É aquele lance do não dar o braço
a torcer, expondo-se na própria vulnerabilidade afetiva. Não dar demonstração da
importância que o outro ou outra realmente possui no pensamento e no coração;
como se as manifestações afetivo-carinhosas do amor denunciassem fraqueza ou
ingenuidade e, por isso, fossem incompatíveis com a realidade dura e “sem
frescuras” da vida adulta, com senso de responsabilidade frente às imperiosas
necessidades da vida em sociedade.
Pouco a pouco, o dia a dia dos
casais tende confrontá-los com realidades sem disfarces. No imperativo de darem
respostas a essas realidades, criam sistemáticas que lhes permitam respostas
eficazes às demandas das mesmas. As atenções a serem prestadas são muitas: a
manutenção da casa, o trabalho de cada um, os negócios, os filhos, os parentes
de um lado e de outro, a vida social... Essas e outras necessidades competem
com a da atenção do casal, através do afeto mútuo, que é, sem dúvida, uma das
manifestações adequadas do amor, embora não seja a única.
Quando não deixam espaço a essa
dedicação, as atitudes tendem a se transformarem. Tornam-se mais frias e
ríspidas, aparecem as críticas que se expressão em queixas e censuras. O
egoísmo cresce e, com ele, o individualismo de um para um canto e outro para
outro canto.
O medo e o amor próprio fazem com
que fiquem disfarçando o tempo todo. Embora exista nos mesmos o propósito de
viverem juntos até o fim da vida, vão deixando o tempo passar, tempo único e
precioso que não tem retorno. Perdem-se, assim, na competição entre o amor
próprio e a manifestação do amor para com o outro, sem se darem conta de que
esta forma de agir é mesmo um “feitiço que se volta contra i o próprio
feiticeiro”.
Não fazendo uso de manifestações
de afeto positivo, o amor não cresce nem se desenvolve a contento. Medíocre e
atrofiado, ele não permite correr riscos: mas, por outro lado, também, não traz
nem satisfação nem alegria de viver. É a vitória do medo, com suas fugas
estratégicas, sobre a coragem de assumir e assumir-se.
Postado por José Morelli
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