O conceito de cumplicidade é aplicado, em larga escala, na área da justiça criminal. Cúmplice é aquele que participa na idealização ou na consecução de uma ação criminosa, realizada por um agente que a perpetra. Alguém pode tornar-se cúmplice colaborando diretamente da ação ou facilitando que esta aconteça, por sua tolerância e/ou permissividade.
Ocorre que ações
criminosas, praticadas por mais indivíduos, além de causarem os prejuízos
diretos e intencionais às vítimas, não deixam de interferir negativa ou
positivamente na dinâmica do relacionamento entre os próprios envolvidos,
distanciando-os ou aproximando-os ao ponto de passarem a se constituir como
organização criminosa.
Marido e mulher
também se cor responsabilizam pelo que fazem ou deixam de fazer; por isso,
tornam-se cúmplices um do outro. A mútua utilização dos desvios de caráter e
das consequências práticas destes, no cotidiano do casal e da família, os leva
a uma cumplicidade. Constroem seus relacionamentos estabelecendo um equilíbrio,
no qual os malfeitos são tolerados e mesmo desejados, por causa das vantagens
que entendem tirar destes.
A interferência
negativa da cumplicidade, no relacionamento entre casais, pode variar muito,
dependendo das personalidades envolvidas. Há casais em que a tolerância se dá
apenas num sentido: é sempre o mesmo(a) que tolera, procura entender, engole
seco, mostrando só e sempre seu lado compreensivo, capaz de tudo aguentar. Deve
ser sempre flexível para aceitar o que vem do outro(a) e inflexível para o que
vem de si mesmo, não modificando nunca sua maneira de responder àquilo que lhe
é imposto pelo outro(a).
Quando um casal
estrutura seu comportamento mútuo de uma forma muito rígida, não aceitando
modificações, desenvolve um relacionamento neurótico. A ligação que um
estabelece com o outro fica alicerçada não no que cada um tem de melhor, mas de
pior: no ponto negativo da personalidade de cada um. Equilibram-se na corda
bamba e desgastam-se com o medo que têm um do outro.
Quando marido e
mulher não temem reconhecer as próprias maldades, explicitando-as através de
discussões e brigas constantes, acabam, dessa forma, estruturando um
relacionamento doentio. No fundo, talvez achem que é assim que se merecem, por
serem mesmo maos e feios, jogando um no outro aquilo que têm dificuldade de
reconhecer na própria pessoa.
Postado por José Morelli
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