terça-feira, 20 de agosto de 2024

Valores subjacentes à história de um bairro

 Nesta semana que entra, inicia-se o mês de junho. Desde 2002, o bairro da Penha tem revivido, em junho, antigas festas, relacionadas à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França. No Livro de Assentamentos de Irmãos dessa Irmandade – 1755 a 1780, além de se encontrarem os nomes dos irmãos e irmãs que nela se inscreveram, há também registros sobre eleições da mesa diretora da instituição. Eram eleitos rei e rainha, capitão do mastro e alferes de bandeira. Até 1935, quando do término da reforma do Santuário, os padres redentoristas que dirigiam a paróquia ainda promoviam festas e rezas do terço na Igreja do Rosário. A partir daquele ano, nos meses de outubro, os terços comunitários passaram a ser rezados no Santuário. As comemorações a Nossa Senhora do Rosário deixaram de ser realizadas tanto na Igreja dos homens pretos como na matriz.

Em 24 de setembro de 1913 foi inaugurado o Grupo Escolar da Penha, depois chamado de Grupo Escolar Santos Dumont. Hoje ele é conhecido como EE Santos Dumont. Os que costumam passar pela Praça Oito de Setembro, no centro comercial do bairro, podem admirar o antigo prédio, tombado pelo Condephaat em 2009. Ele se constitui como a ponta de um fio de uma história quase centenária. Puxando-a podemos penetrar mais profundamente no alcance de acontecimentos relevantes. Descendo no pátio interno, no qual os alunos fazem seu recreio, podemos imaginar antigos penhenses, ainda meninos e meninas, ali tomando lanche e brincando. No início do século passado, São Paulo crescia velozmente, impulsionado pela cafeicultura. O grande número de imigrantes europeus principalmente passava a ocupar espaços mais distantes do centro da cidade. O número de crianças em idade escolar aumentava na Penha. A importância do conhecimento, da educação, da capacidade humana de se desenvolver, da confiança nos jovens, do direito à liberdade está subjacente ao patrimônio histórico que é o prédio do Santos Dumont.

Voltando à Igreja dos Homens Pretos, esta também traz em sua razão de existir valores subjacentes. Nosso historiador, Dr. Sílvio Bomtempi deduziu de seus estudos sobre essa igreja que ela se constitui como testemunho de solidariedade no sofrimento e de esperança na redenção (libertação). Os negros, na época em que construíram a igreja, ainda eram escravizados. Solidariedade, esperança, conhecimento, educação, confiança e outras qualidades humanas são valores que valem sempre.

A Festa de Junho, no Rosário, se constitui como um esforço para enaltecer os valores subjacentes ao patrimônio histórico que é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França. Venha prestigiá-la com sua presença nos diversos eventos constantes da programação.

Postado por José Morelli

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