sábado, 24 de agosto de 2024

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Eram três e meia da madrugada do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. De repente, um ruído estridente de moto-serra rompeu o silêncio, despertando do sono alguns dos moradores da Rua Betari, cujas casas eram mais próximas do local de onde vinha o ruído. Levantando da cama, ainda confuso, fui até janela. Dali pude ver uma Fiorino branca, estacionada junto à calçada, no lado oposto de onde se encontrava a árvore que, por alguma razão ainda desconhecida e à semelhança do Mártir da Independência, havia sido condenada à morte. As portas traseiras da Fiorino e a do lado da calçada permaneciam abertas. Um homem, ao seu lado, gesticulava pedindo para que o outro se apressasse na execução da sentença. O barulho era assustador... algum visinho poderia estar ligando para a polícia, era preciso fazer o serviço o mais rápido possível. Logo a árvore tombou, fazendo romper alguns fios que provocaram faíscas. O executor correu para o veículo que o esperava e entrou pela parte de traz, deixando as portas abertas. O outro sentou-se ao volante, deu a partida e saiu velozmente. Várias pessoas vieram à rua e, um tanto assustadas diante da árvore que jazia no chão, mostravam-se chocadas e surpreendidas com a audácia daqueles que haviam praticado tal delito.

Quando o dia clareou mais pessoas vieram para ver o que havia acontecido. A obstrução da calçada e de metade da via limitava a passagem dos veículos. Alguém comentou que outra árvore, mais acima, também havia sido cortada. Devido ao porte maior e a presença de mais fios à sua volta, esta não foi derrubada. Apenas a condenaram, serrando-lhe pouco mais da metade de seu tronco. Tudo executado de acordo com um inteligente plano. Um destacamento do corpo de bombeiros veio examinar as condições da árvore, para verificar se poderia ou não ser poupada. Veio também a Eletropaulo para recuperar a rede elétrica danificada. Algumas fotos foram tiradas. Ninguém, no entanto, conseguiu anotar o número da chapa da Fiorino branca. Os funcionários da subprefeitura passaram o resto do dia para, com o devido cuidado, derrubarem a árvore que ainda não havia sido derrubada, cortarem os galhos das duas e os recolherem no caminhão. No lugar delas, ficou apenas um vazio.

Postado por José Morelli

  

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