quinta-feira, 21 de abril de 2022

Lógica do copo cheio

 Basta uma pequena distração, não percebendo que o copo já se encontra esgotado em sua capacidade, e a água transborda, derramando-se e perdendo-se para fora dele. É assim que acontece quando o copo está até as bordas e insistimos em jogar ainda mais água sobre ele. O peso com que a água cai sobre o copo também modifica a dinâmica de comportamento da água. A tendência é de que a água nova expulse a que já se encontrava no copo, substituindo-a gradativamente, independente da qualidade que tenha.

Esta é a lógica a que me refiro. A pergunta que não pode calar, no entanto, é a seguinte: O que temos nós a ver com isso? Basta um pouco de inteligência e o problema de não insistir, em situações semelhantes a essa, poderá ser contornado!

A evidência quanto à condição do copo é mais fácil de ser percebida. Porém, quanto às pessoas, se estas se sentem e se julgam já completas (à semelhança de um copo cheio) no que estão a fim de acolher, vindo dos outros, isso já exige alguma sutileza a mais para que possamos perceber, mesmo que não seja tão fácil disfarçar uma indiferença, principalmente, quando se trata de alguém que sabe esconder a presunção de se julgar autossuficiente. As melhores ideias podem ser desvalorizadas como se nada valessem.

Quanto mais fechada em si mesma, a pessoa presunçosa não consegue abrir-se aos outros. O contrário também pode acontecer e acontece: a pessoa insegura, que não tem a menor confiança em si mesma, pode deixar os conteúdos que lhe são próprios serem jogados para fora e perderem-se, substituindo-os por qualquer bobagem que lhe ofereçam.

Para que isso não aconteça é preciso cuidado de ambos os lados: de quem recebe e de quem oferece. Tentar enfiar goela abaixo, no outro, aquilo que entendemos ser bom para nós, provavelmente, vai encontrar resistência da parte de quem se percebe assim desconsiderado em sua dignidade pessoal.

Postado por José Morelli

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