domingo, 5 de setembro de 2021

Reis e rainhas de Festa do Rosário da Penha

Que lá do céu vem descendo uma coroa.

                                                                                 Ela vem do Reino da Glória.

                                                                                          Vamo pegá cum jeito, meu irmão,

                                                                                      essa coroa é de Nossa Senhora.”

Quando da visita da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário do bairro Alto de Pinheiros, de Belo Horizonte - MG, em junho de 2009, quando da missa celebrada pelo Padre Henúbio, antes que ele desse início à oração eucarística, o comandante do Moçambique pediu aos reis que entregassem suas coroas para que fossem colocadas sobre o altar. Terminada a missa, as coroas voltaram a ocupar as cabeças do rei e da rainha.

A simbologia desses gestos demonstra a profundidade do entendimento que a religiosidade popular possui da eucaristia: Jesus Crucificado, tendo em sua cabeça uma coroa de espinhos, por sua morte, entregou-se como Cordeiro Imolado pela redenção de toda a humanidade, elevando-nos a todos e a todas à dignidade de reis e de rainhas, de filhos e de filhas de Deus. Assim como no Calvário, Maria também é presente em toda eucaristia.

Em outro verso, cantado pelos grupos de Moçambique e de Congado, o comandante diz: “Sinhô rei escuta eu vou falar. Dá um passo à frente e vamo caminhar... Pegar a coroa que está no altar”.

No dia de nosso batismo, quando fomos ungidos com o óleo do crisma (o mesmo com que eram ungidos os reis do povo de Israel), o oficiante rezou sobre nós a seguinte oração: “Pelo batismo, Deus todo-poderoso libertou-vos do pecado e vos fez renascer pela água e pelo Espírito Santo. Vós fazeis agora parte do seu povo. Que Ele vos consagre com o óleo santo para que, como membros de Cristo, sacerdote, profeta e rei, continueis no seu povo até a vida eterna”. Participamos da missão de Jesus como sacerdotes, profetas e reis.

Nas páginas 118 e 119 do livro de “Assentamentos da Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França – 1755 a 1780” além dos nomes dos afiliados constam registros dos anos de 1806, 1808 e 1809, onde estão relacionados os irmãos e irmãs que foram eleitos para dirigirem a Irmandade naqueles anos: do rei e da rainha; do juiz e da juíza; dos irmãos que compunham a mesa; do alferes da bandeira e do capitão do mastro”, de acordo com o que vem registrado no livro de minha autoria “Penha de França – Expressões do Rosário”, à página 22.

De acordo com o resumo histórico, contido na lápide existente na Igreja do Rosário da Penha, os irmãos e irmãs da Irmandade nos legaram como testemunho, a Solidariedade no Sofrimento. Em linguagem própria dos escravizados da época, a sabedoria de vida é expressa no seguinte verso: “Sinhá rainha sua casa cheira, cheira cravo e rosa e flor de laranjeira. Me dá a mão que te passo na pinguela. A pinguela é de imbaúba pó ter caruncho nela”. Desde que nos ajudemos mutuamente, mantemo-nos unidos como contas de um mesmo rosário.   

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