A cabeça não pára de pensar, girando rapidamente em torno das mesmas idéias. O coração se agita, o que provoca sensações de inquietude e mal estar. O sono não consegue vir e fazer o corpo e a mente descansarem. Pensamentos e sentimentos se misturam. Sobrevém uma ansiedade que incomoda e consome energias corporais e psíquicas. Tudo isso acontece por conta de algo que ainda não aconteceu e que, talvez, possa mesmo nunca vir a acontecer. Expectativas boas ou ruins podem dar origem a esses sofrimentos: uma viagem, o possível risco de um assalto, uma ida ao banco, uma festa de casamento. Por antecipação, há aqueles que sofrem mais e há aqueles que sofrem menos. As razões desses padecimentos podem ser várias.
Na base, está sempre uma insegurança
pessoal. A dúvida, a falta de confiança quanto ao ser ou não ser capaz de
enfrentar, com sucesso, a situação que se aproxima. Em outras palavras: o que
faz sofrer é o medo do fracasso. Outra razão pode ser a necessidade de
valorizar-se através do aumento do valor daquilo que vai fazer, ou daquilo pelo
qual terá que passar. Uma forma sutil de chamar atenção dos outros para si
mesmo, ressaltando o quanto sofre e precisa ser cuidado.
O sofrimento por antecipação pode também
servir como uma estratégia para dividir a
própria angústia. Quanto mais o outro se deixar contaminar, maior será o
alívio daquele que antes se via sofrendo sozinho. Neste caso, trata-se de uma
atitude imatura, de quem se coloca em dependência, necessitando do outro junto
de si, compartilhando de sua angústia.
A sabedoria popular criou o provérbio: “nem
tanto ao mar, nem tanto à terra”. Quem não
vibra com os acontecimentos não “curte” a vida pelo que de emocionante ela pode
proporcionar, não se permitindo sentir-lhe os sabores que tem, sejam eles doces
ou amargos. Porém, quem vivencia os acontecimentos com extremo dramatismo,
ampliando os perigos que os fatos podem representar, antes mesmo destes estarem
acontecendo, transformando-os em quase-tragédias, exagera e adiciona à vida uma
dose elevada de neurose, o que impede de usufruí-la na medida exata, sofrendo
além do necessário e do humanamente suportável.
Postado por José Morelli
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