quinta-feira, 25 de março de 2021

Saber perder

 Este é o título de um livro, pequeno no tamanho; porém, importante no valor de sua mensagem. Ele foi escrito por Chiara Lubick, fundadora do Movimento Focolare. A tese nele desenvolvida pode se resumir no seguinte: “quem sabe perder: não perde, ganha; quem não sabe perder: perde, realmente”. Gostaria que você, leitor/a, refletisse e avaliasse se existe ou não consistência nesse entendimento. 

É claro que, para quem é imediatista e quer tudo para ontem, para quem só vale levar vantagens, fica difícil aceitar qualquer perda, mesmo que esta seja por apenas alguns poucos momentos. A vivência de cada um de nós pode demonstrar, na prática, que não é fácil saber perder. A sensação de angústia provocada pela perda, a incerteza de que dela possam reverter ganhos e mesmo o conformismo, expresso no dito popular: “mais vale um pássaro na mão, do que dois voando”, exigem autocontrole e segurança pessoal. Sem um mínimo dessas capacidades não é possível a prática do saber perder. Quem não possui essa estrutura mínima é porque não consegue se possuir e, consequentemente, se sentir seguro quanto à possibilidade de se apoderar do que está ao seu alcance.

Constatar e assumir a falta de estrutura pessoal que permita maior tolerância à frustração já é a aceitação de uma perda: primeiro passo para uma tomada de atitude no sentido de buscar formas de transformá-la em algum possível ganho. Acredito que a aceitação dessa realidade seja fundamental para construção de uma personalidade mais amadurecida.

O entendimento de que os filhos não são dos pais, não pertencem a eles, é um juízo próprio de quem é adulto o suficiente para entender a vida pelo que ela é. A observação tem demonstrado como a ânsia de ter o filho só para si, com exclusividade, acarreta como consequência uma perda ainda maior do filho. Mesmo que, aparentemente, o filho esteja aceitando essa imposição, o sentimento dele, machucado pelo fato de não ter sido respeitado em seus direitos, o dividirá ao meio, exacerbando lhe a raiva dentro de si.

É preciso perceber todo o ganho embutido na perda de se conceder ao filho o direito de ser para si mesmo, de assumir a própria responsabilidade, de poder se vincular às outras pessoas e, com elas, compartilhar do próprio existir. Sem querer tornar absoluta a ideia do que foi exposto até aqui, termino com um alerta: todas as vezes em que se teme demais perder alguma coisa, corre-se um risco ainda maior de não conseguir concretizar esse objetivo  tendo em vista a maneira inadequada de busca-lo. 

Postado por José Morelli  

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