quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Cumplicidade

O conceito de cumplicidade é aplicado, em larga escala, na área da justiça criminal. Cúmplice é aquele que participa na idealização ou na consecução de uma ação criminosa, realizada por um agente que a perpetra. Alguém pode tornar-se cúmplice colaborando diretamente da ação ou facilitando que esta aconteça, por sua tolerância e/ou permissividade.

Ocorre que ações criminosas, praticadas por mais indivíduos, além de causarem os prejuízos diretos e intencionais às vítimas, não deixam de interferir negativa ou positivamente na dinâmica do relacionamento entre os próprios envolvidos, distanciando-os ou aproximando-os ao ponto de passarem a se constituir como organização criminosa.

Marido e mulher também se cor responsabilizam pelo que fazem ou deixam de fazer; por isso, tornam-se cúmplices um do outro. A mútua utilização dos desvios de caráter e das consequências práticas destes, no cotidiano do casal e da família, os leva a uma cumplicidade. Constroem seus relacionamentos estabelecendo um equilíbrio, no qual os malfeitos são tolerados e mesmo desejados, por causa das vantagens que entendem tirar destes.

A interferência negativa da cumplicidade, no relacionamento entre casais, pode variar muito, dependendo das personalidades envolvidas. Há casais em que a tolerância se dá apenas num sentido: é sempre o mesmo(a) que tolera, procura entender, engole seco, mostrando só e sempre seu lado compreensivo, capaz de tudo aguentar. Deve ser sempre flexível para aceitar o que vem do outro(a) e inflexível para o que vem de si mesmo, não modificando nunca sua maneira de responder àquilo que lhe é imposto pelo outro(a).

Quando um casal estrutura seu comportamento mútuo de uma forma muito rígida, não aceitando modificações, desenvolve um relacionamento neurótico. A ligação que um estabelece com o outro fica alicerçada não no que cada um tem de melhor, mas de pior: no ponto negativo da personalidade de cada um. Equilibram-se na corda bamba e desgastam-se com o medo que têm um do outro.

Quando marido e mulher não temem reconhecer as próprias maldades, explicitando-as através de discussões e brigas constantes, acabam, dessa forma, estruturando um relacionamento doentio. No fundo, talvez achem que é assim que se merecem, por serem mesmo maos e feios, jogando um no outro aquilo que têm dificuldade de reconhecer na própria pessoa.

Postado por José Morelli

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