatores permite maior recolhimento e tranquilidade, justamente, características apropriadas à cor azul celeste, objeto desta nossa partilha.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Rotular

É o mesmo que: colocar rótulo o etiquetar. O rótulo serve para identificar o produto que se encontra no interior de uma embalagem qualquer. Todo rótulo tem essa serventia, mas nem sempre o produto corresponde ao que ele diz. Existem tanto rótulos verdadeiros como rótulos falsos, colocados com a intenção de enganar quanto ao produto em si ou à sua procedência. Produtos que, pouco o quase nada se diferencia uns dos outros, podendo facilmente ser trapaceados com rotulagem falsa.

O verbo rotular também é utilizado quando alguém se refere a outra pessoa, resumindo sua identidade com um único adjetivo, de forma superficial e precipitada. Com relação a produtos, é possível se descobrir sua verdadeira natureza através de um teste de qualidade. Afirmações sobre pessoas é uma coisa fácil de fazer. Algumas vezes, se é possível dar-lhes a chance de passarem por averiguações de qualidade; na maior parte das vezes, porém, esse tipo de averiguação não é possível e se fica apenas com a imagem do rótulo inadequado ou superficial.

“Ganha fama e deita-te na cama!” Este provérbio, tão antigo, consegue passar uma ideia interessante. Se alguém adquire credibilidade perante os outros pode fazer uso desta imagem positiva pelo resto da vida, desde que não venha a “pisar na bola”, negando o que a fama lhe havia garantido. A vida é muito dinâmica e uma caixinha de surpresa de todos os tipos. As pessoas podem ser sempre novas, mostrando em qualquer momento faces ainda desconhecidas de sua realidade e que um simples rótulo não consegue mostrar.

É muito cômodo ater-se a rótulos. Não que eles não tenham seu valor e importância. Em se tratando de pessoas, no entanto, é importante que não sejam entendidos com o termo final de uma compreensão ou de uma definição do que elas são, mas como um começo de novas buscas, uma porta aberta que leve a entendimentos mais amplos e profundos da realidade que elas representam.

Rótulo é apenas rótulo, uma simples etiqueta. O conteúdo é sempre mais importante. O primeiro existe em função do segundo e não ao contrário. O rótulo é apenas um meio condutor, que pode ou não levar àquilo que é objeto do desejo. Vale à pena não se acomodar e abrir-se nos olhos e no espírito, superando a preguiça e o medo de ir sempre mais além das aparências.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Assimilar golpes

Na linguagem do boxe, a expressão “assimilar golpes” significa a capacidade do boxista de suportar os socos do adversário. Quando assimilados, os golpes não minam as forças do lutador, ele se mantém firme. Pode mesmo dar a impressão de que mais se cansa o adversário, desferindo seus socos, do que o contendor recebendo-os. É o bom condicionamento físico e psicológico que lhe dá toda esta capacidade.

Deixando de lado o sentido masoquista, que pode ser atribuído à capacidade de assimilar golpes, no boxe, pode-se fazer uso dessa expressão, aplicando-a à capacidade das pessoas que, no dia-a-dia,  mesmo procurando evitar, ao máximo, as dificuldades da vida, precisam desenvolver uma força muito grande para  assimilá-las, uma vez que, à semelhança do boxista, ao nascerem como gente, para se manterem em pé, será inevitável que, em vários momentos e circunstâncias,  tenham que levar e dar, pelo menos alguns bons socos.

Na vida, os golpes podem ser de naturezas diversas. São as frustrações e perdas, as decepções e outras dificuldades, evitáveis ou inevitáveis, que ocorrem na vida de qualquer ser humano. Certo preparo, uma boa estrutura, uma segurança pessoal, um sentido objetivo de si mesmo e do meio em que vive, ajudam na formação da capacidade de assimilação dos golpes no decurso da vida.

Golpes fracos e fortes. Tanto uns como outros precisam, muitas vezes, serem transformados em força. Não é só se poupando que o lutador desenvolve sua capacidade. Seu treino deve prepará-lo tanto para apanhar, como para bater, tanto para defender-se, como para atacar.

Nas competições, o boxista busca a satisfação da vitória. Sua força é alimentada pela expectativa que tem de vencer. Autoconfiança e segurança é que lhe dão força e resistência. Acreditando em si, na capacidade que tem de superar seu adversário, o lutador desenvolve-se psicológica e fisicamente.

Na educação dos filhos, não é só poupando-os de todas as dificuldades, que os pais os ajudam a estarem preparados para a vida. Idealismo e realismo devem se aliar para que o positivo e o negativo, o fácil e o difícil, o prazer e a dor, a competição e a cooperação sejam percebidos e reconhecidos, de uma maneira equilibrada, contribuindo, assim, para servirem de base à capacidade deles de viverem os bons e maus momentos, que a vida lhes reserva em cada etapa de suas vidas.

Postado por José Morelli


sábado, 13 de julho de 2019

Vulnerabilidades emocionais

Desde os nossos primeiros momentos de vida, mesmo da vida intrauterina, vamos somando sensibilidades ainda que sem entendê-las em seus significados.  Gradativamente, o entendimento vai se dando, à semelhança da posição em equilíbrio entre os dois pratos de uma balança, cujos pesos de um lado e de outro vão se igualando. Quando já temos certa capacidade de enfrentamento de determinadas questões, o peso do prato com negatividade vai se tornando relativamente menor e menos amedrontador, deixando-nos menos vulneráveis aos impactos por ele provocados. 

Nossa vida é um diálogo constante com os acontecimentos que temos de lidar no dia a dia. Quantos sustos nos surpreendem em nossa trajetória de vida. Os desafios sempre exigindo mais e mais força de mente e de espírito e de energia física também. Nem tudo aparece claramente. Só a emergência dos sintomas emocionais é que podem permitir que nos percebamos em nossas vulnerabilidades.

Quem, em algum momento, não experimentou aquela sensação indesejável e desconfortável de insegurança e de risco iminente?...  Quem, em algum momento, não se viu tomado por sintomas emocionais e físicos quase que indescritíveis?... Por mais indesejáveis que sejam esses momentos, ainda assim eles se constituem como oportunidade de aprendizado e de autoconhecimento.

Associações de ideias, atos falhos, sonhos podem nos ajudar no desvendamento de nossos segredos íntimos. Inimigos ocultos são mais perigosos do que os que não o são. Os sintomas desvendam a existência de problemas. Pegamos a ponta do fio de lã que se apresenta visível e vamos puxando, puxando. E não é que lá na outra ponta aparece alguma explicação!... Aí gritamos: “Eureca”, descobrimos de onde vem nossa fraqueza ou vulnerabilidade!

Pouco a pouco, vamos tomando posse de nós mesmos, consolidando-nos em nosso ser pessoal, familiar, profissional e social. Pouco a pouco, vamos amadurecendo e nos fortalecendo frente às nossas vulnerabilidades. Tornamo-nos mais adultos e capazes de ajudar-nos e de ajudar a quem de nós precisa de nossa colaboração ou apoio.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Quem é você?

Para responder a esta pergunta, eu e você certamente poderíamos fazê-lo de muitas maneiras. Um possível começo de resposta poderia ser assim: Sou a consciência que tenho de mim mesmo - Sou o entendimento que tenho de quem e de como sou – Sou as ideias que construo do mundo, das coisas e das outras pessoas que percebo existindo à minha volta – Sou os pensamentos e juízos que se acumulam em minha mente – Sou as dúvidas que intrigam e confundem meus pensamentos. Sou todas as recordações e lembranças que guardo no arquivo de minha memória.

Sequenciando, posso responder que sou as fantasias e imaginações que fazem minha vida ser mais divertida e instigante – Sou as inspirações que dão formas novas às minhas ideias – Sou as experiências que adquiri ao longo de todos os anos que tenho vivido – Sou as vitórias que conquistei – Sou os erros e fracassos que pratiquei e dos quais alguma lição pude aprender – Sou as marcas deixadas pela educação que me foi dada – Sou a sintonia que tenho do que paira sobre as mentes das pessoas em geral e que costumam chamar de inconsciente coletivo.

Sou, ainda, a vida que anima meu ser físico e mental/espiritual – Sou a capacidade de me emocionar com muitas das coisas que faço e percebo ao meu redor – Sou a energia física que impulsiona meus movimentos – Sou as emoções que experimento em quase tudo o que faço – Sou as sensações que fazem vibrar meu corpo – Sou amor e ódio – Sou barulho e silêncio – Sou erro e acerto. Sou os gostos de minha preferência – Sou as coisas com que me identifico – Sou meu corpo em seu todo e em cada uma de suas partes.

Seguindo na resposta, sou a percepção que tenho através de meus cinco sentidos – Sou a intuição que me ajuda a encontrar as soluções dos problemas - Sou a alegria que sinto de viver e de conviver – Sou a curiosidade que me estimula a conhecer cada vez mais – Sou os gestos que faço – Sou as palavras que pronuncio – Sou o idioma que falo – Sou os raciocínios que construo em meu cérebro – Sou os prazeres que sinto – Sou a dor que me alerta, quando alguma coisa não vai bem em meu corpo ou em minha alma.

Finalmente, sou o nome que recebi em meu registro de nascimento – Sou o apelido que me deram, a nacionalidade que consta em meus documentos, a cor de minha pele, o lugar em que nasci ou resido, o curso que faço ou fiz, a profissão que exerço, o número registrado em minha carteira de identidade, o time que escolhi como de minha preferência e com o qual me identifico.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Ânimo

Energia, coragem, entusiasmo para fazer as coisas e para viver. Desânimo é o contrário de ânimo: é a falta de energia, de coragem e de entusiasmo para tudo. Ânimo, animação vem de ânima (do latim), que é o mesmo que alma, vida, existência ativa. O existir humano é mantido através de sua interação com o meio em que se encontra. Ninguém vive sem respirar, sem comer ou beber, sem se relacionar com as coisas e com as pessoas à sua volta.

Pequenos e grandes acontecimentos podem provocar ânimo ou desânimo. Pessoas muito exigentes podem pagar caro o fato de se constituírem com essa característica. Esperam demais e se decepcionam facilmente. As trocas entre as pessoas fazem com que estas se sintam ou para cima ou para baixo. Elogios animam. Ofensas e injustiças desanimam. Há aqueles também que são movidos a maus tratos. Não se consideram merecedores de serem gratificados pelos outros. Possuem uma imagem negativa de si mesmos. Com isso, acabam alimentando mais ódio do que amor para consigo e para com os outros. Fazem destilar de seus olhares e atitudes mais fel do que mel.    

Pessoas são também sequiosas de ânimo. Desejam ardentemente se verem bonitas, valorizadas ou aprovadas pelos outros. Alimentam-se de suas próprias imagens, refletidas nos espelhos que são os olhares, as palavras, os sorrisos e os bons tratos recebidos de seus semelhantes.

Compensações. Quando não se pode ter um bem desejado, compensá-lo com algum outro bem é uma forma de não se sentir decepcionado consigo mesmo e com a vida. Diz-se que o dinheiro não é tudo, mas ajuda muito. Com ele, se pode comprar muitas coisas. O ego se infla projetando-se nas vantagens que o dinheiro pode proporcionar, mesmo sabendo que ele não é capaz de comprar o mais importante. 

No domingo passado, tivemos o dia principal da Festa do Rosário deste ano, no bairro da Penha em São Paulo. O Largo se enfeitou para receber as irmandades, as pastorais-afro, os grupos de congadas, moçambiques, marujada, maracatu, samba lenço e outros que vieram participar das programações do dia. A apresentação de tantas manifestações culturais, com seus coloridos e musicalidade, encheram os olhos e os corações dos que ali estiveram. Um evento preparado para atender aos anseios de uma coletividade especial, que construiu sua história desde os primórdios da Penha.

A animação dos grupos musicais contagiou a todos que ali estavam transmitindo-lhes ânimo e coragem para continuarem a viver. Uma festa de cultura brasileira a partir de suas raízes europeia, indígena e africana. O viés religioso dos diversos grupos participantes conduziu-os à igreja para ali fazerem suas orações, através do canto e da dança no ritmo dos tambores.

A missa celebrada pelo bispo Dom Eduardo, da Regional Sé da arquidiocese de São Paulo, revestiu-se com elementos da cultura afro brasileira, expressa nos trajes e nas melodias cantadas no ritmo vibrante dos atabaques. Ao final da mesma, os reis de 2019, André e Renata, passaram suas coroas aos reis escolhidos de 2020, Teófilo e Rosângela, cerimônia coordenada pelo capitão da congada vinda da famosa cidade mineira de Congonhas do Campo.

Postado por José Morelli

terça-feira, 18 de junho de 2019

Feminino e Masculino se entrelaçam

Ao entrelaçamento externo dos corpos se associa o entrelaçamento interno, apenas acessível à percepção visual se o ato estiver sendo monitorado por alguma tecnologia especial que vise a esse fim. O entrelaçamento externo pode ou não representar cumplicidades ou compromissos mútuos entre as partes envolvidas. Tais compromissos oscilam entre a simples realização material da ação física e a transcendência dessa materialidade, mediante envolvimento mais amplo e pleno da vida de ambos.
Feminino e masculino se entrelaçam no fluir do tempo. Por mais durador que seja o ato sexual, ainda assim não consegue ser permanente em sua continuidade física.   O reverberar da matéria deixa rastros nas sensações e emoções. O alívio provocado pela descarga orgástica induz ao relaxamento e ao sono mais tranquilo e reconfortante.

Em sua dimensão interior, o entrelaçamento do feminino com o masculino também se concretiza a partir das diferenças morfológicas e fisiológicas do espermatozoide e do óvulo. Mais do que se entrelaçarem, no sentido próprio dessa palavra, essas duas partes se fundem em uma só. O espermatozoide penetra e se aconchega no interior do óvulo, passando a se confundir com ele, misturando-se numa unidade indissociável. Os cromossomos passam a se complementar repassando suas características à nova vida que passa a existir.

O prazer é uma das sensações que acompanha o momento em que se dá a união material dos corpos. Os pássaros que, hoje antes mesmo de o dia clarear já se encontravam despertos no quintal de casa, também costumam realizar seus acasalamentos precedendo-os de algazarras e alaridos entre os galhos e as folhas das árvores.

Por mais pontual que seja uma relação sexual, ela é sempre acompanhada de incontáveis outras realidades de natureza material e afetivo/racional, que fazem parte do desenvolvimento das personalidades quer do feminino quer do masculino. Uma vida inteira serve ao propósito da elaboração de todos os aspectos que enriquecem as vidas humanas em suas plenitudes. Os desdobramentos da vida conduzem-na pelos caminhos únicos e originais, impossíveis de serem imaginados em suas possibilidades e peculiaridades.

Postado por José Morelli

sábado, 8 de junho de 2019

Rosto

O meu, o seu e o de toda e qualquer pessoa, na respectiva fase de vida em que se encontra. Nosso rosto se constitui como parte nobilíssima de nosso corpo. A posição estratégica que ocupa, coloca-o em evidência, permitindo-lhe que expresse suas formas da maneira como cada um de nós o desejarmos. Andar para frente é dirigir-se no sentido para onde nosso rosto está voltado. É ele que recepciona a quem chega. É ele que dá demonstração do sentimento de satisfação ou de desagrado que ocultamos em nosso íntimo. Nosso rosto é o nosso cartão de visitas.

Nossos principais órgãos dos sentidos compõem com nosso rosto. O posicionamento dos olhos, do nariz, da boca e dos ouvidos atendem à necessidade de cada um deles, de acordo com a função específica a que se destinam. A musculatura que serve aos movimentos desses órgãos também possibilita que, com sutileza, manifestem emoções e sentimentos. A sensibilidade da pele de nosso rosto faz com que este capte as estimulações que recebe de maneira única. Não sem razão, a sabedoria popular considera o rosto como sendo o espelho da alma.

Do lado oposto de nosso rosto se encontra nosso cérebro, massa cinzenta responsável pelo processamento das informações que até ela chegam, através dos cinco sentidos e da intuição. Essa proximidade, existente entre nosso rosto e nosso cérebro, faz com que o simbolismo de nossa parte superior seja com a águia. Possuindo excelente acuidade visual, das alturas em que vive, essa ave de rapina vislumbra as áreas sobre as quais voa soberanamente. 

Nosso rosto revela nossa personalidade, construída a partir das histórias que vivenciamos desde o nascimento. Dependendo das lutas empreendidas, as expressões faciais podem se transformar em armaduras de defesas, uma espécie de couraça de proteção. Marcas de cicatrizes (físicas ou morais) fazem com que os músculos se comprimam e passem a limitar suas manifestações mais leves, cordiais ou de felicidade. A vida, pelo que é percebida em seu entorno, faz embrutecer o rosto, tornando-o assustado e medroso em suas expansões. 

Postado por José Morelli

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Catalizar afeto

O ímã, por sua virtude de atrair metais, pode bem servir à ilustração do que vem a ser, nas pessoas, essa capacidade de catalisar (atrair) afeto de outras. Afeição, simpatia, atenção, amizade, paixão, carinho, amor são palavras cujo sentido se aproxima do que vem a ser o afeto. Recebê-lo pode ser muito gratificante. O desafeto, por sua vez, tem a capacidade de machucar e afastar.

Antes mesmo de nascer, nos nove meses em que o bebê se desenvolve no útero de sua mãe, ele já sofre influências, que o marcarão em sua constituição física e funcional. O afeto dos pais para com a criança se manifesta em suas atitudes de aceitação, de segurança, através de pequenos e grandes gestos. Abster-se, nessa fase, do cigarro e da bebida, sem falar das drogas, comprovadamente prejudiciais ao desenvolvimento do feto, é uma forma de acolhimento afetuoso ao novo ser ainda em formação.

As experiências afetivas, vivenciadas nos cinco primeiros anos de vida da criança, marcam-na profundamente, condicionando-a em seu modo de ser e em seus procedimentos presentes e futuros. A carência de afeto, representada na falta de atenção, no não atendimento às necessidades indispensáveis como de alimento, sono, higiene (sem exageros), ambiente tranquilo e organizado, não deixam de marcar negativamente a personalidade, dificultando-lhe nas horas de dar o próprio afeto ou de recebê-lo de outros.

A passagem do mundo doméstico para o da sociedade se impõe ao jovem. A base de confiança em si mesmo que tiver adquirido em suas primeiras vivências, lhe servirão como referências quando tiver que se relacionar na amizade, no namoro, na escola, no trabalho, como cidadão ou cidadã com direitos e obrigações a cumprir. Se, no grupo familiar, a educação transmitida tiver sido excessivamente exigente, não admitindo erro, essa distância entre atitudes acertadas e erradas, dificultarão o aprendizado, que é conseguido não só através dos acertos, mas dos erros também.

As diferenças são a razão de ser da união no casamento. No entanto, quando o sentido de competição passa a dominar no relacionamento conjugal, a percepção do afeto fica comprometida. Insegurança, complexo de inferioridade passam a alimentar essa competição. Os filhos captam-na, de forma intuitiva e podem até fazer uso dela em proveito pessoal, mediante utilização de chantagens com os próprios pais.

Pessoas sadias e bem equilibradas conseguem catalisar afeto. Curtem recebê-lo e dá-lo também. Retribuem de forma adequada e agradável, permitindo que uma energia positiva flua em seus relacionamentos, independentemente da idade que tenham ou da condição de vida em que se encontrem.


Postado por José Morelli

terça-feira, 21 de maio de 2019

Roer unhas

Existe um número considerável de pessoas que possuem o hábito ou mania de roer unhas. Para consolo destas pessoas, ainda bem que as unhas são capazes de crescerem constantemente. Roer unhas pode ser entendido como atitude compulsiva. Mesmo compreendendo todos os inconvenientes de tal comportamento, essas pessoas não conseguem se conter, principalmente naqueles momentos em que estão tensas e/ou apreensivas.

É correto associar o roer unhas às tensões e apreensões. Criar alguma estratégia que iniba esse impulso, tais como colocar pimenta nos dedos ou fazer uso de luvas nas mãos, não será suficiente se não for acompanhado de um dedicado investimento pessoal que as façam entender-se melhor quanto aos próprios juízos e sentimentos.

Uma pista para descobrirem os fundamentos das tensões pode ser descoberta a partir dos sintomas que as provocam que, nestes casos, é a própria impulsividade de roer-se. Uma das características desse fenômeno comportamental é o quanto ele se constitui como destrutivo. É comum tais pessoas deixarem as unhas tão curtas, até chegarem à carne fazendo-a sangrar. Raiva, agressividade, autodestruição, vergonha, timidez, insegurança são alguns indícios do que está subjacente ao sintoma.

Uma mistura de pensamentos negativos e de sensações corporais incômodas e desconfortáveis. Para poderem lidar melhor com esse constrangimento é importante que se conscientizem e se assumam quanto ao que pensam e como pensam, no alcance dos significados que atribuem a si mesmos e aos acontecimentos que precisam enfrentar. Só aprofundando-se no sentido da própria realidade é que poderão superar seus conflitos.

Não é difícil perceber que o hábito de roer unhas se contrapõe ao sentimento positivo da pessoa por si mesma. A chave desta questão é, portanto, além do trabalho de superação dos conflitos, um esforço sincero de cultivar a própria autoestima, de querer-se bem, de saber valorizar-se, de saber reconhecer os pontos positivos da própria vida, de enxergar-se como vencedor, a partir de seus valores, não exigindo acima do que é capaz, acima do que lhe permite os dotes que possui.


Postado por José Morelli

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Matriz de identidade

A família ou o meio onde a criança nasce e cresce pode ser chamado de “matriz de identidade”. Na indústria, matrizes são os moldes onde são fundidas as peças de vários tipos de metais. Os bebês são gerados com características próprias de suas cargas genéticas, de acordo com as combinações cromossômicas, resultantes da fusão entre células provindas do pai e da mãe. 

Durante o período em que se encontram em gestação, os fetos podem adquirir novas influências, que passam a ser incorporadas em suas constituições física e psíquica. A expressão “matriz de identidade” se aplica à fase posterior do nascimento, na qual a criança vai formando sua personalidade básica, em seus primeiros cinco anos de vida.

A criança, em sua primeira infância, é moldada a partir do ambiente que a cerca. As maneiras de ser de cada uma das pessoas, que fazem parte desse meio, contribuem para a conformação do molde, que condiciona o desenvolvimento da personalidade dos recém-chegados à família e ao meio social. Tudo o que há, de bom e de menos bom, se soma; constituindo-se em saliências e reentrâncias, que tanto transparecem no molde, como na peça, em seu processo de solidificação. As crianças captam e assimilam o todo e partes do meio em que vivem. Parece até que são munidas de eficientes radares que captam e respondem ao que se encontra à sua volta.

O consciente e o subconsciente delas trabalham dia e noite armazenando dados em seus cérebros. Pelo sim ou pelo não, tornam-se mais parecidas do que poderiam desejar, no futuro, com o ambiente de onde provieram e se desenvolveram.

Todos nós, adultos, fomos crianças um dia. Também somos produtos do meio em que fomos criados. Trazemos em nós características de nossos antepassados e dos ambientes de onde proviemos. Transmitimos às novas gerações parte do que herdamos. Não temos plena consciência de tudo o que representamos e não conseguimos ter controle sobre as influências que exercemos, entendidas como positivas ou negativas.

O fato de podermos ter, hoje, consciência de como se dá todo esse processo, serve-nos de alerta. Sabemos que somos co-responsáveis, em alguma dose, pelos resultados finais do que as crianças apresentam em seus procedimentos. Ao julgá-las, julgamo-nos a nós mesmos e àqueles que nos antecederam e que se constituíram como matrizes de nossas identidades pessoais.
 
Postado por José Morelli

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Subjetividade

Chamamos de Subjetividade aquilo que é próprio de cada pessoa e que a faz ser ela mesma, distinguindo-a das outras. Aceitar uma pessoa como ela é, é aceitá-la em sua subjetividade, reconhecendo-a e tratando-a de acordo com sua maneira peculiar de ser, de responder, de pensar e de sentir.

As pessoas podem, também, ser vistas e reconhecidas pelo que são objetivamente: seres humanos, potencialmente dotados daquelas qualidades fundamentais, que os distinguem dos outros seres não humanos. A sociedade costuma organizar-se a partir das considerações objetivas.  As diferenças das pessoas, principalmente daquelas que mais se afastam dos padrões considerados de “normalidade”, incomodam a sociedade, supostamente, representando desafios à sua organização e desenvolvimento.

A subjetividade de cada pessoa  é determinada  desde a combinação dos cromossomos (DNA), herdados do pai e da mãe, das influências recebidas durante a concepção e no parto, da história vivida desde os primeiros tempos, no seio de uma família ou não, das condições econômicas e culturais do meio em que vive e se desenvolve.

No passado, a dificuldade de aceitação da diferença de cor, levou algumas sociedades brancas a negarem aos escravos negros a condição de seres humanos. Hoje ainda, pessoas portadoras de deficiências físicas, reclamam dos administradores públicos que não se esqueçam delas, deixando de rebaixar calçadas, construir rampas em prédios e outras providências, que as permitam gozar dos mesmos direitos dos outros cidadãos não deficientes.

O direito daquelas pessoas portadoras de sofrimento mental, também não tem sido devidamente respeitado, nesta nossa sociedade tida como evoluída.  Se, por um lado, os meios de tratamento têm se desenvolvido muito, possibilitando que tais pessoas possam se manter junto de seus familiares, desde que sejam  medicadas e acompanhadas, a estrutura de confinamento em manicômios ainda se mantém, encontrando apoio de alguns setores, que a  têm  explorado de maneira  indiscriminada.

Respeitar e aceitar cada pessoa em sua subjetividade, em sua forma particularizada de ser, é saber conviver com as diferenças existentes entre os seres humanos. É superar a tendência imatura e comodista de igualar e nivelar a todos, na ilusão de que isso tornaria a vida mais fácil e/ou produtiva.

Postado por José Morelli

terça-feira, 30 de abril de 2019

Valores

São chamados de valores, aquelas coisas ou qualidades que, no pensamento das pessoas, são consideradas como gradualmente importantes. A força física ou moral, a beleza, o sorriso podem ser considerados valores. A família, a amizade, a religião, a liberdade, a honestidade, a saúde, a diversão, a comunicação, o silêncio, a coragem, a humildade, o esporte, o amor podem também ser considerados valores, na medida em que gozam de importância na mente de um indivíduo, de um grupo familiar, de uma comunidade ou coletividade mais abrangente. A educação é um valor, que tem como objetivo transmitir o conhecimento, bem como os valores de cada tema ou matéria que é ensinada na escola.

Os bens materiais podem ser avaliados de forma quantitativa e/ou qualitativa. Se um bem material for de estimação, o seu valor merecerá, da parte de quem o possui, uma valoração maior, podendo chegar ao ponto de não ter preço que o pague, como se costuma dizer. Já os bens imateriais não podem ser avaliados de forma tão precisa. Atribuir valor é algo muito pessoal. Cada indivíduo vê a si mesmo, as outras pessoas e o mundo que o cerca, à sua maneira. A partir dessa visão, constrói uma hierarquia de valores. É a própria consciência de cada um, que estabelece a posição de cada valor, hierarquizando-os em forma de pirâmide.

Mesmo sendo mais precisos, os bens materiais oscilam em seus valores. As bolsas de valores mostram muito bem isso. A cada instante, os valores das ações das empresas sofrem alta ou baixa, dependendo de mil circunstâncias, que influem no desempenho das empresas. Se assim acontece com os bens materiais, o mesmo pode também acontecer com os bens imateriais. Algumas circunstâncias podem relativizar a importância dos valores, comparados uns com os outros. Diante de determinadas situações, a necessidade de falar pode perder sua posição para o silêncio, a coragem, para a necessidade de um recuo estratégico.

Os indivíduos se identificam e são identificados, pelos outros, pelo que valorizam. Valores positivos, construtivos, ajudam as pessoas a se auto-estimarem e influenciam no tratamento que se reservam a si mesmas. Os progressos, que o mundo moderno oferece, podem se constituir, mais ainda, como valores, na medida em que estiverem voltados para o bem de mais cidadãos. Democracia é um valor. Uma palavra fácil de ser pronunciada, mas muito difícil de ser colocada em prática. Muitos são os indicadores de que a violência urbana é consequência de um sistema democrático falho, incapaz de dar, a um maior número de pessoas, acesso aos bens, fruto do progresso humano.

Postado por José Morelli

Sabotador

A figura do sabotador se faz presente em muitas estórias. Em alguns filmes ele surge, sempre sorrateiro, colocando dinamites nos trilhos por onde vai passar o trem carregado de dinheiro ou de reluzentes barras de ouro. O sabotador é aquele que impõe barreiras ao desenrolar dos acontecimentos. Pode parecer estranho, mas não é fora de propósito dizer que é comum a existência de um sabotador, que atua a partir de dentro de cada pessoa. É como um inimigo interno, que aparece toda vez que o indivíduo teria a oportunidade de conseguir algum sucesso na vida. Há casos em que bem se aplicaria a frase: “dessa forma, a pessoa se basta nem precisando de inimigo!”.

Um exemplo típico desse fenômeno psicológico é o caso daquele estudante que, tendo feito cursinho e se preparado para o vestibular o ano inteiro, no dia do exame esquece-se de acionar o alarme do despertador, perdendo a hora ou, ao tomar o ônibus, engana-se e vai para o lado oposto, distanciando-se ainda mais do lugar onde deveria realizar as provas.

O sabotador age em função do medo ou de algum outro sentimento aversivo (na maior parte das vezes, de maneira inconsciente). O medo divide a pessoa. Se, por um lado, ela deseja seu progresso, seu autodesenvolvimento, sua libertação e autonomia; por outro, esse seu crescimento inspira-lhe medo: um é o seu discurso, acompanhado de lamentações, outra é sua disposição interna e emocional para crescer e se tornar mais adulta e responsável por sua própria felicidade.

Reconhecer a existência de um sabotador, dentro de si, já é um passo para desmascará-lo e descobrir as maneiras como costuma detonar com todas as chances que a vida oferece. É mais fácil combater um inimigo, sabendo quem ele é e onde se encontra, do que combater um inimigo oculto, não sabendo como e onde encontrá-lo. Boa saúde, êxito profissional, prestígio e valorização social, realização afetiva, postura adulta e amadurecida são alguns dos objetivos, que podem inspirar medo e, consequentemente, levar o sabotador a agir, conspirando contra essas ou outras possíveis razões de ser e de sentir-se feliz na vida.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Potência sexual

A potência sexual pode ser considerada em 3 momentos: do desejo; da excitação (ereção ou lubrificação); e, por último, do orgasmo (satisfação ou gozo). Esses 3 momentos se complementam, dando à sexualidade sua condição de normalidade e de completude.

Existem casos em que a pessoa não consegue nem mesmo sentir desejo sexual, pelo fato de, inconscientemente, não se permitir ter esse desejo.  Este tipo de impotência pode se originar de uma consciência muito rígida, presa a preceitos religiosos e morais. Pode, também, ter se originado de alguma violência sexual, sofrida na infância e que provocou um trauma, um bloqueio intransponível. 

Situações que possam despertar desejo, são sentidas como ameaçadoras. Fantasias e sensações fazem com que o ego perca o controle da situação, causando-lhe uma espécie de pânico. O medo leva-a a fugir, como o diabo da cruz, de tudo o que possa causar-lhe esses sofrimentos.

Ereção ou lubrificação, no homem e na mulher, respectivamente. Ambas são necessárias à realização de um ato sexual completo e satisfatório. A impotência pode se dar nessa fase, desde que o homem não se predisponha através da ereção de seu membro e a mulher através da lubrificação e maior elasticidade da vagina. Essas predisposições podem, também, sofrer bloqueios físicos ou psicológicos. Exames clínicos permitem a detecção de possíveis problemas orgânicos ou funcionais, que estejam impedindo o bom desempenho, nessa fase.

Satisfação ou gozo. Chegar ao orgasmo é o terceiro e último movimento, que completa o ato sexual. Para algumas pessoas pode não ocorrer bloqueio nas fases anteriores (do desejo e da excitação), mas apenas nesta última, do orgasmo. Nestes casos, também, dificuldades orgânicas e funcionais ou de ordem emocional podem ser causas do impedimento da capacidade de satisfação sexual. A rigidez moral ou o sentimento de culpa são exemplos de possíveis condicionamentos emocionais, capazes de inibir essa capacidade, roubando do ato sexual, seu momento de prazer mais intenso e de gratificação mútua, entre pessoas que se desejam e que se amam. 

Postado por José Morelli  
   

Policiar-se

O que é policiar-se?... É fazer o papel de polícia consigo mesmo, é ficar no próprio pé, cuidando para não prejudicar-se. Alguns exemplos: policiar-se para não responder a provocações, desnecessariamente; policiar-se para não se exceder na bebida; policiar-se para não se deixar levar por pensamentos e idéias negativas; policiar-se para não dizer palavrões; policiar-se para não tratar mal a quem mais ama; policiar-se para controlar a própria ansiedade; policiar-se para que o sentimento de culpa não domine os pensamentos e sentimentos, detonando o próprio bem estar e felicidade.

Precisamos das duas coisas: da contenção e da expansão. Conhecendo-nos bem, saberemos reconhecer o que, em nós, precisa ser contido e o que precisa ser expandido. De acordo com os objetivos a que nos propomos, precisamos adequar nossas maneiras de ser e de agir. Cada nova experiência de vida possibilita-nos descobertas a respeito de nós mesmos. Somamos informações. 

Construímos nossa própria imagem, com a qual vamos nos identificando. Este é um processo de crescimento pessoal. Da interação que temos com os outros e com o meio em que nos encontramos, vivenciamos experiências que nos ajudam a crescer socialmente. Trazemos forças dentro de nós. 

Precisamos orientar essas forças na direção que desejamos. Quando nos policiamos estamos nos contendo. Esta contenção, no entanto, entendida no conjunto de nossas aspirações, não é negativa, mas positiva. Visa adequar-nos para que estejamos aptos a atingir nossos principais objetivos na vida. Não nos mutilamos com ela. Contabilizamo-la como ganho e não como perda.

Em nossos relacionamentos familiares, mantemos vínculo com as pessoas que nos são mais próximas. Toda família também tem seus objetivos. Desses objetivos cada um participa à sua maneira. Desde crianças até adultos mais velhos, todos precisam aprender a se policiar, para que possam colaborar na consecução dos objetivos do grupo. Valorizando o grupo e seus objetivos, as restrições individuais não serão vistas nem sentidas como perdas. Representarão a parcela de contribuição de cada um para o bem da família e do grupo social a que pertencem, em suas necessidades mais abrangentes.

Nas relações que mantemos com nosso meio social, percebemos também a necessidade de nos desenvolvermos, expandindo-nos e contendo-nos - policiando-nos - de acordo as exigências do momento e das circunstâncias, em que nos encontramos.

Postado por José Morelli


domingo, 14 de abril de 2019

O simbólico

Desde o momento em que nossa mente passou a manter os primeiros contatos com a vida ao nosso redor, fomos aprendendo a identificar símbolos. A criança já deixa de chorar, só de ver a mãe preparando-lhe o seio. Neste caso, a presença do seio materno diante dos olhos da criança, pode ganhar alguns sentidos, tais como: de que sua reivindicação, através do choro, será em breve atendida; de que sua fome, que tanto a incomodava, será saciada; de que poderá, ainda, ganhar de lambuja, o prazer oral da sucção e o aconchego caloroso e seguro dos braços e do colo da mãe.

De acordo com o dicionário do Silveira Bueno, símbolo é, em sentido psicológico, “uma idéia consciente que representa e encerra a significação de outra inconsciente”. Na medida em que fomos crescendo e nos desenvolvendo, nossa mente foi aprendendo a criar e identificar símbolos, uns que acrescentam valor às coisas, dando-lhes mais importância, outros que as desvalorizam, diminuindo-lhes a importância.

Em todos os tempos, a humanidade fez uso de símbolos em suas comunicações. A relação simbólica está presente na imaginação das pessoas e da sociedade. Convivemos com uma infinidade de símbolos, que nos ajudam a pensar, a sentir e a entender-nos em nossos relacionamentos. Hoje, com a intensificação do consumo e o desenvolvimento dos meios de comunicação e das técnicas de propaganda, os produtos, que são lançados no mercado, ganham significados através de mil estratégias, que os fazem mais sedutores diante dos olhos dos potenciais consumidores. Dizem alguns estudiosos destes assuntos, que hoje mais do que em outros tempos, as pessoas consomem as coisas, mais pelo que elas simbolizam, do que por aquilo que elas são na realidade.  

Os símbolos permeiam a vida de todos nós. Deixamo-nos influenciar por eles. A eles devemos muito do que fazemos ou deixamos de fazer. O diploma é um símbolo. Quantos esforços somos capazes de despender para conseguirmos um título qualquer, na expectativa de ampliarmos nossas capacidades de conseguir um melhor emprego e rendimento?!... As moedas e notas são outros símbolos, cada uma representando valores que, em nossa imaginação, dependendo do momento em que nos encontramos e da necessidade que temos, poderá significar uma infinidade de outros bens, que seja uma casa, uma viagem, um eletrodoméstico ou qualquer outro bem que atenda ao nosso desejo.

Postado por José Morelli