sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Construídos pela Fé

Mais um oito de setembro, mais uma festa de Nossa Senhora da Penha de França e comemoração dos 347 anos de existência do bairro Penhense, excelente oportunidade para relembrarmos antigas histórias, cujos desdobramentos resultaram no que estamos vivendo hoje, na condição de moradores deste lugar, outrora conhecido e reconhecido como aprazível recanto paulistano.

Inspirando-se na iconografia de uma imagem de Nossa Senhora, encontrada no alto de um monte chamado de Penha de França, na região dos Pirineus, província de Salamanca - Espanha, a fé de um desconhecido artesão talhou, na madeira, a imagem de Nossa Senhora que presentemente se encontra no altar principal da Basílica da Penha. A história oral, transmitida de geração para geração, construiu uma espécie de lenda que conta a respeito de um viajante francês. Este trazia em sua bagagem essa imagem, acima referida. Depois de ter subido a encosta da elevação que levava aos Campos de Ururaí (nome antigo do planalto que vai da Penha até São Miguel Paulista), o tal francês resolveu descansar um pouco.  Ali havia água boa para beber e abundante. Restabelecido em suas forças, retomou a viagem. Horas depois, voltou a apear de seu cavalo para tomar um novo fôlego.  Reparou, então, que a imagem não se encontrava junto a seus pertences. Retornando ao lugar de seu último descanso, encontrou-a ali. Mais duas vezes continuou viagem levando a imagem consigo e, mais duas vezes teve que retornar para busca-la no mesmo lugar de antes. Entendeu que uma mensagem Nossa Senhora estava querendo lhe transmitir. Seu desejo era permanecer naquele lugar. Construiu ali uma pequena capela e, só depois de ter satisfeito o desejo manifestado por Nossa Senhora, é que se permitiu continuar viagem.  O documento mais antigo em que consta a existência da capela da Penha, de acordo com o pesquisador e historiador, Dr. Sylvio Bomtempi, é datada de 10 de fevereiro de 1667.

Essa primeira capela ou ermida, passados alguns anos, foi transformada em uma igreja maior. O tempo exigiu que reformas a ampliassem até o ponto em que ela se encontra nos dias de hoje. Localizada no topo da ladeira Coronel Rodovalho, o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha brilha aos olhos de todos os que chegam ao bairro, vindos pela Celso Garcia, principalmente à noite, quando sua bela fachada se encontra especialmente iluminada. A presença desse santuário na Colina da Penha, desde os seus primórdios, atraiu gerações de paulistanos, cuja fé elegeu a Mãe de Jesus, sob o título de Penha de França, como Padroeira da Cidade e de seus habitantes, principalmente em momentos em que sofriam pela ocorrência de graves epidemias ou secas prolongadas.  

A fé de um grupo de escravizados negros, que trabalhavam em propriedades próximas da capela da Penha, fez com que eles instituíssem uma Irmandade: a dos Homens Pretos da Penha de França. Já em 1755 consta a existência desse grupo. Por ele foi projetada e construída a Capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário a poucos passos do Santuário.  No ano de 2002, com a comemoração dos 200 anos de sua aprovação oficial como templo católico, pelo bispo de São Paulo, festas anuais vêm sendo promovidas no mês de junho.

A terceira construção edificada pela força da fé popular, como as duas anteriores, também está localizada no núcleo central e histórico do bairro. Trata-se da Basílica de Nossa Senhora da Penha de França. De vários pontos, o visual desta Basílica chama a atenção daqueles que chegam ou passam por aqui. Como foi dito acima, é nesta igreja que se encontra a imagem, cuja chegada deu origem e nome à Penha.

Antes de se materializarem em construções, esses ícones do presente foram engendrados pela fé de nossos antepassados. A partir deles, histórias ainda podem ser lembradas e repassadas, diferenciais que fazem do Bairro da Penha o lugar que é e que o faz merecedor do apreço de todos os que, com ele, compartilham suas vidas.

Postado por José Morelli

 

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