sexta-feira, 18 de agosto de 2023

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

 

                                                                                           A sabedoria popular consagrou esse ditado e, embora sejam identificadas honrosas exceções, ele tem como ser comprovado inúmeras vezes. Dentre todos e todas as pessoas a quem essa afirmação se aplica e no sentido positivo é a São José, esposo de Maria e pai adotivo do Menino Jesus.

Os evangelhos falam relativamente pouco a respeito desse personagem, que recebeu de Deus a missão de estar à frente e de responsabilizar-se pela manutenção e segurança de sua pequena-grande família, acompanhando-a em momentos fundamentais de sua trajetória terrena. O adjetivo com o qual o escritor bíblico o qualifica é o de que se tratava de “um homem justo”.

No capítulo primeiro de seu evangelho, Mateus insere a genealogia de José, uma forma de liga-lo à história do povo judeu a começar de Abraão, Isaac e Jacó, passando por Davi e Salomão e chegando ao seu bisavô Eleazar, ao seu avô Matan e a seu pai Jacó, através do qual José veio ao mundo. O evangelista conclui dizendo que, de José, esposo de Maria, nasceu Jesus, chamado o Cristo. Mateus não omitiu que foi da mulher de Urias, Betsabé, que nasceu seu filho Salomão. A apresentação da genealogia de José por Mateus mostra a descendência de José da casa de Davi e, ao mesmo tempo, mostra a inserção de Jesus no povo judeu que, embora predileto no chamado à salvação, não deixava de ser um povo pecador e carente da misericórdia divina.

Na sequência dos fatos, o evangelista Lucas, em seu capítulo primeiro, versículos 26 e 27, narra a passagem em que “o anjo Gabriel foi mandado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi. A Virgem se chamava Maria”.

Voltando a Mateus, capítulo primeiro, versículos 19 e 20, o evangelista diz que o esposo de Maria, “sendo um homem justo e não querendo acusa-la, resolveu separar-se ocultamente dela. Ele já havia tomado essa resolução, quando um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de tomar contigo Maria, tua esposa, porque o que foi gerado nela vem do Espírito Santo”.

É interessante notar que, para Maria, o anjo não aparece como em sonho e, no entanto, nas diversas vezes em que ele aparece a José é sempre na forma de sonho.    Talvez, com isso, os escritores bíblicos quisessem assinalar a proximidade de José a todos nós, seres humanos e comuns mortais. José sabia interpretar as vontades de Deus nos acontecimentos corriqueiros de sua vida.

Ainda no capítulo primeiro, versículos 24 e 25, Mateus relata que “José fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor: tomou consigo sua esposa. Mas ele não teve relações com ela até quando deu à luz um filho a quem deu o nome de Jesus”.

No capítulo segundo, do versículo 4º. ao 7º., falando do recenseamento ordenado pelo imperador Cesar Augusto, o evangelista Mateus diz que: ”Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a cidade de Davi, que é chamada Belém, na Judeia – porque era da linhagem de Davi – para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, quando estavam lá, chegou o tempo em que ela devia dar à luz. Ela teve seu filho primogênito, enrolou-o em faixas, e o colocou numa manjedoura, porque não tinham lugar na estalagem”.

No versículo 13 do mesmo capítulo, Mateus explica que “Depois que os magos partiram um anjo apareceu em sonho a José dizendo: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e foge para o Egito. Permanece lá até eu te avisar, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, de noite, e retirou-se em direção ao Egito”. Nos versículos 19 a 22, Mateus continua a contar que “Depois da morte de Herodes, eis que um anjo aparece em sonho a José, no Egito. E lhe diz: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque morreram os que haviam tramado contra a vida do menino. Ele se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, e reentrou na terra de Israel. Mas ouviu falar que Arquelau reinava na Judeia, tendo sucedido a seu pai Herodes, e ficou com medo de ir para lá. Avisado por Deus em sonho, retirou-se para a região da Galileia”.

No relato em que Lucas descreve, no versículo 21 do capítulo segundo, a ida de Jesus ao templo para ser circuncidado, os nomes nem de José nem de Maria são mencionados.

A última menção a José, sem citar o seu nome, é feita por Lucas no capítulo segundo, versículo 41 e seguintes: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram, como de costume, para a festa. Depois que passaram os dias da festa, ao voltarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem... Depois de três dias eles o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam estavam assombrados com sua sabedoria e suas respostas. Quando o viram, ficaram comovidos e sua mãe lhe disse: “Meu filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura!”

Marcos e João nada falam a respeito de José. A narrativa desses dois evangelistas partem do momento em que Jesus, já adulto, inicia sua vida pública levando aos seus conterrâneos e contemporâneos sua mensagem por palavras e ações.

Transparece nos textos de Mateus e de Lucas, acima citados, a personalidade inspiradora de José. Neles não consta frase alguma que tenha saído de sua boca. No entanto, pelas atitudes descritas, ressalta a figura cativante de um homem justo em suas intenções e posicionamentos, seja como esposo ou pai dedicado, seja como cidadão, sintonizado nos acontecimentos que exigiam prontidão nas decisões frente a inúmeros desafios que teve de enfrentar.

Na Carta Apostólica “Patris corde (Com coração de Pai)” - escrita pelo Papa Francisco, já dentro deste período de pandemia em que vive a humanidade, e a partir do entendimento que a comunidade cristã formatou em seu imaginário a respeito deste santo, nos mais de dois mil anos de história da Igreja, o período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021 foi instituído como ano dedicado a São José. Por meio desta carta, o Papa nos convida a voltarmos nossos pensamentos para este santo, invocado como pai e intercessor dos necessitados, dos exilados e dos moribundos que, em vida, e na convivência diária com sua esposa Maria e seu filho Jesus, soube responder com fidelidade a todos os chamados que Deus lhe fez em vida.

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

Postado por José Morelli

 

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