sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Desvalorizar o que tem

Este é um fenômeno psicológico que pode ser observado com relativa frequência e que não deixa de ter os seus porquês. Trata-se de uma tendência de a pessoa se sentir atraída por coisas e desejar que sejam suas; porém, depois de tê-las adquirido, perder parcial ou totalmente o interesse que antes sentia pelas mesmas. Bastou o objeto passar a ser considerado seu e este perde o encanto com que brilhava ante seus olhos. Um ingrediente de inveja se esconde no fenômeno de sempre achar que aquilo que é dos outros é melhor e mais bonito do que aquilo que lhe é próprio.

Esse mesmo fenômeno também se evidencia com relação a pessoas. Enquanto alguém é apenas desejado ou desejada não existindo ainda nenhum vínculo de pertença, o interesse de conquistá-lo (a) é total. No entanto, depois de a aproximação ter se concretizado ou firmado, aquilo que era um interesse vai se dissolvendo, podendo até mesmo se transformar em repulsa. Marido, mulher, filhos, irmãos, familiares, amigos podem perder encantos aos olhos de quem não se considera merecedor de tê-los como esposo, esposa, pai ou mãe, irmão ou irmã, parente ou amigo. Quem se julga ou se sente inferior aos outros tende a desvalorizar coisas ou pessoas com as quais possui vínculos de pertencimento.

Acreditar em si, apostar em si é o mesmo que ter consistência naquilo que faz, nas decisões que toma. É esta fé que fundamenta a valorização de si mesmo e, por decorrência, do que lhe pertence. Ter alguma coisa ou pessoa sempre implica em compromisso ou responsabilidade. Uma reciprocidade se estabelece entre aquele que tem com aquilo que é seu. Quem não tem um mínimo de capacidade de resistir à frustração e suportar o peso da responsabilidade pelas atitudes que toma, não é capaz de se sentir confortável ao se vincular com coisas ou pessoas.

O consumismo é uma forma de preencher os próprios vazios e insatisfações. Uma ansiedade que precisa encontrar um apoio que atenue a força das ondas, que desestabilizam o sentido da própria segurança/inseguranças, nas incertezas naturais da vida. 

Os casos mais intensos em que se dá esse fenômeno se configuram como neurose. Um círculo vicioso do qual os indivíduos não conseguem se libertar. Consequência lógica de uma carência de auto-estima, de falta de amor para consigo mesmo. Uma incapacidade de aceitação dos próprios limites e da necessidade de saber esperar e não querer ter tudo imediatamente. Na sabedoria do caminhoneiro, uma frase alerta para esta importante lição: “Não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho!”

Postado por José Morelli

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