segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O outro como ameaça

 É evidente que a realidade material em que vivemos se apresenta transitória, tanto em nossa vida pessoal como em tudo o que se apresenta à nossa volta. Vivemos a experiência da mudança constante, percebendo claramente que não existem garantias absolutas quanto à manutenção da situação presente e aos rumos que a vida pode tomar a curto, médio e longo prazo: se ela irá para a direita ou para a esquerda, se para baixo ou para cima ou para qualquer outra direção que seja.

Leis no papel e em vigência tentam estabelecer direitos e obrigações, de acordo com critérios que devem atender aos interesses da maioria daqueles que a elas estão submetidos. Na luta de poder entre os diversos segmentos sociais, sejam eles os que ocupam o ponto mais alto da pirâmide, sejam eles os que ocupam sua base, os confrontos são sempre acompanhados de grandes tensões.

Os olhares não são os mesmos: enquanto os que estão em cima olham a partir do que lhes pode garantir a manutenção e o avanço em suas projeções de futuro; os que estão em baixo não podem deixar de olhar a partir do que lhes garanta a manutenção e o avanço em suas projeções individuais e coletivas, no sentido de garantir-lhes o indispensável a uma vida pessoal e familiar digna de ser vivida.

A pirâmide é uma só. Suas partes: seja a de cima, a do meio e a da base se completam e se complementam entre si, uma não existindo sem a outra. Não é de se estranhar que conflitos de interesses aconteçam. Eles fazem parte da dinâmica natural de uma existência no tempo e no espaço.

É fundamental que cada parte se reconheça em sua identidade, sabendo se preservar e se proteger sem perder o senso de humanidade. A legitimidade desse confronto; portanto, não autoriza que os contendores se demonizem e se destruam moralmente ou em sua integridade física. Não podemos nunca esquecer que, por mais ameaça que o outro represente é através dele que cada um de nós pode se reconhecer em si próprio e em sua identidade pessoal. É o outro que nos dá a medida com que nos medimos a nós mesmos.

Postado por José Morelli

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