segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Massacre em escola de Suzano - sob que ótica interpretá-lo?...

 Como se não bastassem as notícias de desastres que já nos haviam chegado desde que teve início o ano de 2019, nesta última quarta-feira recebemos as tristes notícias do massacre ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, localizada na vizinha cidade de Suzano: dois ex-alunos desferiram tiros e ataques com armas brancas sobre alunos e funcionários, deixando um saldo de dez mortos, incluindo os dois atiradores que, presumivelmente, se suicidaram.

As imagens transmitidas pela televisão e os testemunhos dos que, de forma mais próxima, vivenciaram a tragédia, sensibilizaram àqueles que, durante todo o dia, buscavam mais e mais informações a respeito do ocorrido e de seus desdobramentos. Não se tratava de uma simples ficção, mas de um acontecimento real. Ações violentas compõem o conteúdo de muitos filmes e vídeo games, que atraem o interesse de um significativo público consumidor, garantia de excelentes vendas. Nas ficções tudo o que é mostrado não passa de faz de conta. Por mais intensos que sejam os tiroteios, estes não destroem as vidas dos atores e atrizes. Nos próximos filmes eles voltam vivos novamente. Não fosse o exagero, até que esses produtos poderiam servir às pessoas como meio para extravasarem suas próprias frustrações ou instinto exacerbado de agressividade represada, à semelhança do que aconteceu com as barragens de Mariana e Brumadinho.

Vivemos num tempo em que as notícias do mundo inteiro nos chegam em tempo real. As informações, por mais que nos sirvam à elaboração de nossos entendimentos, ainda assim não deixam de representar sobrecargas mentais e emocionais. Isso exige que tenhamos uma personalidade bem estruturada. Correr atrás das notícias pode passar a ser um vício. Sentimos sede de consumi-las. Não aceitamos que fiquemos à margem do que acontece à nossa volta. Somos também cobrados pela sociedade de que não nos comportemos como alienados ou estejamos por fora do que acontece. Daí que vale o dito popular: “se parar o bicho pega, se correr o bicho come!” Tanta tecnologia, inclusive a de destruição, exige maturidade para que tenhamos uma boa convivência com a mesma. Uma arma na mão multiplica várias vezes o poder de destruição de um indivíduo. Poder este que exige maturidade, a fim de que se comporte com responsabilidade sobre os atos que pratica.

Que os acontecimentos obedeçam a desdobramentos naturais, esse é um fato que não pode ser ignorado. Nada acontece de repente como geração espontânea. Acontecimentos de grandes proporções resultam de pequenos gestos que, sem os quais o grande não aconteceria. Um dos entrevistados em Suzano assinalou que, mesmo sendo aquela escola referência no município, nela a ocorrência de assédios morais era frequente, provocando injustiças.

O apontamento de razões de ordem política, filosófica e mesmo ideológica não pode deixar de fazer parte dos motivos explicativos do massacre. A verdade é que uma laranja (realidade) pode ser apreciada a partir dos cortes que nela sejam feitos: de cima para baixo; nas transversais; nas diagonais e em outras direções. Cada um desses cortes é capaz de revelar aspectos diferenciados daquilo tudo que faz parte da realidade da laranja.

Pessoalmente, ao julgarmos qualquer acontecimento, fazemos emergir de nós mesmos aquilo que nossos interesses imediatos julgam que nos seja conveniente. Afirmamos, em nossos julgamentos, mais a respeito de nós mesmos do que daquilo que desejamos julgar. Daí que é urgente que sejamos cuidadosos para separarmos o que somos daquilo a respeito do qual nos pronunciamos.

Postado por José Morelli

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