domingo, 7 de janeiro de 2024

"Estopim curto"

 

         Existem pessoas que se comportam sempre e com quem quer que seja como se tivessem pavio ou estopim curto. Há outras que só agem assim de vez em quando, dependendo do estado emocional que momentaneamente trazem dentro de si mesmas. É o pavio que leva o fogo  até ao explosivo e o faz detonar. Se este for muito curto, o fogo chega rapidamente à bomba sem que haja tempo suficiente para se poder proteger de sua explosão.

Responder dessa forma imediata e intempestiva diante de uma simples palavra ou gesto é consequência de uma disposição preexistente. Pessoas que se posturam, que se posicionam como necessitadas de estarem armadas até os dentes, são aquelas que sempre esperam pelo pior, que não têm tranqüilidade quanto à própria capacidade de lidar com acontecimentos e situações novas. Trazem em si mesmas a sensação de dúvida, desconfiam de que têm dívidas a pagar e temem ser expostas a constrangimentos em qualquer instante. Tudo o que lhes vem na cabeça e no peito sentem como ameaça à sua integridade física ou psicológica. Vivem as situações que lhes surgem de maneira dramática ou mesmo trágica, daí a necessidade de se defenderem como que tendo que trazer sempre muitas pedras nas mãos.

Aqueles que só eventualmente respondem explosivamente, dependendo do estado emocional, não se caracterizam como neuróticos. Trazem, em si mesmos, sensações de sobrecargas. Acham que já fizeram muito e, se tiverem que fazer ainda mais, estarão sendo lesados. Não se sentem com obrigações, mas apenas com direitos. Isto é o que acontece com frequência nos relacionamentos entre pais e filhos e quando a educação não foi assimilada num sentido de equilíbrio.

Todos construímos conceitos em nossas mentes. Construímos conceitos quanto a quem e como somos e quanto aos outros: quem e como estes são ou se comportam. Dependendo do que uma determinada pessoa já nos fez, pelas provas que deu de sua inidoneidade, o conceito que construímos a respeito dela pode ser o de uma pessoa que não nos merece confiança. Consequentemente, criamos frente a ela uma predisposição negativa, que nos faz ficarmos sempre com o pé atrás, prevenidos contra algum mal  que nos venha a fazer. Se, diante de situações que nos assustam, conseguimos contar até 10, antes de tomarmos alguma atitude, isso prova que nosso pavio não é tão curto a ponto de fazer-nos explodir como bombas inoportunamente e inconsequentemente.   

Postado por José Morelli

            

  

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