sexta-feira, 18 de março de 2022

Análise institucional

 Ou, se quiser, pode trocar a palavra análise por psicanálise institucional. De um jeito ou de outro, o instituído nunca deixa de trazer, em si, as marcas das pessoas responsáveis por sua feitura ou institucionalização, mediante uso de suas respectivas capacidades mentais e emocionais. Toda análise, para ser mais abrangente e profunda, não deve desprezar nenhum aspecto ou observação daquilo que é analisado, tudo tem seu por que: sua razão de ser ou justificativa. Nada é atoa: sem significado ou importância.  

Um exemplo bem nosso: desde que a Igreja do Rosário da Penha passou a ter maior visibilidade, com seu tombamento como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT em 1982 e, talvez mais ainda, com sua interdição pelo CONTRU em 1999, falas a respeito dela vêm sendo propaladas e, nem todas com o devido fundamento e consistência. Há quem diga que ela foi construída de costas para o antigo Santuário por que, naquele tempo, os negros escravizados ou libertos eram proibidos de nele entrar, sendo permitida entrada apenas aos brancos. Não existe nenhum documento que comprove que isso tenha acontecido por aqui. Em templos católicos de outros lugares não há dúvida que funcionava essa proibição, considerada correta e justa pelos mandatários da época.

Numa análise institucional, no entanto, não se pode descartar a hipótese de que os construtores do Rosário, os membros da Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França, possuíam maior identificação com aqueles que se encontravam no sentido leste da cidade ou daqueles caminhos que conduziam às cidades ou povoados de São Miguel, Guaianazes, Conceição dos Guarulhos, Mogi das Cruzes e ao Vale do Paraíba, mais do que para o oeste, onde se instalavam os poderes constituídos, civis e religiosos, da então Vila da São Paulo de Piratininga.    

Hoje, não só por ironia do destino, a paróquia da Penha se encontra subordinada à diocese de São Miguel Paulista, mesmo que sua população, em grande parte, demonstre estar ideologicamente alinhada àqueles que, financeira e socialmente, são identificados como os mais bem sucedidos materialmente falando e que residem em zonas elitizadas da cidade; diferentemente da população da Vila Madalena se alinhar, comercial e politicamente, a segmentos mais populares da sociedade e menos providos de amparos legais.

Postado por José Morelli