segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Os ipês amarelo estão florindo

Apesar do tempo se apresentar assim, tão tumultuado. Com as estações do ano pouco definidas, mais uma vez, antes ainda da chegada oficial da primavera, os ipês, com suas flores de cor amarelo, já podem ser encontradas aqui e ali, embelezando ruas, jardins e quintais. O tom suave que tinge a delicada película dessas flores se destaca em meio ao verde das outras plantas ou aos variados coloridos de muros, paredes e telhados. A floração ainda vai se manter mais algumas semanas. Aqueles que forem atentos e se derem o direito de apreciá-la, deixando-se sensibilizar em suas retinas, suscitar ideias em suas mentes e despertar sensações de prazer ao vê-la, poderão experimentar em si mesmos a natureza em seu processo de contínua transformação.

É sabido que toda cidade grande convive com muita poluição. Com algumas exceções, na maior parte dos bairros de São Paulo, a quantidade de verde está aquém do que é recomendável, para que o ar possa ser melhor purificado, antes de ser inspirado pelos pulmões de humanos e de irracionais. Ainda assim, muitas espécies de pássaros passam pela cidade, nesta fase do ano. Tem havido mesmo um crescimento do número dessas espécies que permanece aqui, acostumando-se com o que a cidade lhes oferece como possibilidade de sobrevivência. Nem tudo está perdido, portanto! A vida é mais forte do que a ante vida!

A respeito dos ipês, diz-se que, quanto mais frio e seco o inverno, maior a intensidade de sua florada. A presença dos ipês floridos e dos pássaros são um sinal de esperança. A natureza é sensível e forte ao mesmo tempo. Os seres humanos também fazem parte dessa mesma natureza. Estes têm se destacado, principalmente nos últimos anos, no sentido de penetrar nos segredos da matéria, descobrindo lhe todo potencial nela oculto. Da exploração de suas descobertas, passaram a ganhar muito dinheiro e a se distanciarem entre si. Perceberam ainda que a concorrência os estimula para mais inventos e novas fontes de renda e de riqueza. Hoje, uns mais outros menos, se encontram como que embriagados com todo esse fascínio. Construíram-se uma roda-viva que, além de fomentar lhes vida, acaba também por triturá-la.

Publicado por José Morelli

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

 

                                                                                           A sabedoria popular consagrou esse ditado e, embora sejam identificadas honrosas exceções, ele tem como ser comprovado inúmeras vezes. Dentre todos e todas as pessoas a quem essa afirmação se aplica e no sentido positivo é a São José, esposo de Maria e pai adotivo do Menino Jesus.

Os evangelhos falam relativamente pouco a respeito desse personagem, que recebeu de Deus a missão de estar à frente e de responsabilizar-se pela manutenção e segurança de sua pequena-grande família, acompanhando-a em momentos fundamentais de sua trajetória terrena. O adjetivo com o qual o escritor bíblico o qualifica é o de que se tratava de “um homem justo”.

No capítulo primeiro de seu evangelho, Mateus insere a genealogia de José, uma forma de liga-lo à história do povo judeu a começar de Abraão, Isaac e Jacó, passando por Davi e Salomão e chegando ao seu bisavô Eleazar, ao seu avô Matan e a seu pai Jacó, através do qual José veio ao mundo. O evangelista conclui dizendo que, de José, esposo de Maria, nasceu Jesus, chamado o Cristo. Mateus não omitiu que foi da mulher de Urias, Betsabé, que nasceu seu filho Salomão. A apresentação da genealogia de José por Mateus mostra a descendência de José da casa de Davi e, ao mesmo tempo, mostra a inserção de Jesus no povo judeu que, embora predileto no chamado à salvação, não deixava de ser um povo pecador e carente da misericórdia divina.

Na sequência dos fatos, o evangelista Lucas, em seu capítulo primeiro, versículos 26 e 27, narra a passagem em que “o anjo Gabriel foi mandado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi. A Virgem se chamava Maria”.

Voltando a Mateus, capítulo primeiro, versículos 19 e 20, o evangelista diz que o esposo de Maria, “sendo um homem justo e não querendo acusa-la, resolveu separar-se ocultamente dela. Ele já havia tomado essa resolução, quando um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de tomar contigo Maria, tua esposa, porque o que foi gerado nela vem do Espírito Santo”.

É interessante notar que, para Maria, o anjo não aparece como em sonho e, no entanto, nas diversas vezes em que ele aparece a José é sempre na forma de sonho.    Talvez, com isso, os escritores bíblicos quisessem assinalar a proximidade de José a todos nós, seres humanos e comuns mortais. José sabia interpretar as vontades de Deus nos acontecimentos corriqueiros de sua vida.

Ainda no capítulo primeiro, versículos 24 e 25, Mateus relata que “José fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor: tomou consigo sua esposa. Mas ele não teve relações com ela até quando deu à luz um filho a quem deu o nome de Jesus”.

No capítulo segundo, do versículo 4º. ao 7º., falando do recenseamento ordenado pelo imperador Cesar Augusto, o evangelista Mateus diz que: ”Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a cidade de Davi, que é chamada Belém, na Judeia – porque era da linhagem de Davi – para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, quando estavam lá, chegou o tempo em que ela devia dar à luz. Ela teve seu filho primogênito, enrolou-o em faixas, e o colocou numa manjedoura, porque não tinham lugar na estalagem”.

No versículo 13 do mesmo capítulo, Mateus explica que “Depois que os magos partiram um anjo apareceu em sonho a José dizendo: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e foge para o Egito. Permanece lá até eu te avisar, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, de noite, e retirou-se em direção ao Egito”. Nos versículos 19 a 22, Mateus continua a contar que “Depois da morte de Herodes, eis que um anjo aparece em sonho a José, no Egito. E lhe diz: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque morreram os que haviam tramado contra a vida do menino. Ele se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, e reentrou na terra de Israel. Mas ouviu falar que Arquelau reinava na Judeia, tendo sucedido a seu pai Herodes, e ficou com medo de ir para lá. Avisado por Deus em sonho, retirou-se para a região da Galileia”.

No relato em que Lucas descreve, no versículo 21 do capítulo segundo, a ida de Jesus ao templo para ser circuncidado, os nomes nem de José nem de Maria são mencionados.

A última menção a José, sem citar o seu nome, é feita por Lucas no capítulo segundo, versículo 41 e seguintes: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram, como de costume, para a festa. Depois que passaram os dias da festa, ao voltarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem... Depois de três dias eles o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam estavam assombrados com sua sabedoria e suas respostas. Quando o viram, ficaram comovidos e sua mãe lhe disse: “Meu filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura!”

Marcos e João nada falam a respeito de José. A narrativa desses dois evangelistas partem do momento em que Jesus, já adulto, inicia sua vida pública levando aos seus conterrâneos e contemporâneos sua mensagem por palavras e ações.

Transparece nos textos de Mateus e de Lucas, acima citados, a personalidade inspiradora de José. Neles não consta frase alguma que tenha saído de sua boca. No entanto, pelas atitudes descritas, ressalta a figura cativante de um homem justo em suas intenções e posicionamentos, seja como esposo ou pai dedicado, seja como cidadão, sintonizado nos acontecimentos que exigiam prontidão nas decisões frente a inúmeros desafios que teve de enfrentar.

Na Carta Apostólica “Patris corde (Com coração de Pai)” - escrita pelo Papa Francisco, já dentro deste período de pandemia em que vive a humanidade, e a partir do entendimento que a comunidade cristã formatou em seu imaginário a respeito deste santo, nos mais de dois mil anos de história da Igreja, o período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021 foi instituído como ano dedicado a São José. Por meio desta carta, o Papa nos convida a voltarmos nossos pensamentos para este santo, invocado como pai e intercessor dos necessitados, dos exilados e dos moribundos que, em vida, e na convivência diária com sua esposa Maria e seu filho Jesus, soube responder com fidelidade a todos os chamados que Deus lhe fez em vida.

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

Postado por José Morelli

 

Construídos pela Fé

Mais um oito de setembro, mais uma festa de Nossa Senhora da Penha de França e comemoração dos 347 anos de existência do bairro Penhense, excelente oportunidade para relembrarmos antigas histórias, cujos desdobramentos resultaram no que estamos vivendo hoje, na condição de moradores deste lugar, outrora conhecido e reconhecido como aprazível recanto paulistano.

Inspirando-se na iconografia de uma imagem de Nossa Senhora, encontrada no alto de um monte chamado de Penha de França, na região dos Pirineus, província de Salamanca - Espanha, a fé de um desconhecido artesão talhou, na madeira, a imagem de Nossa Senhora que presentemente se encontra no altar principal da Basílica da Penha. A história oral, transmitida de geração para geração, construiu uma espécie de lenda que conta a respeito de um viajante francês. Este trazia em sua bagagem essa imagem, acima referida. Depois de ter subido a encosta da elevação que levava aos Campos de Ururaí (nome antigo do planalto que vai da Penha até São Miguel Paulista), o tal francês resolveu descansar um pouco.  Ali havia água boa para beber e abundante. Restabelecido em suas forças, retomou a viagem. Horas depois, voltou a apear de seu cavalo para tomar um novo fôlego.  Reparou, então, que a imagem não se encontrava junto a seus pertences. Retornando ao lugar de seu último descanso, encontrou-a ali. Mais duas vezes continuou viagem levando a imagem consigo e, mais duas vezes teve que retornar para busca-la no mesmo lugar de antes. Entendeu que uma mensagem Nossa Senhora estava querendo lhe transmitir. Seu desejo era permanecer naquele lugar. Construiu ali uma pequena capela e, só depois de ter satisfeito o desejo manifestado por Nossa Senhora, é que se permitiu continuar viagem.  O documento mais antigo em que consta a existência da capela da Penha, de acordo com o pesquisador e historiador, Dr. Sylvio Bomtempi, é datada de 10 de fevereiro de 1667.

Essa primeira capela ou ermida, passados alguns anos, foi transformada em uma igreja maior. O tempo exigiu que reformas a ampliassem até o ponto em que ela se encontra nos dias de hoje. Localizada no topo da ladeira Coronel Rodovalho, o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha brilha aos olhos de todos os que chegam ao bairro, vindos pela Celso Garcia, principalmente à noite, quando sua bela fachada se encontra especialmente iluminada. A presença desse santuário na Colina da Penha, desde os seus primórdios, atraiu gerações de paulistanos, cuja fé elegeu a Mãe de Jesus, sob o título de Penha de França, como Padroeira da Cidade e de seus habitantes, principalmente em momentos em que sofriam pela ocorrência de graves epidemias ou secas prolongadas.  

A fé de um grupo de escravizados negros, que trabalhavam em propriedades próximas da capela da Penha, fez com que eles instituíssem uma Irmandade: a dos Homens Pretos da Penha de França. Já em 1755 consta a existência desse grupo. Por ele foi projetada e construída a Capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário a poucos passos do Santuário.  No ano de 2002, com a comemoração dos 200 anos de sua aprovação oficial como templo católico, pelo bispo de São Paulo, festas anuais vêm sendo promovidas no mês de junho.

A terceira construção edificada pela força da fé popular, como as duas anteriores, também está localizada no núcleo central e histórico do bairro. Trata-se da Basílica de Nossa Senhora da Penha de França. De vários pontos, o visual desta Basílica chama a atenção daqueles que chegam ou passam por aqui. Como foi dito acima, é nesta igreja que se encontra a imagem, cuja chegada deu origem e nome à Penha.

Antes de se materializarem em construções, esses ícones do presente foram engendrados pela fé de nossos antepassados. A partir deles, histórias ainda podem ser lembradas e repassadas, diferenciais que fazem do Bairro da Penha o lugar que é e que o faz merecedor do apreço de todos os que, com ele, compartilham suas vidas.

Postado por José Morelli

 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Tráfico humano

Minha avó materna, vira e mexe, costumava lembrar o provérbio, que ela já trazia em sua memória, desde o convívio com seus pais na santa terrinha de além-mar: “onde falta o pão (não só o do alimento material suponho) ninguém tem razão”. Em situações adversas, o instinto de sobrevivência fala tão alto, que o sentido de humanidade pode simplesmente escoar pelo ralo da pia. Os fatos (acontecimentos) se desdobram seja no sentido do positivo como do negativo. Sempre ouvi falar que a corda arrebenta em sua parte mais fraca. Essa é a lógica e não é de se estranhar que, no campo da antropologia e da economia, não aconteça algo parecido.

A chamada globalização compartilha benefícios e malefícios. Há os que têm mais chances de se defender dos revezes e há os que não as têm. O mercado cresce ou diminui de tamanho ao sabor das contingências (incluindo erros e acertos deste ou daquele). Se a crise toma conta das nações mais ricas, imagina o que não pode acontecer com as mais pobres?!... Na história antiga, durante o cerco da cidade de Jerusalém, entre os anos de 66 e 70 da era cristã, a cidade passou por uma fome tão grande, que foram encontrados relatos de mães que comeram seus próprios filhos recém-nascidos. No ano de 1975, um filme da cineasta Lina Wertmüller, conta a estória de um mafioso que, depois de ter matado e esquartejado um homem que havia desonrado uma de suas sete irmãs; passado algum tempo, em consequência das carências provocadas pela guerra, o mesmo passou a agenciar a venda de suas irmãs na prostituição.

Há algumas semanas atrás, Giusi Nicolini, prefeita de Lampedusa (ilha localizada no Sul da Itália e que vem sendo utilizada para o desembarque de refugiados, que fogem de países africanos que se encontram em profunda crise política ou econômica) descreveu o clima na ilha: “Cada novo naufrágio é uma tragédia para nós. Sofremos junto”. Nicolini destaca que a função da guarda costeira não é conduzir uma guerra; mas os traficantes de pessoas estão se tornando cada vez mais agressivos. No entanto, ela aponta como verdadeiro problema a instabilidade nos países dos imigrantes, a qual sempre desencadeia novas ondas de refugiados.

Um olhar mais amplo exige que nossa leitura da realidade alcance o mundo em sua totalidade. Centrar-nos apenas em nosso próprio umbigo seria uma postura extremamente limitada e que abriria espaços para desmandos de toda natureza. Sensibilizar-nos com o nosso próximo (esteja  o mesmo onde estiver) é incluí-lo como igual e merecedor de nossa mesma dignidade e valor: ou todos nós temos valor ou ninguém de nós tem valor.

Postado por José Morelli

 

 

Quando domingo era domingo

O nome continua o mesmo desde a muito e muito tempo. O domingo fecha a sequência dos sete dias que compõem a semana. Ele teria sido instituído pelo próprio Criador, dando-se a Si o direito a um justo descanso, após o árduo trabalho de criação de todo o universo.  Em sua essência, o domingo se constitui como um dia diferente dos outros. Nele se encerra uma sabedoria de vida.

O descanso, no domingo, não seria apenas para os seres humanos. O boi que ajudava na aragem da terra também mereceria seu justo descanso. Da mesma forma, a vaca deixaria de ser ordenhada, ficando seu leite exclusivamente para suas crias: os bezerrinhos e bezerrinhas.  Com esses e outros exemplos, a ideia transmitida era de que o descanso é mesmo fundamental e necessário para tudo (terra, água, ar, natureza) e para todos.

A sustentação física exige dedicação intensa, começando na segunda feira e indo até que chegue o fim da semana. O dinheiro ganho nos dias de semana deve ser suficiente para custear o dia de descanso, da mesma forma como acontece com o dos onze meses do ano que custeia a remuneração do mês destinado às férias. Domingos e férias existem para servirem como derivativos: para arejamento e cultivo do corpo e da alma.

Não têm sido poucas as mudanças sociais ocorridas nestes últimos anos. A sociedade, em seu todo, tem seguido lógicas diferentes daquelas que a norteavam num passado não tão distante. A lei da sobrevivência tem imposto novos sistemas e costumes. A tecnologia, no lugar de servir às pessoas, tem imposto sobre as mesmas sua sedutora e inexorável tirania. E o domingo foi perdendo seu sentido original.

Seja em que dia da semana for, o destinado ao descanso semanal precisa ser diferente dos outros dias, com outros sabores e cheiros e com outros coloridos: uma oportunidade aberta ao cultivo de outras dimensões da realidade em que, de forma abrangente e plena, nos constituímos.  

Postado por José Morelli

 

Quem precisa?... (de tratamento psicológico)

Depois de muitas esperas e de muitas insistências, a moça conseguiu convencer seu companheiro de acompanha-la a um psicólogo. Seu interesse era de que ele recebesse um parecer quanto à sua necessidade de tratamento, aceitando de que fosse ajudado profissionalmente. No dia e horário marcados, os dois se apresentaram no consultório.

Iniciada a sessão, o psicólogo se dirigiu aos dois perguntando o que os trazia ali. O silêncio do moço forçou que a jovem tomasse a iniciativa da resposta. Mesmo com dificuldade, esta passou a contar o que vinha acontecendo no relacionamento dos dois. Disse da situação insuportável em que se encontrava a convivência na intimidade da casa e em lugares públicos. O problema de bebida dele e a violência com que ele a tratava principalmente quando estava alcoolizado. Os prejuízos sofridos pela destruição de seu carro numa dessas suas fúrias. O desprezo que recebia dele perante outras pessoas com maus tratamentos absolutamente inaceitáveis.

O psicólogo ouviu atentamente tudo o que ela disse. Em seguida, voltou-se para o companheiro da moça e perguntou-lhe: “E você, o que diz de tudo isso?” – Tentando demonstrar que estava tranquilo, ele respondeu: “Comigo está tudo bem, está tudo ótimo, não tenho nada a reclamar!”.

A conversa continuou na tentativa de tornar a questão ainda mais bem elucidada. Outras perguntas foram feitas aos dois, sendo que a iniciativa das respostas partia sempre da moça, ansiosa de esclarecer as maneiras como cada um se comportava. Ao final da sessão, o psicólogo manifestou a conclusão a que havia chegado.

Dirigindo-se à jovem, disse-lhe: “A você, pelo descontentamento que demostrou, vai ajudar muito que passe por um tratamento psicológico”. Depois, dirigindo-se ao rapaz, afirmou: “Você não precisa de terapia, uma vez que se encontra satisfeito com a situação!”.

Para que uma ajuda psicológica surta efeito é preciso que o paciente se veja e se sinta na necessidade de melhorar a si mesmo e a própria vida. Sem essa consciência e sem essa vontade firme de receber ajuda e de se ajudar, qualquer tentativa de tratamento não resultará efeito algum.

Postado por José Morelli

Quando me predisponho a ler...

Quando me predisponho a ler, meus olhos se voltam para as palavras escritas, estejam elas onde estiverem. Saio de mim mesmo e me projeto para o que se encontra fora de mim. Dependendo do grau de envolvimento com que me dedico ao que faço, ligo-me às ideias transmitidas por quem as quis conta-las e perenizá-las no tempo e no espaço.

Lucas foi o evangelista que, depois de ter investigado “cuidadosamente desde a origem” a vida de Jesus, resolveu expô-la por escrito, começando com o anúncio do nascimento de João Batista, o precursor do Messias prometido ao povo de Israel. (capítulo primeiro, versículos de 5 a 25).

Utilizando como referência o tempo de gravidez em que se encontrava Isabel, casada com Zacarias, e que já fazia seis meses que trazia João Batista em seu seio, passa a descrever o anúncio de outra gravidez, agora a de uma prima de Isabel, Maria, que se tornaria a mãe de Jesus. Diferentemente do primeiro anúncio em que o Anjo se dirigiu ao pai, Zacarias, neste segundo anúncio, o Anjo se comunicou diretamente com a mãe.

O texto de Lucas descreve, passo a passo, o diálogo entre o Anjo e Maria, explicando-lhe como tudo se daria: “Não tenhas medo, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar a luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus... O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra”. Em seguida, o Anjo transmitiu-lhe a notícia da gravidez de Isabel.

Prontamente, “pôs-se Maria a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade de Judá... Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?” (versículos de 39 a 43).

Lido com atenção, o texto de Lucas traz o dom de transportar o leitor no tempo e no espaço, um tempo em que viagens só eram feitas à pé ou em lombo de burro e os caminhos, entre as pequenas cidades, não passavam de trilhas abertas sobre montanhas. A leitura envolvente traz a quem lê o passado recontado no presente, reavivando-o em toda densidade expressa literalidade das palavras lidas e dos possíveis significados às mesmas associados.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Percepção – conscientização

Sabemos que nosso corpo é dotado de excelentes instrumentos de percepção da realidade material, da qual também nós fazemos parte, compondo-nos num imenso todo. Nossos olhos, ouvidos, boca, nariz, mãos transmitem suas percepções ao nosso cérebro, através do sistema nervoso central, a fim de que nossa mente as processe como entendimento e as retenha como lembrança. Distinguimos dois momentos: o da percepção e o da conscientização.  As informações captadas pelos órgãos dos sentidos são muitas e simultâneas. Nosso cérebro não consegue processá-las de imediato, em sua totalidade.

Das muitas idéias contidas num livro, mesmo numa leitura atenta, apenas uma parte relativamente pequena é captada e integralizada pelo pensamento. O que pode ser encaixado a outras idéias já existentes, faz com que a compreensão da realidade se amplie ainda mais. Cada leitor capta de maneira diferente. Para uns são algumas idéias que chamam mais atenção, para outros são outras.

Parte das imagens desses flashes em comerciais, que a televisão mostra, embora não consigam ser conscientizadas na velocidade em que são apresentadas, ainda assim conseguem chegar, subliminarmente, a camadas inconscientes ou subconscientes de nossa mente, aí permanecendo até que sejam despertadas por alguma varinha mágica. Dependendo das circunstâncias que possam favorecer a emergência dessas imagens, estas podem vir à tona, influindo em nosso estado de ânimo e, consequentemente, em nossos comportamentos e tomadas de atitudes.

Com os sons, com os odores e sabores e com as sensações táteis acontecem processos semelhantes de apreensão subliminar das informações. Sendo assim, não temos idéia do que trazemos em nossas percepções e em nossa consciência. Como as idéias se associam e como elas se dissociam umas das outras. Quais sentimentos se desprendem dos conceitos que atribuímos a este ou aquele fato ou acontecimento. Nossos humores podem variar sem que saibamos o porquê. Carregamos, dentro de nós mesmos, armadilhas que podem nos surpreender quanto ao que esperávamos de nós, das reações que produzimos frente a situações esperadas ou inesperadas. Convivemos com a incerteza. 

Postado por José Morelli

Parecer ou Ser?...

A todo parecer está subjacente um ser. Ninguém parece se não é, se não existe, deixando marcas tangíveis e perceptíveis de sua existência no tempo e no espaço. O “parecer” é a forma externa (material) com que o ser humano se deixa ou se permite mostrar aos outros. Em minha história de tantos anos, não foram poucas vezes que ouvi a frase: “não basta apenas ser bom, é preciso também parecer bom!” Mesmo que isso oculte outras intenções escondidas no fundo da alma.

Comecei a escrever, partindo da pergunta: “Parecer ou ser?...” – Rapidamente juntei o qualificativo de bondade ao assunto: bem e mal são categorias que aprendemos a associar aos acontecimentos, desde os primeiros anos de vida. O convívio em sociedade nos leva, necessariamente, a isso: dependemos uns dos outros em nossas ações e movimentações. Podemos ser aprovados ou desaprovados naquilo que falamos ou fazemos.

À ovelha está associado o simbolismo de um animal tranquilo, gregário e submisso. Já ao lobo, está associado o simbolismo de um animal perigoso, sagaz e feroz. A sabedoria popular, em sua experiência milenar, criou o alerta: “cuidado com o lobo que se esconde debaixo de pele de ovelha”. É claro que a frase se referia a racionais e não a irracionais.  

O potencial de bondade ou de maldade está presente em cada ser humano. Um mesmo ato ou gesto pode, numa dada circunstância, se constituir como bom e, numa outra circunstância se constituir como mal. O beijo de Judas é um bom exemplo. O que convencionalmente era e é considerado signo de amizade, foi utilizado por Judas como signo indicativo e de entrega do amigo e mestre Jesus de Nazaré que, na escuridão da noite, era procurado para ser preso e injustamente condenado. Enquanto Judas pareceu bom para uns (poderosos do tempo), a história gravou a memória de seu gesto não como o de um sinal de amizade sincera; mas como o de um sinal de desavergonhada traição.

Postado por José Morelli

Papel da vaidade humana

 Comparativamente, a vaidade pode não ser prioridade absoluta dentre os valores a serem praticados, no decorrer de toda uma existência. No entanto, na contingência de tempo e de espaço em que se dá a vida de cada indivíduo, esta não deixa de ter seu devido valor e importância.  A própria etimologia da palavra vaidade dá à mesma a dimensão de seu essencial significado. Ela não tem como característica ser duradoura ou permanente; muito pelo contrário, sua característica própria é a de ter existência efêmera ou passageira, à semelhança de uma flor que se abre ao nascer do sol e se fecha quando este se põe.

Para dois endereços são destinados os esforços no sentido de embelezar-se fisicamente: o do espelho que permite o se ver, acompanhado da própria admiração e o dos olhares dos outros que visa despertá-los em suas desatenções. A identificação com o belo permite a cada um que se reaproxime de si mesmo, harmonizando-se com as imagens que, por diversos ângulos de visão, lhe são devolvidas pelo espelho no qual se reflete. O retorno dos olhares dos outros, mediante mil gestos ou palavras, permite a quebra da solidão de quem se percebe percebido e admirado em sua própria existência e encantamento.    

O aqui/agora é imprescindível. Sua importância é única. O tempo é comparado a uma flecha lançada pelo arqueiro. Não tem outro jeito dela chegar ao seu alvo, se não percorrer cada milímetro de seu trajeto. Rasgar o espaço, superando seu próprio peso e resistência do ar, não é tarefa fácil à flecha. Assim, também, nós, seres humanos, nas diversas fases de nossa existência, temos que superar barreiras e mais barreiras que nos sevem como obstáculos à nossa realização pessoal, familiar, profissional ou social/espiritual.

A vaidade faz parte do pacote em que nossa vida vem embalada. Não dá para ignorar o papel que o transitório possui no contexto geral do existir humano. Ele precisa ser reconhecido em sua devida importância. Ele pode e deve ser associado aos aspectos mais permanentes de nossa existência. O cuidado é de que não percamos nada do que é importante. Entrelaçando nossos valores uns com os outros, sejam eles relacionados à nossa realidade física ou não, reconhecemos a importância que eles representam, na totalidade de seu conjunto.

Publicado por José Morelli

Opiniões formadas

Opinar ou manifestar opinião é apresentar, publicamente, a própria ideia ou entendimento a respeito de algum assunto, seja ele referente à vida pessoal, familiar, à saúde, doença, política, futebol, religião, economia ou qualquer outro assunto que nos pareça importante.

Opiniões formadas são aquelas que já passaram por mais testes de fidedignidade, e nos parecem estar mais próximo à verdade dos fatos. Nossas opiniões formam um conjunto que consideramos coerente com os valores e contra valores que atribuímos às coisas e às pessoas, consideradas na individualidade e/ou na coletividade com que são apreciadas.

A opinião é um ponto de vista pessoal. Não que esse ponto de vista pessoal precise se construir, apenas, a partir das próprias observações ou raciocínios. Quanto mais informações pudermos agregar, advindas de mais fontes, mesmo aquelas que nos pareçam, num primeiro momento, pouco familiares e contrárias àquilo que, em nosso histórico de vida, nos acostumamos de tê-las como base e garantia de nossa segurança pessoal, familiar e comunitária.

Ninguém nos pode proibir de defendermos nossas opiniões formadas. Devemos até não deixar-nos vencer pelo medo de apresenta-las e defende-las publicamente. Por outro lado, não podemos deixar de dar ao outro, com quem confrontamos nossas ideias, esses mesmos direitos, ouvindo-o com a devida atenção.

Opiniões formadas não o são pelo simples fato de que a maioria das pessoas pense igual. Há quem entenda que o juízo disseminado sobre a sociedade massificada deveria ser mais bem avaliada, com mais reflexão e aprofundamento da parte dessa mesma maioria. A responsabilidade é de todos: dos que formam a opinião pública e a dos que fazem parte de todas as camadas sociais.

Postado por José Morelli

O teste do dinheiro

 Para que um teste possa ser adotado, oficialmente, como instrumento de avaliação psicológica é necessário que o mesmo passe por um processo sofisticado de estudos, pesquisas e comprovações. No caso do “teste do dinheiro” a que me refiro neste texto, não o entendo como um instrumento científico; mas, simplesmente, como uma forma de abrir a mente no sentido de alargar seu alcance de compreensão e de entendimento.

O dinheiro é o meio de trocas com a maior liquidez; isto é: ele tem a capacidade de se transformar, instantaneamente, naquilo que se deseja conseguir. Os simbolismos do dinheiro são, portanto, associados à maior parte dos bens materiais a que ele é capaz de ter acesso. Nem sempre quando se diz que amizade e amor não se compram, essa frase é dita com total convicção. Exemplos não faltam que demonstram quantos e quantas foram iludidos com tal crença.

O dinheiro é significativo tanto quando ele sobra como quando ele falta. Dentro dos sistemas vigentes, ele é praticamente indispensável correndo na mão. Na contramão, estariam as outras formas de trocas, conotadas como apropriadas não aos fortes e competentes; mas aos mais débeis e idealistas sentimentais. 

O dinheiro serve a manipulações. Dada a importância que ele tem adquirido na macroeconomia mundial, seu poder tem se tornado tirânico de vida ou de morte. As estratégias de manipulação vêm de cima, desdobrando-se até chegarem às bases sociais. Seria ingenuidade pensar que não é assim. Quem tem a faca e o queijo na mão é quem o divide ou não com os outros.

O dinheiro se constitui como estímulo que induz respostas concretas e posicionamentos. Sendo assim, o dinheiro (presente ou ausente) não deixa de servir a cada cidadão ou cidadã como um teste capaz de revelar, circunstancialmente, a personalidade (aquele conjunto de valores e contra valores que norteiam a existência da cada indivíduo).

Postado por José Morelli

O que vai sobrar prá nós?...

 Semana passada o jornal da tarde, na TV, mostrou uma nova colheitadeira de última geração. Disse o apresentador do jornal, com um ar de vaidade, que esta incrível máquina vinha para substituir outra, superada em sua capacidade. O trabalho realizado por esta última em um dia, agora passava a ser realizado, pela nova, em 30 minutos. Com tecnologia tão avançada, o agronegócio, cada vez mais, dispensa a chatice de empregar mão de obra humana, com tantas complicações e exigências sociais e previdenciárias.

Em nossa história brasileira, os negros africanos foram trazidos para cá, a fim de suprir a necessidade de mão de obra no campo e outras tarefas. Eles foram utilizados para a extração do ouro e de pedras preciosas e, principalmente, para as produções da cana de açúcar e do café, em regime de escravidão. Quando foi assinada a lei de libertação da escravatura, foram chamados europeus de vários países para que substituíssem os negros, principalmente, nas lavouras. Agora, chegou a vez das máquinas. Se não houver inteligência política, para administrar nosso futuro como país e nação, daqui a algum tempo, todos os trabalhadores terão perdido seus empregos nas grandes corporações e precisarão receber algum tipo de bolsa família para continuarem consumindo ou sobrevivendo. De nada adiantarão megas capacidades de produção se não houver dinheiro que as possam pagar, gerando mais e mais riquezas para aqueles que as promovem.

E aí?... O que vai sobrar para nós, que não fazemos parte do 1 (um) por cento que detém 50 (cinquenta) por cento da grana que circula no mundo?... O restante 50 (cinquenta) por cento que é subdividido entre os não aquinhoados 99 (noventa e nove) por cento, sendo carreado no sentido da minoria (mais aquinhoada), que possui meios de transformar seu imenso capital em mais e mais grana. E, voltando o olhar ou o pensamento para nós, que compomos a maioria das populações humanas, vamos ter que nos virar de alguma forma.

Não são poucas as universidades que têm aberto espaços para novos cursos com o objetivo de ampliar o horizonte de oportunidades de trabalho na área de serviços. Tais cursos desenvolvem saberes necessários ao cuidado da infância, de idosos e de outras demandas que servem a uma melhor qualidade de vida de pessoas e de coletividades.

Postado por José Morelli

O outro como ameaça

 É evidente que a realidade material em que vivemos se apresenta transitória, tanto em nossa vida pessoal como em tudo o que se apresenta à nossa volta. Vivemos a experiência da mudança constante, percebendo claramente que não existem garantias absolutas quanto à manutenção da situação presente e aos rumos que a vida pode tomar a curto, médio e longo prazo: se ela irá para a direita ou para a esquerda, se para baixo ou para cima ou para qualquer outra direção que seja.

Leis no papel e em vigência tentam estabelecer direitos e obrigações, de acordo com critérios que devem atender aos interesses da maioria daqueles que a elas estão submetidos. Na luta de poder entre os diversos segmentos sociais, sejam eles os que ocupam o ponto mais alto da pirâmide, sejam eles os que ocupam sua base, os confrontos são sempre acompanhados de grandes tensões.

Os olhares não são os mesmos: enquanto os que estão em cima olham a partir do que lhes pode garantir a manutenção e o avanço em suas projeções de futuro; os que estão em baixo não podem deixar de olhar a partir do que lhes garanta a manutenção e o avanço em suas projeções individuais e coletivas, no sentido de garantir-lhes o indispensável a uma vida pessoal e familiar digna de ser vivida.

A pirâmide é uma só. Suas partes: seja a de cima, a do meio e a da base se completam e se complementam entre si, uma não existindo sem a outra. Não é de se estranhar que conflitos de interesses aconteçam. Eles fazem parte da dinâmica natural de uma existência no tempo e no espaço.

É fundamental que cada parte se reconheça em sua identidade, sabendo se preservar e se proteger sem perder o senso de humanidade. A legitimidade desse confronto; portanto, não autoriza que os contendores se demonizem e se destruam moralmente ou em sua integridade física. Não podemos nunca esquecer que, por mais ameaça que o outro represente é através dele que cada um de nós pode se reconhecer em si próprio e em sua identidade pessoal. É o outro que nos dá a medida com que nos medimos a nós mesmos.

Postado por José Morelli

Massacre em escola de Suzano - sob que ótica interpretá-lo?...

 Como se não bastassem as notícias de desastres que já nos haviam chegado desde que teve início o ano de 2019, nesta última quarta-feira recebemos as tristes notícias do massacre ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, localizada na vizinha cidade de Suzano: dois ex-alunos desferiram tiros e ataques com armas brancas sobre alunos e funcionários, deixando um saldo de dez mortos, incluindo os dois atiradores que, presumivelmente, se suicidaram.

As imagens transmitidas pela televisão e os testemunhos dos que, de forma mais próxima, vivenciaram a tragédia, sensibilizaram àqueles que, durante todo o dia, buscavam mais e mais informações a respeito do ocorrido e de seus desdobramentos. Não se tratava de uma simples ficção, mas de um acontecimento real. Ações violentas compõem o conteúdo de muitos filmes e vídeo games, que atraem o interesse de um significativo público consumidor, garantia de excelentes vendas. Nas ficções tudo o que é mostrado não passa de faz de conta. Por mais intensos que sejam os tiroteios, estes não destroem as vidas dos atores e atrizes. Nos próximos filmes eles voltam vivos novamente. Não fosse o exagero, até que esses produtos poderiam servir às pessoas como meio para extravasarem suas próprias frustrações ou instinto exacerbado de agressividade represada, à semelhança do que aconteceu com as barragens de Mariana e Brumadinho.

Vivemos num tempo em que as notícias do mundo inteiro nos chegam em tempo real. As informações, por mais que nos sirvam à elaboração de nossos entendimentos, ainda assim não deixam de representar sobrecargas mentais e emocionais. Isso exige que tenhamos uma personalidade bem estruturada. Correr atrás das notícias pode passar a ser um vício. Sentimos sede de consumi-las. Não aceitamos que fiquemos à margem do que acontece à nossa volta. Somos também cobrados pela sociedade de que não nos comportemos como alienados ou estejamos por fora do que acontece. Daí que vale o dito popular: “se parar o bicho pega, se correr o bicho come!” Tanta tecnologia, inclusive a de destruição, exige maturidade para que tenhamos uma boa convivência com a mesma. Uma arma na mão multiplica várias vezes o poder de destruição de um indivíduo. Poder este que exige maturidade, a fim de que se comporte com responsabilidade sobre os atos que pratica.

Que os acontecimentos obedeçam a desdobramentos naturais, esse é um fato que não pode ser ignorado. Nada acontece de repente como geração espontânea. Acontecimentos de grandes proporções resultam de pequenos gestos que, sem os quais o grande não aconteceria. Um dos entrevistados em Suzano assinalou que, mesmo sendo aquela escola referência no município, nela a ocorrência de assédios morais era frequente, provocando injustiças.

O apontamento de razões de ordem política, filosófica e mesmo ideológica não pode deixar de fazer parte dos motivos explicativos do massacre. A verdade é que uma laranja (realidade) pode ser apreciada a partir dos cortes que nela sejam feitos: de cima para baixo; nas transversais; nas diagonais e em outras direções. Cada um desses cortes é capaz de revelar aspectos diferenciados daquilo tudo que faz parte da realidade da laranja.

Pessoalmente, ao julgarmos qualquer acontecimento, fazemos emergir de nós mesmos aquilo que nossos interesses imediatos julgam que nos seja conveniente. Afirmamos, em nossos julgamentos, mais a respeito de nós mesmos do que daquilo que desejamos julgar. Daí que é urgente que sejamos cuidadosos para separarmos o que somos daquilo a respeito do qual nos pronunciamos.

Postado por José Morelli

"O homem da capa preta"

 Este tipo de frase fez parte da estratégia de comunicação com que pais e mães amedrontavam suas crianças, no sentido de que não se aproximassem ou deixassem aproximar de quem aparecesse, à frente, com tais características. A frase, curta e grossa, não deixava margem a equívocos. A eficácia de sua mensagem deveria ficar indelevelmente marcada na alma, por toda a vida. E, assim, o subconsciente se condicionaria a essa ideia, encaixando-a ou desencaixando-a no conjunto de suas referências.  

Faz parte da formação das crianças que sejam alertadas quanto aos perigos que a cercam. No entanto, a escolha do caminho mais curto e cômodo não é suficiente para garantir uma boa e saudável educação aos pequenos. A frase contém os substantivos “homem” e “capa”, sendo que este segundo vem seguido pelo qualificativo “preta”. Uma capa, além de acobertar a quem dela faz uso, pode também ocultar armas perigosas.

A ideia expressa assinala os dois lados: o da força e o da fraqueza. Pelo seu conteúdo, não deixa de ser uma frase machista. À figura masculina é atribuído um simbolismo de perigo e de medo. A capa, associada à sua cor preta, também conota um simbolismo na mesma linha negativa. Obviamente, às figuras do feminino e da veste de qualquer outra cor que não seja a preta restariam apenas as conotações da fraqueza e da vulnerabilidade.

Conceitos e preconceitos, valores e contra valores culturais são passados de geração em geração, através das expressões da linguagem. Ao conteúdo das frases se soma a ênfase emocional com que são pronunciadas. As atitudes concretas no dia a dia reforçam as ideias manifestadas oralmente.

A realidade, em sua total abrangência, precisa ser valorizada e respeitada nas diferenças com que se apresenta. Só o reconhecimento equilibrado das forças e das fraquezas, presentes em suas variadas formas consegue imprimir um desenvolvimento harmonioso e consistente de toda humanidade, no presente e no futuro.   

Postado por José Morelli

O desconhecido

 É o não conhecido, aquele ou aquilo que não sabemos a respeito e com o qual temos que nos defrontar. Dentre as brincadeiras infantis, há uma que tem presença em muitos lugares e que chamamos de “cabra cega”. O enxergar nos acostumou a confiar em nossa visão. Se taparmos nossos olhos com uma venda, a sensação que temos, ao termos que dar um passo à frente, se reveste de medo e de insegurança. A incerteza, a dúvida que temos quanto ao que podemos encontrar no caminho, não permite que andemos sem manifestar algum vacilo.

O desconhecido é o que não é conhecido por nós, pela pessoa que somos na totalidade de nosso ser existencial. O desconhecido pode ser o que não é conhecido pela nossa visão, pela nossa audição, pelo nosso olfato, pelo nosso paladar, pela nossa experiência de vida.

Um perigo especial acontece quando pensamos que conhecemos, mas deixamos nos enganar pelas aparências. Um chão aparentemente firme pode ocultar o vazio de um buraco, provocado pela passagem de águas subterrâneas. A necessidade de executarmos tarefas que nunca tivemos a oportunidade de executar antes, naturalmente nos mobiliza a que tomemos especiais cuidados.

Devemos, então, preparar-nos melhor idealizando a execução da tarefa desconhecida, mediante consulta a outras pessoas com condições de ajudar-nos, buscando informações através de leituras em livros ou revistas. Por fim, não podemos deixar de munir-nos de coragem, acreditando em nossa capacidade de enfrentarmos o que nos é desconhecido, desvendando-lhes seus segredos ocultos.

Ao término dessa aventura, sentiremos que vencemos. Provamos, mais uma vez, que fomos capazes de vencer os obstáculos que se interpunham aos nossos avanços. Crescemos em nós mesmos. Construímo-nos no conhecimento de nossas capacidades. Instrumentalizamo-nos no conhecimento da realidade que nos cerca e com a qual não podemos nem devemos deixar de dialogar e interagir.

Publicado por José Morelli

 

 

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

O despontar de novas lideranças

Do imperador romano, Júlio Cesar, é atribuída a seguinte frase: “Prefiro ser o primeiro no comando de uma aldeia gaulesa, a ser o segundo no comando de Roma”. Todo líder se vê refletido no próprio papel que desenvolve, estimulando-se com o que observa em seu desempenho. Abastece-se, assim, de mais e mais inspiração, criatividade e, mesmo, de energia física.  

Zumbi foi o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial. Entre o oferecimento do governador da capitania de Pernambuco (Pedro de Almeida) de conceder alforria a todos os quilombolas de Palmares, Zumbi foi contra, não admitindo que uns negros fossem libertos enquanto outros continuariam escravos. Palmares chegou a reunir mais de 30 mil habitantes entre escravos recém-libertos e fugidos.

Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, Zumbi lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra

Se uma instituição necessita de ter uma razão de continuidade, precisa abrir espaços de presença para que novos membros exerçam funções que lhes proporcionem envolvimento e responsabilidade. A tendência dos que, por se considerarem mais experientes, acham de que devem se perpetuar no poder e não o repassa a outros, impede a formação de novos líderes que possam garantir a continuidade e a evolução da instituição no presente e no futuro.

Dos grupos de congadas, moçambiques e outros, nascidos da religiosidade e da cultura popular, com influências portuguesa, africana e indígena, chamam à atenção as presenças de crianças e jovens como seus integrantes. Em cidades do estado de Minas Gerais, como acontece em Divinópolis, existem grupos, cujos componentes são apenas jovens, tanto do sexo masculino como do feminino. Esse espaço que é aberto aos jovens, permite o surgimento de jovens líderes, que assimilam os valores subjacentes às manifestações de musicalidade e de dança, bem como das razões místicas profundas que as motivam.

Postado por José Morelli

Interpretar

 O músico interpreta a partitura. O médico interpreta o resultado dos exames. O aluno interpreta o texto do livro que caiu na prova. O meteorologista interpreta os mapas meteorológicos exibidos na tela do computador. Toda interpretação deve levar a entendimentos mais aprofundados de informações e de fatos. Quanto mais referências o interprete tiver à sua disposição, a fim de poder utilizá-las em suas análises melhor será o resultado de seu trabalho interpretativo.

Nossa mente interpreta constantemente. A necessidade de interpretar decorre da urgência com que, muitas vezes, temos que corresponder a situações concretas do nosso dia a dia. A experiência acumulada, através das vivências do passado, serve como instrumental disponível nos arquivos de nossa memória.  Não é legal desprezar (negligenciar) informações que ficam como que acendendo e apagando no intuito de alertar-nos quanto à existência de algum problema ou de alguma solução talvez.

Nossa vida pessoal e comunitária é dinâmica. Ela é feita pela sucessão dos momentos que vivemos. As oportunidades que surgem podem não se repetir. Das decisões do presente dependem os rumos a serem seguidos no porvir. Temos um compromisso com a nossa própria vida e com a vida que acontece em nosso entorno. Não podemos ou não devemos abdicar de nossa própria consciência, deixando de consultar nossa mente e nosso coração, toda vez que precisamos escolher entre alternativas.

Razão e emoção são partes de nosso ser existencial. Temos nossa vida inteira para equipá-las de bons instrumentos que nos ajudem a discernir quanto ao que consideramos bom e ao que consideramos mal: certo ou errado. De nossa interação com o meio em que vivemos coletamos elementos que nos constroem como gente consciente e responsável. De tudo o que se nos apresenta, vamos fazendo a prova dos nove, interpretando a realidade, separando o que não nos interessa daquilo que nos interessa.

No próximo domingo, dia 5 de outubro, teremos a oportunidade de manifesta-nos, no que trazemos de melhor em nós, a fim de escolhermos bem àqueles que irão nos representar na presidência da república de nosso país, no governo de nosso estado, no senado e nas câmaras federal e estadual. Bom voto! (matéria escrita e publicada com isenção, apenas no esforço de chamar a atenção para assinalar a ética necessária no ato de votar).

Postado por José Morelli

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Ícones que sinalizam

 Os ícones se constituem como códigos de comunicação. Como tais, facilitam nossas leituras dos acontecimentos, permitindo que decodifiquemos mensagens, entendendo-as em seus significados e vivenciando-as na intensidade de nossas emoções, a favor ou contra. À semelhança da rosa dos ventos que é uma imagem em forma de estrela, desenhada nas bússolas para indicar os pontos cardeais e utilizada, também, em mapas náuticos para guiar os navios em alto mar, os ícones sinalizam as múltiplas direções e metas, possíveis de serem seguidas e atingidas.

Os nossos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato são estimulados pela imensidade de  ícones existentes. Neste período especial do ano, em que nos aproximamos de seu término, somos bombardeados por uma inumerável quantidade de ícones que nos reportam para significativas celebrações: a festividade do Natal e a passagem para um Novo Ano. Eventos que são fortemente utilizados para fazer girar a roda da economia, interna e externa. São esses ícones: árvores decoradas - de vários materiais e tamanhos - iluminadas com piscas multicores; figuras de papais-noéis; imagens do menino Jesus, de Maria e de José; dos reis magos;  estrelas  e presépios; guirlandas de mesas e de portas; letras e músicas típicas; panetones, castanhas, tâmaras, frutas secas e outras iguarias, advindas da tradição de outras nações e de outros povos; ícones evocativos de presentes como caixas e laços caprichados e mil outros que assinalam o objetivo comercial dos eventos.

As sinalizações, transmitidas pelos ícones das festas natalinas, nem sempre encontram ressonâncias nas mentes e corações de todos. Há aqueles que se encontram envolvidos por sentimentos contrários aos das festas. A intensidade com que são feitos os apelos festivos podem até causar mal estar e desconforto a esses que estão vivendo momentos pessoais de internalização e de contenção.  Por mais fortes que sejam o apelos que os ícones exercem, ainda assim, os momentos existenciais e emocionas de algumas pessoas não permitem que possam se sentir na mesma sintonia que sinalizam suas mensagens.

Postado por José Morelli

Está no DNA do penhense

 Neste final de semana, 17 e 18 de junho, as festividades do Rosário irão atingir seus momentos mais fortes e expressivos. Estará sendo comemorado o aniversário de 215 anos do reconhecimento oficial da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico tombado, construído na taipa pela antiga irmandade dos homens pretos da Penha de França, instituição que reunia escravizados e libertos alforriados já no ano de 1755.

A presença no DNA do penhense de uma índole festiva remonta a períodos em que a cidade de São Paulo participava das antigas festas à padroeira do município que, aclamada popularmente sob o título de Nossa Senhora da Penha, ocupava um espaço muito especial na fé e confiança do coração de muitos, principalmente nos momentos em que a ocorrência de epidemias e de secas prolongadas ameaçava a saúde da população, bem como dizimava plantações e criações, indispensáveis à sobrevivência das famílias e do povo em geral.

Nas festividades que lhe eram preparadas anualmente pela comunidade, a população da cidade era acolhida no bairro, sendo-lhe oferecido o melhor daquilo tudo que sabia fazer desde a decoração das ruas centrais, como dos adornos dos carros andores que eram levados às procissões, além de uma infraestrutura tanto de alimentação como de lazer, através de jogos para distração e da boa música, àqueles que dispunham de mais tempo para aqui permanecerem.  À festa de Nossa Senhora seguia-se a Festa do Divino Espírito Santo, uma estratégia para manter a presença dos visitantes por mais tempo, o que dava mais vida e movimento ao pacato bairro paulistano, segundo relato de antigos historiadores.

Os responsáveis pela organização da 16ª. Edição da Festa do Rosário - 2017, no intuito de manter acesa a chama da herança festiva contida no próprio DNA do penhense, se esmeraram por manter à altura das melhores tradições o nível de toda infraestrutura necessária, a fim de que todas as manifestações aconteçam com o maior brilhantismo e expressividade, servindo como alento e esperança de dias melhores a todos e a todas que dela vierem participar.

Postado por José Morelli

Elemento água

 Com o calor, nestes primeiros dias do ano, não há como não atentarmos para a importância da água: bebemos mais desse precioso líquido neste tempo, suamos com mais intensidade, aumentamos o número de banhos, sejam eles em chuveiros, cachoeiras, praias ou piscinas.

Se, no ano passado, a diminuição de água, nos reservatórios, forçou-nos a conscientizar-nos da importância do uso racional da água, neste começo de ano de 2016, forçosamente, passamos a olhar e sentir a esse elemento com outros olhos e com outros sentimentos. Nosso modo de conceitua-la e de senti-la foi e vem se modificando, levando-nos a não desperdiça-la e otimizando seu uso. 

Alguns acontecimentos recentes vieram nos alertar ainda mais. Um deles foi o ocorrido com o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais. De um momento para outro, o Rio Doce transformou-se num mar de lama, ocasionando mortes e destruição. Em sua extensão, a água do rio foi contaminada com grande quantidade de resíduos tóxicos.  

Outro fato que tem ocupado espaço nas notícias é o referente à proliferação da dengue. O problema que já era grave tornou-se ainda maior em função do zika vírus que também é transmitido pelo mesmo mosquito, o Aedis Aegyptus, cuja reprodução se dá em águas paradas.

Enquanto o Sul do país vem convivendo com cheias provocadas pelo excesso de chuvas, algumas regiões do Nordeste sofrem com secas que perduram a mais de dois anos. Esperamos que o Sudeste volte a ter um padrão mais normal de incidência de chuvas, a fim de que não nos falte água para geração de energia e para o nosso consumo e dos demais seres vivos.

A junção do que pensamos com o que sentimos forma uma síntese. Nossas atitudes são determinadas pelas concepções que geramos em nossas sensibilidades. Conscientizando-nos, procurando cada vez mais informações a respeito da realidade que nos envolve, passamos a nos posicionar de forma mais adequada às nossas necessidades vitais.

Postado por José Morelli

 

 

"Berço esplendido"

 Quem não traz na lembrança, dos tempos de escola, o nome de Antônio Manuel da Costa, autor da letra do hino nacional?... Em sua inspiração poética, o território brasileiro se constitui como um berço esplêndido, no qual nosso solo pátrio permanece eternamente deitado, isto é: material e geograficamente identificado com incomensuráveis riquezas naturais. A figura de linguagem, por ele utilizada, é clara e verdadeira: nosso território, imenso em suas dimensões, abriga inesgotáveis riquezas: em seu solo e subsolo; em seus rios e mares; em sua fauna e flora; sem contar a diversidade étnica e cultural de nosso povo.

Através dos acontecimentos do dia a dia, novas e novas lições a vida sempre nos vai proporcionando. Para quem tem olhos e ouvidos atentos, essas lições ajudam nas escolhas dos caminhos a percorrer. Não basta a existência dos bens e das riquezas em nosso solo pátrio. O que importa mesmo é a maneira como esses bens e riquezas se revertem em benefício das pessoas: brasileiros e brasileiras do presente e do futuro.

A utilização do solo para a agricultura e para o agronegócio, bem como para extração de minérios pode representar excelentes negócios para o país e para os empresários. No entanto, uma exploração indiscriminada do solo pode render um custo adicional de deterioração ambiental, que outros países preferem não querer pagá-lo em seus próprios territórios. Ainda no último dia 17, a Itália convocou àqueles que, em outros países, possuem cidadania italiana, a fim de que se pronunciassem a respeito da renovação ou não de funcionamento de poços de petróleo em águas do mediterrâneo.

Pelas experiências que adquiriram, cidadãos de países desenvolvidos estão exigindo critérios mais exigentes quanto aos cuidados ambientais. A economia necessita de que os negócios sempre façam girar a roda da produção. Cada vez mais, o arrojo tecnológico expõe os empreendimentos a riscos gigantescos. A Barragem de Mariana e o povo de Bento Gonçalves que o digam.  Precisamos ficar alertas para que nosso berço esplêndido não venha a ser, simplesmente, rifado por inescrupulosos gestores deste nosso rico patrimônio, pelo qual contribuímos com nossa dedicação e trabalho.

Postado por José Morelli

 

     

"Eu me amo!"

 Sim, em situação de equilíbrio e com uso de minha inteligência, eu me amo, reconhecendo-me satisfeito pelo que sou, faço, penso e sinto. Esforço-me para não deixar passar batido o lado bom de tudo o que acontece, seja em mim mesmo, seja à minha volta.

Por força do amor que tenho para comigo mesmo, dedico meu amor também a meus familiares, colegas e amigos. As trocas de contribuições mútuas que, com eles faço, garantem minha sobrevivência física e de identidade pessoal.  Dou de mim e acato a doação do outro  sem medo de ser engolido pelo outro ou de engoli-lo. Minha família e minha casa servem-me como escola de vida e de amor à vida.

Dando mais um passo à frente e fundamentado no amor que tenho àqueles que me são mais próximos e íntimos, abro meu coração para aqueles e aquelas que se encontram além de meus limites familiares e de amizades. Rompo meus medos e desconfianças e arrisco-me na aventura de ampliar o alcance de minhas trocas afetivas.

Quando amo, ordenadamente, não restrinjo meu amor apenas aos que se assemelham a mim em suas características pessoais. Sou capaz de entender e valorizar a multiplicidade das raças e das culturas, desenvolvidas por povos e nações, bem como das maneiras próprias de cada indivíduo. Longe de considerar como ameaçadoras tais diferenças, entendo que sejam necessárias à boa ordem nas relações humanas e à construção de um mundo ecologicamente sustentável, no sentido mais amplo do que vem a ser sustentabilidade: direito de tudo e de todos à vida plena e abundante.

O amor para comigo mesmo e o amor ao outro/a, necessariamente não me representam um conflito irreconciliável. Ambos não podem ser entendidos como inimigos um do outro. O diálogo que estabelecem contribui para o desenvolvimento de minha personalidade em suas várias dimensões e necessidades.

Postado por José Morelli