quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Azul celeste

É sempre muito bom ler um livro com qualidade e, melhor ainda, poder compartilhar das idéias, nele contidas, com outras pessoas. É o que eu gostaria de fazer agora com você, leitor (a), ressaltando principalmente algumas constatações, relacionadas à cor azul, e contidas no livro: “As estruturas antropológicas do imaginário”, de Gilbert Durand. Este autor tece seus argumentos recolhendo importantes contribuições de outros reconhecidos pesquisadores, citando-as com maestria e compondo assim um belíssimo texto, com múltiplas tonalidades e variadas formas.

No contexto geral do livro, a simbologia é fruto da imaginação, resultante de um processo de aprendizagem em que os humanos foram se equipando de meios para codificar e decodificar objetos, associando-os entre si. A grandiosidade do céu azul mereceu da parte de alguns povos antigos um sentido de grande admiração, a ponto de o considerarem um deus, ao qual lhe destinaram um culto especial.  

Segundo o autor, a luz celeste é incolor ou pouco colorida. Frequentemente, na prática do sonho acordado o horizonte torna-se vaporoso e brilhante. A cor desaparece à medida em que a pessoa se eleva em sonho e faz-lhe dizer: “sinto, então, uma grande impressão de pureza”. Esta pureza é a do céu azul, privado e cambiante das cores, é “fenomenalidade sem fenômeno, espécie de nirvana visual que os poetas assimilam ao éter, no ar puríssimo...”

A psicologia contemporânea confirma de resto, esse caráter privilegiado do azul-celeste, do azul pálido”. Num dos mais importantes testes psicológicos, “esse azul é entendido como a cor que provoca menos choques emocionais, contrariamente ao preto e, mesmo, ao encarnado e ao amarelo”.
Como mostram os pesquisadores Goldstein e Rosenthal, as cores frias, entre as quais o azul, agem no sentido de um “afastamento da excitação;” o azul reúne, portanto, as condições ótimas para o repouso e sobretudo, para o recolhimento.  

No Brasil, nos dias de carnaval e início da quaresma a partir da quarta-feira de cinzas, o céu se recobre de nuvens brancas, algumas vezes, até mesmo de nuvens negras, anunciando fortes tempestades. Porém, com a aproximação do início do outono, as temperaturas vão se tornando mais moderadas, a luz do sol vai ganhando mais luminosidade e o céu se apresentando com seu azul mais intenso. A associação desses dois fatores permite maior recolhimento e tranquilidade, justamente, características apropriadas à cor azul celeste, objeto desta nossa partilha.

Postado por José Morelli

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