Minha avó materna, vira e mexe, costumava lembrar o provérbio, que ela já trazia em sua memória, desde o convívio com seus pais na santa terrinha de além-mar: “onde falta o pão (não só o do alimento material suponho) ninguém tem razão”. Em situações adversas, o instinto de sobrevivência fala tão alto, que o sentido de humanidade pode simplesmente escoar pelo ralo da pia. Os fatos (acontecimentos) se desdobram seja no sentido do positivo como do negativo. Sempre ouvi falar que a corda arrebenta em sua parte mais fraca. Essa é a lógica e não é de se estranhar que, no campo da antropologia e da economia, não aconteça algo parecido.
A chamada
globalização compartilha benefícios e malefícios. Há os que têm mais chances de
se defender dos revezes e há os que não as têm. O mercado cresce ou diminui de
tamanho ao sabor das contingências (incluindo erros e acertos deste ou daquele).
Se a crise toma conta das nações mais ricas, imagina o que não pode acontecer
com as mais pobres?!... Na história antiga, durante o cerco da cidade de
Jerusalém, entre os anos de 66 e 70 da era cristã, a cidade passou por uma fome
tão grande, que foram encontrados relatos de mães que comeram seus próprios
filhos recém-nascidos. No ano de 1975, um filme da cineasta Lina Wertmüller,
conta a estória de um mafioso que, depois de ter matado e esquartejado um homem
que havia desonrado uma de suas sete irmãs; passado algum tempo, em
consequência das carências provocadas pela guerra, o mesmo passou a agenciar a
venda de suas irmãs na prostituição.
Há algumas
semanas atrás, Giusi Nicolini, prefeita de Lampedusa (ilha localizada no Sul da
Itália e que vem sendo utilizada para o desembarque de refugiados, que fogem de
países africanos que se encontram em profunda crise política ou econômica)
descreveu o clima na ilha: “Cada novo naufrágio é uma tragédia para nós.
Sofremos junto”. Nicolini destaca que a função da guarda costeira não é
conduzir uma guerra; mas os traficantes de pessoas estão se
tornando cada vez mais agressivos. No entanto, ela aponta como verdadeiro
problema a instabilidade nos países dos imigrantes, a qual sempre desencadeia
novas ondas de refugiados.
Um olhar mais
amplo exige que nossa leitura da realidade alcance o mundo em sua totalidade.
Centrar-nos apenas em nosso próprio umbigo seria uma postura extremamente
limitada e que abriria espaços para desmandos de toda natureza.
Sensibilizar-nos com o nosso próximo (esteja
o mesmo onde estiver) é incluí-lo como igual e merecedor de nossa mesma
dignidade e valor: ou todos nós temos valor ou ninguém de nós tem valor.
Postado por José Morelli
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