quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Quem usa cuida

Mais um provérbio expressão de nossa língua portuguesa. Em frase sonora e curta, através dos significados de cada palavra, é transmitida a mensagem: cuidado com aquilo que você “usa” (pensa, costuma falar, escreve, gesticula, reclama), a probabilidade de que você não só “use”, mas também “cuide” (isto é: sinta-se atraído, reprima-se na mesma vontade e até pratique) é grande e significativa! A sabedoria popular construiu provérbios sintetizando através de anos e anos de “janela”, aquilo que observou do comportamento das pessoas. Merece respeito a ideia expressa no “quem usa cuida”, como em muitos outros ditos populares.

A observação científica, encontrada em livros de autores, que pesquisaram ou coletaram pesquisas de outros sobre o comportamento humano, confirma que a hipótese expressa no provérbio citado não só não é absurda, como até possui fundamentação em importantes teorias da personalidade.

Existem maneiras diferentes de “cuidar”: uns cuidam pelo sim, outros cuidam pelo não; uns pela aprovação, outros pela desaprovação. Os primeiros proclamam explícita e implicitamente, por palavras ou ações, os valores positivos, as razões e justificativas do que dizem e fazem. Os segundos negam esses valores, afirmando que eles são negativos ou destrutivos. Lutam contra eles como baluartes na defesa do bem sobre o mal.

A insistência em falar de alguma coisa, sentindo-se muito incomodado com ela, denuncia o compromisso, a ligação de dependência, mesmo que seja por causa da percepção de impotência, de incapacidade de superá-la. Fica a sensação de estar sendo dominado ou correndo o risco de ser dominado, escravizado a qualquer momento. Daí a necessidade de “usar”, que não deixa de ser uma forma também de “cuidar”. Outros ditos populares alertam: “os extremos se tocam” e “quando a esmola é muita, o santo desconfia”. A ciência nasce da vida. A sabedoria não se confunde totalmente com a ciência. Ambas não se excluem, mas se completam para que as pessoas (eu, você) se busquem e se encontrem reconhecendo-se em suas maneiras de ser, de agir e de sentir (sem disfarces ou subterfúgios).

Postado por José Morelli

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