terça-feira, 25 de outubro de 2022

Destampar-se

 A primeira imagem que vem à mente é a de uma panela com tampa. Se esta se encontra com água fervente e ninguém a retira, o normal é que esta vá sendo forçada, pela pressão que vem de dentro, até que se abra e deixe sair o ar que se encontra nela comprimido.

Da mesma forma, o paciente que busca uma psicoterapia, também precisa tirar-se a própria tampa. Essa tarefa não é atribuição do terapeuta. A este compete criar as condições mais favoráveis para que isso aconteça, inspirando confiança no paciente e dando-lhe espaço para que possa falar de si, com total liberdade.  O grau de dificuldade de cada um para proceder a essa abertura varia muito. Há os que têm mais facilidade e os que precisam vencer grandes resistências (defesas pessoais) para conseguir fazê-lo.

O sofrimento do paciente é o que funciona como a pressão interna que força a remoção da tampa da panela. Quem melhor pode identificar o que o faz sofrer é o próprio paciente. Falar, chorar, emocionar-se pode servir como expressão da dor interna que precisa ser mostrada e reconhecida. O reconhecimento e a aceitação daquilo que incomoda já se constitui como aceitação/assimilação da própria verdade. Parte essencial do processo de resgate ou de re apropriação de si mesmo.

Quem se tira a tampa se mostra, em primeiro lugar, para si próprio. A coragem de fazê-lo deve ser maior do que a vergonha de carregar dentro de si aquilo que o faz sofrer. Tal atitude implica em aceitação da própria realidade, da própria verdade. Em última análise, quem busca se conhecer melhor sempre acaba tendo que se reconhecer, basicamente, em sua condição de gente, de pessoa humana, falível, como todos os demais seres humanos. A perfeição é um atributo divino. Ninguém é Deus, nem todo-poderoso.

A grandeza humana se encontra no compartilhar da vida em seu todo. Qualidades e defeitos fazem parte da realidade que nos é comum. O aprendizado da vida só é conseguido mediante a vivência do dia a dia. Problemas emocionais ou existenciais se curam mediante vivências concretas: visíveis, audíveis e tangíveis.

Postado por José Morelli

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário