A falta de energia elétrica da última terça-feira veio quebrar a rotina daqueles que, por volta das dez e meia da noite, ainda não tinham ido para a cama dormir e precisavam estar despertos: no trabalho; em casa ou em trânsito pelas ruas da cidade. Depois do primeiro impacto e da constatação de que a escuridão havia escondido a maior parte das habituais referências da mente, esta se viu forçada a acender algumas de suas “luzinhas”, criando alternativas que a ajudassem a dar solução aos problemas, tais como o de desligar os aparelhos das tomadas ou a chave geral de toda moradia, o de encontrar nas gavetas uma vela ou coisa parecida, um fósforo/isqueiro/farolete/celular e, por fim, um radinho de pilha, que possibilitasse ouvir as notícias, podendo se sentir menos desamparados no enfrentamento daquela difícil situação.
A sensação de
conforto e segurança que a luz costuma proporcionar fora substituída pela
sensação de desconforto e de insegurança, associadas à escuridão. E, por não se
tratar de um problema individual, mas coletivo, enquanto uns se mostravam
exteriormente mais corajosos, outros não escondiam o medo que estavam sentindo.
A reação frente a um mesmo estímulo pode ser diferente, dependendo das
circunstâncias, de pessoa para pessoa: a uns o medo pode inquietar, agitar; a
outros pode bloquear, paralisar. No conjunto, quase sempre se tem certo
equilíbrio entre as forças opostas.
A CET e a
Polícia Militar se mobilizaram para auxiliar nos cruzamentos onde o tráfego era
mais intenso e no atendimento às ocorrências. No balanço final, as chamadas policiais
foram mais no sentido de solicitar ajuda do que motivadas por ações criminosas de
bandidos. Um dado curioso: parece que o medo de fazer o errado no escuro deixou
de existir. Praticar o mal sem que ninguém veja não tem mais graça. Seria esta uma
outra consequência da impunidade?
Pelo que foi
possível observar, parece mesmo que esse apagão até despertou um sentido de
maior solidariedade entre as pessoas. Os ouvintes da rádio que enviavam suas informações
para serem transmitidas, não deixavam de recomendar que os ouvintes tomassem o
máximo cuidado, para que não viessem a ser vítimas de criminosos, facilitados
pela escuridão. A verdade parece ser que, quando surge um inimigo comum mais
poderoso, as pessoas sentem a necessidade de se unir para poder combatê-lo.
Postado por José Morelli
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