terça-feira, 8 de agosto de 2023

Tráfico humano

Minha avó materna, vira e mexe, costumava lembrar o provérbio, que ela já trazia em sua memória, desde o convívio com seus pais na santa terrinha de além-mar: “onde falta o pão (não só o do alimento material suponho) ninguém tem razão”. Em situações adversas, o instinto de sobrevivência fala tão alto, que o sentido de humanidade pode simplesmente escoar pelo ralo da pia. Os fatos (acontecimentos) se desdobram seja no sentido do positivo como do negativo. Sempre ouvi falar que a corda arrebenta em sua parte mais fraca. Essa é a lógica e não é de se estranhar que, no campo da antropologia e da economia, não aconteça algo parecido.

A chamada globalização compartilha benefícios e malefícios. Há os que têm mais chances de se defender dos revezes e há os que não as têm. O mercado cresce ou diminui de tamanho ao sabor das contingências (incluindo erros e acertos deste ou daquele). Se a crise toma conta das nações mais ricas, imagina o que não pode acontecer com as mais pobres?!... Na história antiga, durante o cerco da cidade de Jerusalém, entre os anos de 66 e 70 da era cristã, a cidade passou por uma fome tão grande, que foram encontrados relatos de mães que comeram seus próprios filhos recém-nascidos. No ano de 1975, um filme da cineasta Lina Wertmüller, conta a estória de um mafioso que, depois de ter matado e esquartejado um homem que havia desonrado uma de suas sete irmãs; passado algum tempo, em consequência das carências provocadas pela guerra, o mesmo passou a agenciar a venda de suas irmãs na prostituição.

Há algumas semanas atrás, Giusi Nicolini, prefeita de Lampedusa (ilha localizada no Sul da Itália e que vem sendo utilizada para o desembarque de refugiados, que fogem de países africanos que se encontram em profunda crise política ou econômica) descreveu o clima na ilha: “Cada novo naufrágio é uma tragédia para nós. Sofremos junto”. Nicolini destaca que a função da guarda costeira não é conduzir uma guerra; mas os traficantes de pessoas estão se tornando cada vez mais agressivos. No entanto, ela aponta como verdadeiro problema a instabilidade nos países dos imigrantes, a qual sempre desencadeia novas ondas de refugiados.

Um olhar mais amplo exige que nossa leitura da realidade alcance o mundo em sua totalidade. Centrar-nos apenas em nosso próprio umbigo seria uma postura extremamente limitada e que abriria espaços para desmandos de toda natureza. Sensibilizar-nos com o nosso próximo (esteja  o mesmo onde estiver) é incluí-lo como igual e merecedor de nossa mesma dignidade e valor: ou todos nós temos valor ou ninguém de nós tem valor.

Postado por José Morelli

 

 

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